Segundo levantamento, é a primeira vez na história que os filhos têm o Quociente de Inteligência (QI) inferior ao dos pais
Crianças e adolescentes que permanecem por longos períodos em frente às telas podem ter o desenvolvimento neural comprometido. A afirmação é do neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França. Ele também é autor do livro “Fábrica de Cretinos Digitais”, onde conta que smartphones e computadores, possivelmente, são as causas para uma geração de crianças que, pela primeira vez na história, são menos inteligentes do que seus pais.
O neurocientista ainda explica que para analisar o grau de inteligência de uma pessoa existe um teste padrão, frequentemente revisado, que analisa o QI pelo mundo. Na avaliação, feita há gerações, a inteligência sempre seguia em crescimento, ou seja, filhos mais inteligentes que os pais. É a primeira vez que a linha de evolução é decrescente em diversos país pelo mundo. Entre eles estão: Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda e França.
Para o médico ortopedista pediátrico pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC FMUSP), professor universitário e escritor David Nordon a revelação do neurocientista francês é alarmante. “Gravíssimo estarmos diante de uma geração de crianças prejudicas pelo exagero no consumo de tecnologias. Claro que existem outros fatores que podem afetar o desenvolvimento intelectual delas, como precariedade no acesso à saúde, ao sistema educacional, à nutrição, entre outros. No entanto, diante de alguns países onde o fenômeno foi percebido, essas dificilmente seriam as causas mais relevantes”, afirma.
O tempo de tela para criança e adolescentes é um assunto que há algum tempo vem sendo estudado e difundido. Em 2016, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um manual, atualizado recentemente, que orienta sobre a quantidade de exposição aos eletrônicos indicada para o público infantojuvenil.
O documento aponta que crianças com menos de dois anos não devem ter acessos às telas; entre dois e cinco anos, o período máximo é de uma hora diária, com o acompanhamento de um adulto; entre os seis e 10 anos, duas horas, também sob supervisão; a faixa etária de 11 a 18 anos pode usar os equipamentos por duas ou três horas diárias e, jamais, deve passar a noite jogando em eletrônicos.
“As crianças deixaram de brincar ao ar livre, não conhecem jogos lúdicos, poucas tem prazer com a leitura. Sou autor de 15 obras infantojuvenis, acredito que ler é essencial para estimular a imaginação e desenvolver a criatividade. A falta de interesse dos pequenos por livros, por exemplo, é um pouco de responsabilidade dos pais. Como posso exigir que uma criança substitua o telefone celular por um livro se eu, que sou o exemplo, não leio e estou sempre com os olhos e a atenção voltados para a tela? Infelizmente, por conta da vida corrida e para compensar a falta de atenção a solução encontrada foi presentear com celulares e computadores. A pouca convivência familiar e social também afeta o desenvolvimento. Temos uma geração de tela, que usa telefones inteligentes, mas não conhece a si mesma e não interage com o mundo. É lamentável”, finaliza Nordon.
David Nordon é médico ortopedista pediátrico pelo HC FMUSP – Professor da disciplina de Saúde Pública da PUC-SP (Campus Sorocaba) e de ortopedia e medicina preventiva do Estratégia MED (curso preparatório On-line para provas de Residência Médica), Mestrando da USP, Pesquisador do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) e idealizador do Projeto Pequenos Passos, projeto filantrópico de tratamento de Pé Torto Congênito.