* Matheus Pedrosa dos Reis
Quando falamos sobre cidades inteligentes e um modelo de modernização do ecossistema social, grande parte das iniciativas ainda passam pelo poder público, que é o legitimo provedor desse tipo de orquestração. Porém, alguns fenômenos tecnológicos e econômicos atuais, conhecidos como camadas “over-the-top”, têm transformado vários outros segmentos (Financeiro, Telecom, mobilidade urbana, entre outros) e chamado muito a atenção de todos os tradicionais setores econômicos devido a seu caráter disruptivo e sua fácil disseminação apoiada pelo acesso à internet e pela mobilidade.
As empresas, por iniciativa própria, estão buscando formas de criarem maneiras mais inteligentes, não só de se comunicarem, mas de executarem questões de ordem prática sem precisarem depender do poder público. Observamos que na ausência do poder público os entes privados e a sociedade tornam legítimas outras aplicações que podem ser úteis enquanto serviço público, com fins comerciais. Ou seja, buscam lacunas de governança e inovação no mercado para entregar soluções de qualidade ao cidadão.
Cloud computing, big data, mobilidade, tecnologia social, todas essas tendências mundiais confluem em algumas questões centrais, introduzir governança e arranjos mais inteligentes a práticas ineficientes no nosso dia a dia. A partir delas surgirão as grandes revoluções às que se propõe a chamada “democracia digital”. O aumento da governança e transparência é apenas um exemplo pelo qual o cidadão vai poder acompanhar em tempo real o que acontece e atuar, com acesso à informação em qualquer lugar do mundo.
A segunda etapa será prover otimização dos sistemas relacionados a gestões públicas em qualquer esfera (municipal, estadual ou federal) ou tamanho. Uma pequena cidade deve, desde já, projetar o seu desenvolvimento de uma forma mais inteligente e sustentável. Cidades maiores têm o grande desafio de modificar toda sua complexidade sem perder a essência que marca cada grande centro urbano. Quando falamos em gestão, ecossistema, movimento social, devolver a escala humana de convivência – que as cidades modernas muitas vezes acabam perdendo – percebemos que as necessidades são as mesmas. Então, precisamos ter um modelo inteligente em nível de negócio para orientar a política pública a fim de que passe a ser exercida dentro desse foco moderno e integrado.
Este programa deve estar voltado ao relacionamento da administração pública com o cidadão, todos os investimentos são direcionados à integração dos sistemas, criação de uma camada de relacionamento estruturado e de painéis de gestão e transparência para a gestão pública. Esta deve ser a essência de um programa de cidades digitais: parcerias com outros entes da sociedade, criar um ecossistema de capacidades integradas que possam entregar soluções de padrões abertos ao poder público.
A economia compartilhada trouxe uma mudança de modelos de negócio e acrescentou um elemento de governança, que permitiu fazer diferente e melhor. O poder público tem milhares de oportunidades de fazer isso, basta estabelecer um diálogo efetivo entre a iniciativa pública e a privada para que isso aconteça mais rapidamente. E se esse diálogo não acontecer, acredito que a própria iniciativa social vá endereçar tais temas de forma independente, pois estas são necessidades globais.
*Matheus Pedrosa dos Reis é diretor de negócios setor público da Algar Tech