A curva de contágio da Covid-19 no Brasil é dupla: a doença avança mais rapidamente nas áreas sobre a população mais vulnerável. Sem auxílio financeiro, garantia de abastecimento de água potável e enfrentamento à violência doméstica, entre outras medidas, será impossível atingir o grau de isolamento social necessário. “O governo terá de redirecionar recursos do asfalto, alocando-os no morro”, afirma o economista José Paulo Guedes Pinto, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Guedes Pinto é membro do grupo interdisciplinar de pesquisadores Ação Covid-19, que estuda o impacto do avanço da pandemia no Brasil. O grupo criou um modelo e um índice para avaliar, caso a caso, a exposição de cidades e bairros do país, bem como o nível de confinamento necessário para conter a infecção. O Índice de Vulnerabilidade Covid-19 (IVC19) calcula a exposição de um logradouro segundo sua infraestrutura urbana. Já o modelo MD Covid (Modelo de Dispersão da Covid-19) incorpora esse índice e a densidade demográfica, explorando cenários de contenção do vírus. Um simulador disponível na página do grupo (referência ao pé da página) permite simular a situação de cada bairro do país.
O bairro carioca de Copacabana é o caso usado como exemplo, por ter um dos mais altos índices de desenvolvimento humano do Brasil, mas também abrigar quatro comunidades, cuja densidade demográfica chega a quase 26 mil habitantes por km2. Para evitar o colapso do sistema de saúde, os pesquisadores preveem que o confinamento terá de ser aumentado para 80%. “Já nas comunidades, o índice sobe para 92%, o que implica manter praticamente toda a população em casa”, afirma a física Patricia Camargo Magalhães, da Universidade de Bristol. “Com as medidas oficiais no Rio, até agora, o isolamento chegou no máximo a 70%, em abril”, compara.
“Não é fácil conseguir tanto isolamento. Exige medidas integradas, com a cooperação de todas as esferas de poder, movimentos sociais e população”, diz o economista Alexis Saludjian, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em seu website, o grupo apresenta uma compilação de medidas que podem ser tomadas, a partir das demandas de lideranças locais e divididas nos planos federal, estadual, municipal e local. “Até o momento, não temos visto a coordenação necessária. Daqui por diante, ela é indispensável, caso contrário o país vai fracassar e perder a guerra contra a doença”, alerta Saludjian.
O projeto do simulador tem o apoio da UFABC e da Fundação Tide Setúbal, tendo sido premiado em abril no concurso Desafios Covid-19, da Escola Nacional de Administração Pública (Enap).
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