Médico especialista em psicopatologias, Dr. Ariel Lipman explica o que na realidade é esse transtorno, representado no personagem “Cavaleiro da Lua”, da Marvel
Desde o surgimento da arte, é possível classificá-la como uma representação de atividades e sentimentos cotidianos da vida dos seres humanos. Com o desenvolvimento da tecnologia, as possibilidades de meios de interpretação de diferentes vidas aumentaram. Desse modo, o cinema, um dos resultados de progressão tecnológica, nos proporciona experiências imersivas em nossas próprias mentes e, consequentemente, em nossos transtornos.
Entre eles está o Transtorno Dissociativo de Identidade, que é representado no personagem “Сavaleiro da Lua”, a nova minissérie da Marvel. O papel do cavaleiro é interpretado pelo ator Oscar Isaac, que conquistou, desde a estreia do programa, vários fãs. Marc Spector, a identidade por trás do anti-herói, possui uma vida composta de incidentes traumáticos, fato que catalisou em si o desenvolvimento do Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), conhecido popularmente como dupla ou múltiplas personalidades.
Ao saírem do mundo da ficção em sentido ao mundo real, é comum os telespectadores da exibição questionarem-se sobre a possibilidade de um indivíduo realmente possuir dupla ou mais personalidades. A resposta é sim e, aliás, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, essa condição engloba até 1,5% da população do nosso país.
Ariel Lipman, psiquiatra e diretor da Sig Residência Terapêutica, explica que o TDI é exposto de maneira romantizada. “O transtorno acaba se misturando com os super poderes do anti-herói, fato que pode vir a confundir a quem assiste sobre o que de fato é pertinente à condição e ao que é uma fantasia”.
Em outros dramas em que o TDI é representado, como o famoso filme “Fragmentado”, a questão é a mesma: o transtorno é exibido de forma ficcional. O protagonista do longa possui mais de cinco personalidades. Lipman comenta que, na realidade, a psicopatologia é nada mais nada menos que uma característica puramente humana, assim como todos os outros transtornos. “O TDI ainda exige muita pesquisa. Atualmente ainda há pela sociedade dúvidas sobre a sua existência, e, sendo assim, é necessário mais estudo sobre o tema”.
Despersonificação
O psiquiatra esclarece que, no mundo real, existe um transtorno mais comum que pode se aproximar do TDI, conhecido como o transtorno de despersonificação ou desrealização, que tem como sintoma a ansiedade grave. “ Em momentos de tensão isso é muito comum, pois a confusão de personalidade de um indivíduo pode vir a ocorrer quando ele encontra-se exposto a traumas ou estresse intenso”.
Nesses casos, essas pessoas perdem a noção de quem são e podem assumir novos papéis que não lhes cabe. A duração dessa condição depende do caso: pode vir a durar anos ou até mesmo ser crônica. Nessa situação de dissociação, o acompanhamento médico e psíquico é mais que necessário.
Lipman defende um maior esclarecimento entre os dois transtornos, uma vez que o mais comum é o de despersonificação, e a dissociação da realidade é um recurso mental de proteção às experiências vulneráveis. Entretanto, quando acontece com frequência, em graus altíssimos, pode vir a ser um caso de despersonificação, ou seja, o TDI no mundo real. “A maneira como é representado não é pertinente e pode vir a gerar preconceitos sobre quem contrai a despersonificação”. finaliza.
Sobre a Sig
Fundada em 2011, no Rio de Janeiro, a Sig Residência Terapêutica, surgiu com o propósito de trazer um novo olhar em transtornos de saúde mental, com um tratamento humanizado, inclusivo e visando a ressocialização do paciente. Conta com 3 unidades, sendo duas na cidade do Rio de Janeiro e uma em São Paulo. Atualmente é gerida pelos sócios Dr. Ariel Lipman, Dra. Flávia Schueler, Dra. Anna Simões, Elmar Martins e Roberto Szterenzejer.