O percentual de famílias brasileiras com dívidas passa de 70%, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No levantamento realizado em agosto, um em cada quatro brasileiros não estava conseguindo quitar suas dívidas no prazo e cerca de 20% das famílias tinham mais de 50% da renda mensal comprometida com dívidas. E nesta época do ano, é comum que os brasileiros se “enforquem” ainda mais, cedendo às tradições.
“Mal termina a Black Friday e dezembro bate na porta, com os amigos secretos, confraternizações, viagens em família, compra de presentes, ceias de Natal e Réveillon. São muitos fatores que podem tirar o orçamento da rota e, sem perceber, uma pessoa inicia o novo ano com dívidas que vão comprometer a renda por alguns meses. Se, ao contrário, houver planejamento e cuidado, pode-se virar o ano com maior organização financeira, mais despreocupação e qualidade de vida”, observa Thaíne Clemente, Executiva de Estratégias e Operações da Simplic, fintech de crédito pessoal online.
Thaíne garante que ainda é possível adotar alguns cuidados para não se endividar com as festas de final de ano e fazer um melhor uso da renda desse período, incluindo o 13º salário. Confira:
1 – Priorize dívidas e gastos previstos – inclusive ao usar o 13º
Parece óbvio, mas na prática nem sempre é. O primeiro passo realmente é dar prioridade à quitação de débitos. “A ideia não é se privar de absolutamente tudo e viver apenas para pagar dívidas, mas é preciso cortar supérfluos, reduzir gastos para que eles sejam compatíveis com a renda que se tem e achar um equilíbrio, para manter o foco na quitação dessas pendências”, recomenda a executiva.
Thaíne orienta priorizar o pagamento das dívidas mais altas e que tenham maior taxa de juros. “O ideal é colocar no papel tudo que se está devendo e toda o orçamento disponível, para identificar com mais facilidade por onde começar e o que é possível ser pago – de preferência à vista. É importante também, além de pensar na quitação, prever uma verba para os gastos de início de ano, como uniforme e material escolar e IPTU. Separar uma parte do 13º salário para isso é uma boa saída”.
2 – Defina um “teto” para as festas de final de ano
Em vez de sair comprando decoração, presentes e tendo outros gastos de forma não planejada, faça diferente. Depois de colocar no papel todas as suas dívidas e gastos previstos, você terá uma noção maior do que sobra para o final de ano. Estabeleça um limite de quanto poderá gastar e assuma esse compromisso consigo mesmo.
“Podemos fazer uma ceia mais cara ou mais barata. Podemos presentear 5 ou 10 pessoas. Podemos viajar dentro do próprio Estado ou para outro País. Podemos aceitar todos os convites para confraternizações ou selecionar apenas os que fazem mais sentido. O que deve definir essas escolhas é a nossa capacidade econômica no momento. É importante estabelecer esse teto e respeitá-lo. Isso tornará os primeiros meses de 2022 muito mais tranquilos”, garante a especialista.
3 – Use jogo de cintura para organizar a ceia
“Todo mundo quer economizar. Então qualquer ideia que reduza os gastos das festas de final de ano será bem-vinda por todos. Dá para alcançar uma boa economia substituindo alguns itens do cardápio, já que produtos tradicionais são muito caros nessa época, e fazendo alguns combinados com familiares e amigos”, sugere Thaíne.
A velha prática do “cada um traz um prato e o que vai beber” continua sendo um bom caminho para diminuir o custo da ceia e evitar desperdício. A mesma filosofia serve para os presentes. Em famílias grandes, principalmente, propor um amigo secreto (e um pacto de que ninguém compra nada além do que vai dar ao seu amigo) faz com que cada pessoa gaste com apenas um presente e todo mundo seja presenteado.
4 – Faça lista de presentes e não compre por impulso
O espírito festivo faz as pessoas se animarem mais na hora de comprar e Thaíne alerta que o momento exige atenção redobrada, pois o apelo comercial também é mais forte. “É importante delimitar quais pessoas você realmente precisa ou quer presentear, porque na hora de buscar os presentes, seja em lojas físicas ou na internet, a tentação de levar mais do que o necessário é grande. Em muitos casos, uma lembrança simples, como biscoitos decorados de Natal, é suficiente. É importante se ater à lista e pesquisar bem antes de decidir onde comprar, pois há muita diferença de preço entre as lojas”.
5 – Evite novos parcelamentos
“Se você já tem uma parte de sua renda comprometida com dívidas anteriores, a pior coisa que pode fazer é assumir novas parcelas. Além de se ater ao teto que estipulou para as festas de final de ano, prefira pagamentos à vista e evite a todo custo usar o cheque especial e o crédito rotativo do cartão. Os juros são muito altos e podem fazê-lo perder o controle sem que nem perceba”, alerta a executiva – a taxa média de juros anuais do cartão de crédito no Brasil é de 300%, mas ela pode alcançar um percentual de mais de 800% em alguns casos.
6 – Planeje a viagem da família de forma consciente
O ideal é planejar a viagem de férias com antecedência e ir pagando aos poucos, para não pesar no orçamento. Se você não fez isso, considere a possibilidade de viajar em baixa temporada, se isso for uma opção. “Caso a família só tenha as férias escolares para viajar, ainda assim é possível encontrar destinos mais em conta, compatíveis com a verba que se tem para gastar. Outra saída é abrir mão de viajar no fim de ano e começar agora a organizar a viagem para as férias de julho, pois as chances de encontrar bons pacotes e preços mais em conta são maiores”, afirma Thaíne.
7 – Avalie a conveniência de renegociar as dívidas
Em alguns casos, pode ser interessante transformar todas as dívidas em uma só, com uma parcela que seja “saudável” para a renda da família. “Hoje as facilidades para renegociar dívidas são maiores e os juros certamente serão muito menores do que aqueles trazidos pelo cheque especial e pelo cartão de crédito. O mercado tem interesse nisso, para diminuir a inadimplência e ter crédito rodando e estimulando a economia. Se uma família tem dívidas diversas, com credores diferentes, pode ser conveniente unificá-las junto a um credor único, com uma parcela que não comprometa uma parte tão grande do orçamento mensal. Mas isso deve ser feito como uma forma de quitar as dívidas com mais tranquilidade e não como um meio de fazer sobrar renda para novas dívidas”, enfatiza a especialista.
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