No clima quente da maioria dos tropicais dias de nosso país, o mais relevante patrimônio líquido dos brasileiros é a cerveja. Afinal, estamos entre os maiores consumidores e produtores da bebida, um ícone de nosso paladar. Porém, a identidade do produto com a cultura nacional transcende em muito ao sabor e ao prazer proporcionados por seu consumo moderado.
Há toda uma sinergia com a criatividade, a diversidade étnica e multiplicidade de nossos ritmos e crenças, bem como com o espírito de tolerância e fraternidade dos brasileiros. Somos um dos países com mais marcas e variedades de cervejas. E haja inovação, tanto nos atributos do produto, quanto nas embalagens e estratégias de marketing.
E não existe nada mais democrático, aliado da tolerância e despojado de estrato socioeconômico do que bar de cerveja. Aliás, a publicidade soube captar muito bem todo esse espírito. Atesta o caráter agregador dessa bebida no Brasil, um estudo da Kantar. O trabalho indica que é longe de casa que ocorre a maior parte do consumo: 64% do volume total. São milhões de pessoas se encontrando!
Outra peculiaridade de nosso mercado é que boa parte das inovações surge nas pequenas produtoras e, justiça seja feita, até mesmo nas artesanais. Exemplo disso é a cerveja “Puro Malte”, lançada em 2016 pela Proibida, também a primeira a explorar esse diferencial em suas embalagens e estratégias de marketing. É natural, compreensível e inevitável que boas ideias sejam encampadas por todos.
Assim, é interessante assistir à massificação de conceitos nascidos e desenvolvidos entre as pequenas, a partir de sua apropriação pelas grandes marcas brasileiras, posicionadas, aliás, entre as gigantes do mundo no setor.
Nenhum mal nisso, mas não podemos ignorar outro sentimento dos brasileiros, revelado em recente pesquisa da Mintel: nossos consumidores de cerveja preferem cada vez mais qualidade à quantidade.
As grandes marcas fabricam boas variedades e opções especiais, em paralelo às linhas convencionais, mas há muito sabor e excelência nos produtos dos pequenos fabricantes e dos artesanais, que, assim, atendem às tendências do mercado: 57% dos consumidores afirmam preferir beber pequenas quantidades de cerveja mais cara do que grandes quantidades de menor custo.
Ótimo, pois isso evidencia bom gosto e bom senso no consumo moderado de nosso grande patrimônio líquido. Consumidor assim merece qualidade!
*Alvino Ribeiro é mestre cervejeiro da Cervejaria Proibida.