Por Mateus Magno
Os temas que dominaram os jornais, revistas, portais e redes sociais nas últimas semanas foram as demissões em massa protagonizadas por big techs como Microsoft, Meta, Amazon e Google – e vale lembrar que o ano de 2022 já havia sido desafiador nesse sentido, com diversas startups como QuintoAndar, Loft, Alice, Buser e Loggi realizando lay-offs e deixando o mercado em alerta.
Ainda que esses acontecimentos recentes tenham surpreendido parte da população e dos colaboradores que trabalham nessas empresas, quem acompanha as movimentações do ecossistema de inovação e tecnologia já imaginava que isso poderia ocorrer.
Isso porque nos últimos anos houve um movimento intenso de investimento em startups e no desenvolvimento tecnológico das companhias, gerando assim diversos custos tanto com as ferramentas e tecnologias em si, como inteligência artificial, machine learning, big data, robótica e realidade aumentada, quanto com equipes qualificadas que soubessem utilizá-las e revertê-las na criação de novos produtos e soluções a serem oferecidas para o mercado.
Além disso, a pandemia de covid-19 provocou uma instabilidade econômica global em praticamente todos os setores, o que respingou também no desempenho das big techs e fez com que elas precisassem ser mais cautelosas com a utilização dos seus recursos. A crise sanitária ainda resultou em gastos maiores por parte das instituições para transformar seus negócios e conseguir atender às novas demandas da população, que precisou ficar mais tempo em casa e começou a ter outras necessidades e a consumir de uma forma diferente do que era visto até então.
E não podemos esquecer da guerra da Ucrânia, que dura até hoje e também influenciou nesse cenário, pois desestabilizou as cadeias globais de produção.
Esses foram alguns dos acontecimentos que fizeram com que as empresas fossem obrigadas a rever seus orçamentos, colocar o pé no freio e direcionar o capital para áreas que fizessem mais sentido para os negócios e garantissem o lucro operacional.
Ao levar todo esse panorama em consideração, não é de se espantar que agora elas estejam passando por um período de turbulência e isso esteja decorrendo na demissão em massa de diversos colaboradores qualificados.
Porém, ainda que previsível, não deixa de ser triste e difícil, principalmente para esses profissionais que estão em busca de novas oportunidades em um mercado que, pelo menos nesse momento, após milhares de desligamentos, está ligeiramente saturado.
Mas é fundamental ressaltar que o que está acontecendo agora não é um indicador de desaceleração a longo prazo para o setor de tecnologia – muito pelo contrário: como apontam dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), teremos cerca de 800 mil novas vagas na área até 2025.
É importante entender todos os fatores que levaram ao momento econômico vivido globalmente pelo mercado tech, mas é igualmente imprescindível ter em mente que as melhores soluções são criadas depois dos momentos de crise. Não é possível afirmar com toda certeza o que deve acontecer com as big techs e com o segmento a partir de agora, mas acredito que o mesmo ímpeto que levou essas gigantes a serem quem são hoje é o mesmo fator que vai tirá-las dessa situação – enorme capacidade de se reinventar e superar as dificuldades – e, se não for, outras surgirão no lugar delas e trarão novas oportunidades de crescimento.
Mateus Magno é CEO da Sambatech e Samba Digital