De acordo com o Dr. Gleison Marinho Guimarães, médico especialista em pneumologia, a Apneia Obstrutiva do Sono pode trazer complicações não só no trabalho, mas também no dia a dia
O sono tem um papel fundamental no bom desempenho profissional, tendo em vista que atenção, coordenação motora, ritmo mental e, principalmente, o estado de alerta são influenciados pela fadiga. A necessidade de sono varia de pessoa para pessoa e pode levar a consequências tanto na saúde física quanto mental, com distúrbios neurais, cansaço, sonolência, irritabilidade, ansiedade, depressão, problemas sexuais e estresse.
De acordo com o Dr. Gleison Marinho Guimarães, médico especialista em pneumologia formado pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – SBPT, a sonolência do trabalhador pode ocorrer devido ao tempo de sono insuficiente ou a uma maior fragmentação do sono. “No trabalho, esse tipo de situação contribui significantemente para os erros e aumento do risco de acidentes nos mais variados locais, podendo afetar desde operações simples até mais complexas, seja em escritórios, hospitais, plataformas petroquímicas e sistemas de transportes. Alguns estudos, ainda, indicam um maior número de acidentes durante o período noturno em relação ao turno diurno”, relata.
Muitas pesquisas revelam um aumento no risco de acidentes em função do tempo de trabalho. “Esse risco aumentado seria em torno de 9 horas após o início do turno de trabalho. Já com 12 horas de trabalho contínuo este fator aumentaria em dobro, e com 14 horas o fator de risco aumenta em três vezes”, pontua o especialista.
Um levantamento realizado pelo Departamento de Medicina Respiratória da Universidade British Columbia, publicado em dezembro de 2007, mostrou que os pacientes com Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) podem ter impacto negativo sobre sua performance no trabalho. Neste estudo, a escala de Epworth foi aplicada para avaliar a sonolência diurna, utilizando um questionário de limitação para atividade no trabalho. “Em determinado grupo de trabalhadores, evidenciou-se diferença entre apneicos leves e aqueles com apneia do sono grave com relação ao tempo de capacidade administrativa. Ou seja, pacientes com escala de sonolência de Epworth nível 5 têm menos limitações no trabalho quando comparado com pacientes de nível 18 em termos de manejo de tempo, relacionamento interpessoal-mental e produtividade”, declara Dr. Gleison.
A conclusão do estudo revelou que existe uma forte relação entre sonolência excessiva e redução da capacidade laborativa. Principalmente em uma população referenciada como suspeita a ter Apneia do Sono. De acordo com o especialista, existem técnicas capazes de identificar alguns problemas relacionados ao sono. “A realização de screening para sonolência e para distúrbios respiratórios do sono já é algo que está sendo realizado pelas empresas e tem um enorme potencial de identificar uma causa frequente e reversível de perda de produtividade laboral, visto que o tratamento da Apneia do Sono pode melhorar a capacidade de trabalho”, revela.
Outro estudo sobre o assunto foi publicado no European Respiratory Journal, em fevereiro de 2008, comparando pacientes jovens e pessoas de meia idade com Apneia do sono. “O grupo de meia idade apresentou maior risco cardiovascular. A utilização de cuidados de saúde em um período de 5 anos foi maior entre homens jovens e de meia idade com Apneia do Sono do que o grupo de controle, sem apneia. A conclusão do estudo é de que pacientes com apneia do sono têm uma alta taxa de utilização dos serviços de saúde por comorbidade cardiovascular e uso de medicações psicoativas”, relata o médico.
Por último, um estudo publicado em fevereiro de 2008, na “Lung”, mostra o impacto econômico provocado pela Apneia do Sono “Se não tratada, a doença aumenta a utilização de serviços de saúde e está associada à baixa performance laborativa, além de doenças ocupacionais. O impacto econômico da Apneia não tratada envolve bilhões de dólares por ano. A conclusão do artigo sugere que deve ser mais bem divulgado o impacto econômico que a SAOS não tratada pode causar para órgãos governamentais, transportadoras, indústria e companhias de insumos, mostrando os benefícios da terapia adequada”, finaliza Dr. Gleison Marinho Guimarães.
Sobre Gleison Marinho Guimarães
É médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) e também em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Possui certificado de atuação em Medicina do Sono pela SBPT/AMB/CFM, Mestre em Clínica Médica/Pneumologia pela UFRJ, membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS). É também diretor do Instituto do Sono de Macaé (SONNO) e da Clinicar – Clínicas e Vacinas, membro efetivo do Departamento de Sono da SBPT. Atuou como coordenador de Políticas Públicas sobre Drogas no município de Macaé (2013) e pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac), gestora da Cidade Universitária (FeMASS, UFF, UFRJ e UERJ) até 2016. Professor assistente de Pneumologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé.
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