Tomar aquela xícara de café logo de manhã, antes da primeira refeição do dia, já se tornou uma tradição, após uma noite mal dormida ou para despertar da moleza do sono.
O velho hábito dos brasileiros sempre foi forte entre os amantes da bebida porque dá uma sensação de ganhar mais disposição para enfrentar a rotina diária. Apesar de proporcionar tudo isso, esse típico consumo pode ser prejudicial à saúde porque a ingestão desta maneira aumenta o índice de açúcar no sangue e até mesmo evoluir para um quadro de diabetes.
Isso é possível de acontecer, pois o consumo reduz a tolerância à glicose no organismo, aponta um artigo publicado por um grupo de pesquisadores do Centre For Nutrition, Exercise & Metabolism da Universidade de Bath, no Reino Unido. Uma das explicações é o fato de a cafeína inibir o estímulo à liberação de adrenalina. Esse hormônio suprime a ação da insulina, responsável por regular o nível de açúcar na corrente sanguínea.
“Se existe uma resistência à insulina, o organismo pode evoluir para um quadro de diabete melito tipo 2, como também ser um fator de risco para outros problemas de saúde”, alerta Sophie Deram, PHD em Nutrição, autora do best seller “O Peso das Dietas” e especialista em comportamento alimentar.
A nutricionista complementa que tanto a cafeína quanto a privação do sono elevam o cortisol, hormônio que se eleva em situações de estresse, contribui para o sistema imune mas pode aumentar os níveis de glicose.
Fora isso, Sophie também destaca que tomar uma xícara de café também pode ser uma forma de mascarar algo que não vai bem com o corpo. Para ela, quanto maior a indisposição da pessoa, mais forte é a bebida. “Em vez de beber o café para tentar remediar os efeitos de uma noite mal dormida, o melhor é cuidar de si de forma integral e consumi-la por prazer, após, durante o café da manhã ou em outros momentos do dia”, completa.
Detalhes da pesquisa
Publicado no Journal of Nutrition, o artigo contém informações de uma pesquisa feita com objetivo de determinar o consumo de cafeína no controle da glicose após uma noite de sono interrompido, ou mal dormido. O estudo contou com a participação de 29 voluntários que passaram por três diferentes experimentos, aleatoriamente.
Os participantes tiveram uma noite de sono considerada adequada e consumiram uma bebida açucarada, com energia equivalente a um café da manhã. Além disso, os voluntários foram acordados a cada hora pelos pesquisadores e pela manhã receberam o mesmo composto açucarado.
Eles também passaram por interrupções e, ao acordar, consumiram café forte meia hora de beber a bebida açucarada. Após cada um desses experimentos, foram coletadas amostras de sangue. A partir daí, os pesquisadores observaram que uma noite de sono ruim não piorou os níveis de açúcar no sangue em comparação quando os participantes dormiram normalmente.
Por outro lado, a pesquisa constatou que consumir café forte após um sono ruim piorou o índice de glicose no sangue em cerca de 50%, se comparado ao experimento em que houve o sono interrompido sem que bebesse o café ao acordar.
Sobre Sophie Deram: Autora do livro “O Peso das Dietas”, é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.