O estudo revelou que 94% das pacientes ouvidas relataram limitação física e impacto psicossocial devido à doença, um tumor de gordura, que provoca dor e deixa mulheres com pernas e braços grossos desproporcionais, e joelhos sem contorno;
Cerca de 10% das mulheres em todo o mundo têm a doença e a grande maioria não sabe; Isto se deve à falta de informação e conhecimento também da classe médica, que faz o diagnóstico equivocado; A doença foi confundida com obesidade em 75% das pacientes ouvidas no estudo;
O Lipedema é uma doença progressiva causada por acúmulo de gordura em regiões específicas do corpo como braços, pernas e quadris, que provoca sofrimento físico e psicológico e atinge cerca de 10% das mulheres em todo o mundo, segundo dados da Sociedade Espanhola de Medicina Estética (SEME). Foi diagnosticada pela primeira em 1960, mas começou a ter evidência nos últimos três anos.
É confundida muitas vezes com obesidade ou alterações linfáticas, por falta de conhecimento e de informação da classe médica, e atinge quase que exclusivamente o público feminino, pois está associado a um padrão hormonal feminino. Um estudo brasileiro recente que analisou 106 mulheres e traçou o perfil epidemiológico de pacientes com Lipedema revelou que apenas 9% dos médicos consultados estavam aptos a fazer o diagnóstico da doença que pode acometer cerca de 5 milhões de mulheres no Brasil.
A doença, que deverá ser incluída no próximo Código Internacional de Doenças (CID 11) em 2022 – ainda é mal diagnosticada não só no Brasil, mas mundialmente. Ainda segundo o estudo brasileiro, apesar de grande parte das pacientes apresentarem um peso normal, o tumor de gordura chamado Lipedema foi confundido com obesidade em 75% das pacientes.
Como identificar – As principais características do Lipedema, que possui quatro estágios (foto abaixo), são: dores frequentes nas regiões das pernas, quadril, braços e antebraços, que ficam mais grossos e desproporcionais em comparação com o restante do corpo, no tornozelo parece que há um “garrote” e os joelhos perdem o contorno. A mulher pode apresentar hematomas (ficar roxa) por qualquer movimento mais brusco. Isto acontece porque a doença provoca reação inflamatória em células de gordura nestas regiões.
Se eu tenho canela grossa, tenho Lipedema? – É preciso identificar se a mulher tem algumas das características da doença para gerar pontos de atenção. Se há perda de mobilidade, aumento progressivo dessa gordura com o passar dos anos, se há dor em algumas das regiões-foco e dificuldades em eliminar a gordura mesmo com dieta e atividade física, é recomendado procurar ajuda médica, pois pode ser Lipedema.
Um dos exames que facilitam o diagnóstico é a ressonância magnética, em que é possível observar o acúmulo de gordura ao redor dos músculos. O estudo revelou que 94% das pacientes ouvidas relataram limitação física e impacto psicossocial devido à doença.
Mais de cinco mil pessoas por mês procuram por Lipedema no Google. No Brasil, há poucos médicos especialistas no tratamento da doença
Segundo dr. Fábio Kamamoto, um dos poucos especialistas no assunto em todo o Brasil, muitas destas pacientes relatam o início dos sintomas após a menstruação, uso de anticoncepcionais, gravidez e menopausa, momentos em que existem grandes mudanças hormonais.
Segundo o estudo brasileiro, 63% das pacientes revelam histórico familiar da doença, algumas vezes acometendo três gerações: avó, mãe e a paciente, evidenciando a tese de que a doença pode ser genética. O Lipedema não é fatal, mas atrapalha a qualidade de vida da mulher de tal forma, que pode desencadear distúrbios como depressão, obesidade, perda de mobilidade e redução de auto estima.
Tipos de tratamento – Há dois tipos de tratamento para o Lipedema, o clínico e o cirúrgico. O clínico é composto por dieta anti-inflamatória (legumes, carnes, sem sódio e glúten ou bebidas alcóolicas); uso de plataforma vibratória, que diminui o inchaço nas regiões; drenagem linfática para tirar o excesso de líquido; e, por fim, a técnica de taping, aplicada por um fisioterapeuta para melhorar o desconforto. Estas ações amenizam os sintomas, mas não resolvem o problema da gordura nas regiões dos braços, pernas e quadril, pois não extrai as células doentes. Já o cirúrgico é feito com Lipoaspiração e é definitiva, uma vez que é removida esta gordura não volta mais, pois não há multiplicação dessas células. “É possível remover por meio de Lipoaspiração até 7% do peso corpóreo. Ou seja, um paciente de 100 quilos poderia remover até 7 litros de gordura”, comenta dr. Kamamoto.
Centro especializado em Lipedema será criado por um dos médicos pioneiros no tratamento da doença no Brasil para compartilhar conteúdo técnico e de credibilidade
Para o dr. Kamamoto – que está preparando o lançamento de um espaço especializado em Lipedema até o final deste ano para compartilhar conhecimento técnico de qualidade sobre a doença em parceria com diferentes especialistas – antes de tratar o Lipedema, é importante que a mulher melhore sua qualidade de vida, por meio de atividades físicas regulares, mude hábitos que podem ser nocivos como bebidas alcóolicas, por exemplo, ter uma perspectiva positiva da vida e uma boa alimentação.
Associação criada por mulheres que sofrem com a doença luta para que o Lipedema seja reconhecido pela classe médica e para que haja tratamento gratuito no SUS
A ABRALI – Associação Brasileira de Pacientes com Lipedema – foi criada em outubro de 2019 por um grupo de mulheres portadoras da doença e contou com o apoio do dr. Kamamoto. Voltada para a descoberta e divulgação de tratamentos, hoje, a Associação, que hoje reúne mais de 300 mulheres, luta não só para que a doença seja reconhecida pela classe médica, mas em prol de uma causa maior: para que haja tratamento gratuito do Lipedema no SUS e nos convênios médicos. Por ser ainda desconhecida e mal diagnosticada, as mulheres que sofrem com a doença não têm a quem recorrer.