Estudo divulgado no fim de outubro pelo European Heart Journal indica que a ingestão de anti-hipertensivos à noite, antes de dormir, é mais benéfica do que a orientação de tomar os remédios nas primeiras horas da manhã.
A pesquisa observou quase 20 mil hipertensos, divididos em dois grupos: um deles tomava o fármaco pouco antes de ir para a cama e o outro, ao acordar. Ao seguirem estes pacientes por alguns anos, os autores constataram que os que ingeriram medicamento à noite tiveram não só um melhor controle da pressão arterial, mas 45% menos chance de sofrer doenças cardiovasculares. A possibilidade de morte por Acidente Vascular Cerebral foi reduzida em 49%, assim como nos casos de infarto (44%) e insuficiência cardíaca (42%).
Habitualmente, os níveis de pressão caem durante o sono. “Em muitos pacientes, esta redução pode ser menor do que o esperado em comparação com a pressão de dia. Eles podem ter um risco aumentado para a ocorrência de eventos cardiovasculares. Em outras palavras, é muito importante que a pressão arterial durante o sono também esteja controlada”, afirma o Dr. Drager.
A pesquisa é muito importante por revelar como agem os anti-hipertensivos em diferentes períodos do dia, contudo, o especialista ressalta que é preciso ter cautela antes de alterar a prática clínica vigente. “Ainda existem algumas dúvidas a serem respondidas nos próximos anos: os resultados, obtidos na Espanha, podem ser reproduzidos em outros países e regiões do planeta? No caso de um paciente tomar a medição duas vezes ao dia, tem diferença em concentrar o tratamento apenas no período noturno?”, exemplifica o médico.
Outra dúvida gira em torno de uma das medicações usadas: o diurético. “Não houve menção de grandes transtornos por parte dos pacientes que tomaram os diuréticos antes de dormir, mas é possível que alguns deles, principalmente no início do tratamento, possam despertar à noite precisando ir ao banheiro”.
De acordo com o Dr. Drager, os anti-hipertensivos podem ser tomados de uma a quatro vezes ao dia, de acordo com a orientação médica. “Normalmente, há indicação de uso de medicações que tenham longa duração para facilitar o tratamento. Tradicionalmente, as medicações são dadas pela manhã, quando se usa uma vez ao dia, ou pela manhã e à noite, quando se usa duas vezes ao dia”, explica.
Doença multifatorial e perigosa
Conforme explica o presidente da Socesp, Dr. José Francisco Kerr Saraiva, a Hipertensão Arterial Sistêmica é multifatorial: pode ser causada pela genética ou por fatores ambientais, como sedentarismo, obesidade e excesso de consumo de sal. Atualmente, estima-se que mais de 52 milhões de pessoas tenham diagnóstico da doença no Brasil. “A hipertensão, muitas vezes, não tem sintomas. Justamente por isso, se torna bastante perigosa. Caso não haja o acompanhamento adequado, o paciente poderá desenvolver graves doenças cardíacas e Acidente Vascular Cerebral”, diz o cardiologista.
O tratamento, em alguns casos, pode ser realizado sem a utilização de remédios, controlando-se fatores de risco como a redução do consumo de sal e de peso corporal. “A baixa adesão ou falha em manter essas mudanças de hábitos de vida, bem como, a gravidade da doença, podem levar ao tratamento medicamentoso para uma imensa maioria dos pacientes”, afirma Dr. Drager.
Sobre a SOCESP
A Socesp – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1976. Regional da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Departamento de Cardiologia da Associação Paulista de Medicina, conta com cerca de 8 mil sócios. Os principais objetivos da Socesp são contribuir para a atualização dos cardiologistas do estado e difundir o conhecimento científico gerado pela própria Socesp aos profissionais da saúde que atuam na Cardiologia e para a população.