Antes de tudo, é importante lembrar que uma coisa é a utilização medicinal do CDB da Cannabis sativa, outra é o consumo da maconha destinado à mera sensação de prazer ou diversão. No último caso, estamos falando sobre o uso recreativo da droga, expressão já bem conhecida e presente em diferentes publicações sobre o assunto.
Como acontece com qualquer outra substância semelhante, o uso contínuo e prolongado para fins de lazer tende a levar o indivíduo à dependência. Uma vez que o uso da maconha na adolescência é bastante comum, os pais devem ficar atentos ao comportamento dos filhos. Afinal, os possíveis danos registrados durante essa fase da vida são graves.
Se você se interessou em descobrir quais são as consequências da maconha na saúde dos adolescentes, continue com a gente nas próximas linhas e saiba mais sobre o assunto proposto pelo psicólogo do Hospital Santa Mônica, Antonio Chaves Filho!
Desregulação do sistema nervoso
Ao fumar maconha, o usuário ingere THC (tetrahidrocanabinol), que nada mais é do que o princípio ativo causador da sensação alucinógena vinculada à planta, por ser uma substância psicoativa perturbadora do Sistema Nervoso Central. O problema é que esse elemento compromete a eficácia das sinapses neurais (comunicações estabelecidas entre um neurônio e outro).
De acordo com um levantamento, publicado por cientistas da PUC-RS no periódico Ciências e Cognição, a ação regular da maconha desregula o sistema nervoso. Em doses elevadas, os déficits cognitivos tendem a ser consideráveis, impactando o processo de aprendizagem.
Quadros de psicose
A relação entre consumo de maconha e o risco de desencadeamento de quadros de psicose é bem clara. A constatação é demonstrada por um estudo conduzido por pesquisadores da FMRP – USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e divulgado pela revista Psychological Medicine.
Os pesquisadores brasileiros integram o EU-GEI (European Network of National Schizophrenia Networks Studying Gene-Environment Interactions). Trata-se de um consórcio internacional de estudos científicos.
Segundo a pesquisa, a psicose acontece devido à concentração excessiva de citocinas (proteínas que provocam inflamação) na corrente sanguínea. Isso porque a presença dessas substâncias inflamatórias intensifica os efeitos da maconha no usuário. Repare que a conclusão se aplica tanto a adultos quanto a adolescentes.
Quanto às consequências de um quadro psicótico, as pessoas costumam exibir os seguintes sintomas:
- delírios;
- perda da capacidade cognitiva;
- esfacelamento do senso de realidade;
- audição de vozes imaginárias;
- alucinações.
Outro detalhe importante, extraído do artigo publicado sobre os resultados da pesquisa, é de que há uma linha próxima entre o aparecimento da psicose e eventuais disfunções do sistema imunológico. O estudo aponta que deficiências ligadas aos mecanismos de defesa do organismo ampliam a probabilidade de desenvolvimento do distúrbio.
Redução da atenção e memória
Uma das reações relatadas por usuários de maconha se refere à dificuldade que boa parte deles tem em se lembrar de algumas coisas. Durante muito tempo, isso foi tratado como um mistério. Felizmente, uma pesquisa publicada na revista Nature revelou os motivos por trás dessa perigosa consequência.
Na prática, o consumo da maconha interfere na chamada memória de curto prazo, responsável por armazenar informações por apenas algumas horas. Aqui, a origem do transtorno está associada ao funcionamento das mitocôndrias, uma organela celular que desempenha a função de promover energia.
No cérebro, como mecionamos, o THC se conecta a determinados receptores, os quais também são encontrados nas membranas das mitocôndrias. Como é de se esperar, a presença desse “corpo estranho” atrapalha o funcionamento da respiração celular realizada por essas estruturas.
Isso impacta a energia dos neurônios do hipocampo, área cerebral diretamente atrelada à memória. Dessa forma, ela deixa de desempenhar suas funções com a mesma eficácia registrada em condições ideais.
Olhando mais de perto, os cientistas verificaram que o THC prejudica o deslocamento de cargas de elétrons, algo essencial para a síntese da energia, que diminui. Conforme essa queda acontece, os neurônios do hipocampo têm mais dificuldade para realizarem suas interligações.
Note também que, evidentemente, não há uma paralisação total das atividades neurais. Na prática, a falta de energia suficiente para o cumprimento de todas as atribuições faz com que os neurônios estabeleçam prioridades. Nesse meio tempo, a memória fica em segundo plano.
Toda essa dificuldade também se manifesta em outros neurônios, o que explica o déficit de atenção igualmente comum em muitos usuários de maconha. Junto à fraqueza de memória, a desatenção deixa a pessoa em uma espécie de inércia mental.
Depressão
O consumo de maconha na adolescência também deixa o usuário propenso a desenvolver sintomas graves de depressão. Segundo os resultados de um estudo gerenciado por pesquisadores das universidades de Oxford (Inglaterra) e McGill (Canadá), o risco está vinculado ao surgimento de pensamentos suicidas.
Importante dizer que essa investigação científica resulta da compilação de outras 11 pesquisas. A conclusão foi que a utilização prolongada de maconha no decorrer da adolescência aumenta em até 37% o risco de desenvolvimento de quadros depressivos. Isso, por si só, já chama muito nossa atenção. Mas o dado assustador mesmo foi a ampliação da probabilidade de tentativas de suicídio: 246%.
Cabe a ressalva de que não foi possível especificar qual seria a quantidade e frequência aproximada de maconha que acarretaria essas consequências. Também é fundamental ter em mente que seria necessário definir uma causa direta entre o uso da maconha e o surgimento de quadros de depressão e ideação suicida — o que existe é uma associação entre ambos.
Tais ponderações foram efetuadas pelos próprios pesquisadores e pares da comunidade científica. De qualquer modo, eles garantem que os dados revelam um preocupante cenário quanto à difusão das sequelas da maconha entre diferentes gerações.
Com relação ao motivo dessa associação entre maconha, depressão e suicídio, mais uma vez temos que citar o THC. Geralmente, ele tem sua ação atrelada a uma profunda sensação de bem-estar. Mas o que ele faz mesmo é maximizar a liberação de dopamina, a verdadeira substância do prazer.
Uma vez que o adolescente integra o consumo da droga à sua rotina, a sensação natural de prazer oriunda de situações comuns, como passar no vestibular, perde força. Nessas circunstâncias, ele fica inclinado a recorrer à maconha, que se torna uma espécie de fonte artificial de felicidade diante de um acontecimento especial.
Quanto mais usa a maconha, mais o indivíduo se torna refém desse artifício para obter prazer. Em um médio e longo prazo, a escassez de alegria aumenta e é acompanhada do isolamento social. Quando nem a maconha é mais capaz de suprir o mínimo da sensação de bem-estar desejada, a depressão aparece como forte possibilidade.
Em relação à ansiedade, o mesmo estudo não encontrou agravamentos associados à maconha. Porém, tampouco relatou alguma melhoria de longo prazo atrelada ao uso regular da droga. Trata-se de um tópico que ainda requer um aprofundamento das pesquisas.
Além disso, a incidência do desenvolvimento de esquizofrenia é muito alto, quando a droga é consumida desde a adolescência. Assim, pode levar a quadros de incapacidade laboral ou até intelectual. Uma estimativa é que cerca de 24% dos casos de psicose poderiam ser evitados em países que têm o consumo elevado da droga.
Esses são os principais danos do consumo da maconha na adolescência. A boa notícia é que existe uma abordagem moderna e efetiva na recuperação de dependentes químicos da droga. No Hospital Santa Mônica, você conta com todo o suporte de uma equipe médica multidisciplinar especializada na terapia cognitiva comportamental dedicada a jovens.