O trânsito é o responsável pelo maior número de óbitos de crianças por acidentes no país.
Indiscutivelmente, os pequenos estão muito mais vulneráveis aos perigos do sistema: eles estão desacompanhados de um adulto no trânsito; têm dificuldade de julgar tempo e distância, consequentemente a velocidade dos carros; têm pouca experiência no trânsito; por sua pequena estatura podem não ser vistos pelos motoristas; misturam imaginação com realidade sendo capazes de acreditar que um carro pode parar instantaneamente à sua frente; não distinguem a direção do som; por ter a visão periférica limitada, não conseguem ver se vier um carro pela lateral.
Em 2012 (DATASUS), 1.862 crianças de até 14 anos morreram vítimas do trânsito. Deste total, 31% corresponderam aos atropelamentos, 30% aos acidentes com a criança na condição de passageira do veículo, 9% como passageira de motocicleta, 7% na condição de ciclista e os 23% restantes corresponderam a outros tipos de acidentes de trânsito. Além das mortes, 14.720 crianças foram hospitalizadas vítimas de acidentes de trânsito.
Atropelamentos: entre os acidentes de trânsito com crianças, o atropelamento é o que mais faz vítimas. Segundo esses dados, 584 crianças de até 14 anos morreram e 6.859 foram hospitalizadas vítimas de atropelamentos. Segundo estudo médico – Ribas (2001) – o perfil de atropelamento com crianças é de menino, sete anos, no mesmo bairro de moradia, durante a semana e à tarde.
O ambiente em que transitam as crianças apresenta um grande potencial de risco e poucas condições de segurança para os pedestres. Entre outros fatores que causam o atropelamento, está a ausência de uma campanha educativa para motoristas e pedestres, desrespeito aos limites de velocidade, falta de calçadas, sinalização ineficiente, vias e rodovias projetadas sem os devidos cuidados para pedestres e a falta da cultura do respeito às leis. Além disso, as crianças são mais vulneráveis ao acidente por atropelamento porque estão expostas às condições de tráfego que superam sua capacidade de percepção do risco que estão correndo.
Para prevenir este acidente, os responsáveis devem supervisionar sempre até que a criança demonstre habilidades e capacidade de julgamento do trânsito, segurar sempre na mão da criança, firme, pelo pulso, enquanto estiver caminhando na rua, não permitir a brincadeira em locais que não são adequados como entradas de garagens, quintais sem cerca, ruas ou estacionamentos e acompanhar a criança para identificar o caminho mais seguro e ensinar a completá-lo de forma segura e cuidadosa. Além de dar o bom exemplo, os responsáveis também devem ensinar à criança a olhar para os dois lados, várias vezes, antes de atravessar a rua, nunca correr para a rua para pegar uma bola, o cachorro ou por qualquer outra razão sem antes parar e olhar se vem carro, utilizar a faixa de pedestres sempre que disponível, obedecer aos sinais de trânsito, não atravessar a rua por trás de carros, ônibus, árvores e postes, , esperar que o veículo pare totalmente ao desembarcar do ônibus e aguardar que ele se afaste para atravessar a rua, entre outros.
Criança Como Passageira: em 2012, 547 crianças morreram e 1.386 foram internadas vítimas de acidentes como ocupantes de veículos. Testes de colisão mostram que, num acidente, uma criança de 10 kg, em um carro com velocidade de 50 Km/h, passa a ter 500 kg ao ser lançada para frente. Ou seja, mesmo no colo, uma mãe nunca conseguiria segurar a criança nessa situação ou poderia esmagá-la. A melhor proteção para as crianças no carro é o uso do bebê conforto, cadeirinhas e assentos de elevação, de acordo com o peso delas. Esses itens passaram a ser obrigatórios desde 2010. O cinto de segurança é projetado para pessoas com no mínimo 1,45m de altura e por isso não protege as crianças dos traumas de um acidente. Os tipos de dispositivos e como utilizados podem ser visualizados no Guia da Cadeirinha, disponível em http://criancasegura.org.br/page/guia–‐da–‐cadeirinha–‐1.
A obrigatoriedade do selo do Inmetro nas cadeirinhas fabricadas e comercializadas no Brasil é uma das conquistas em prol da sociedade para a qual contribuiu a CRIANÇA SEGURA. Essa certificação é muito importante, já que uma cadeira de segurança somente recebe o selo após passar pelos testes que garantem sua eficácia no caso de colisão.
Motocicleta: É preciso considerar também os acidentes om crianças transportadas em motocicletas. Mesmo permitido por Lei para crianças a partir dos 7 anos com uso do equipamento de segurança (capacete adequado ao tamanho), o transporte de crianças em motos é de alto risco. A criança está em desenvolvimento, tem estrutura mais frágil, estatura menor e não consegue reconhecer os perigos ou ter reflexos e a agilidade do adulto. Atualmente, existe um projeto de lei para aumentar para 11 anos a idade mínima para o transporte de crianças em motocicletas, mas a CRIANÇA SEGURA somente recomenda a partir dos 18 anos.
Criança Ciclista: Em 2012, 136 crianças morreram e 2.734 foram hospitalizadas vítimas de acidentes no trânsito como ciclistas. Pelo Código de Trânsito Brasileiro, a bicicleta é um veículo, mas para a criança sempre será um brinquedo. Andar de bicicleta, especialmente no trânsito, exige responsabilidade, por isso a criança deve fazê‐lo somente em locais seguros como ciclovias, praças e parques sempre acompanhada de um adulto. Ao andar de bicicleta, skate ou patins, um dos maiores perigos são as lesões na cabeça, que podem levar à morte ou deixar sequelas permanentes. O uso do capacete é fundamental para reduzir as lesões na cabeça, inclusive o traumatismo craniano, além do uso de joelheiras e cotoveleiras.
Os acidentes de trânsito e todos os outros acidentes somados representam a primeira causa de morte e a terceira de hospitalização de crianças de um a 14 anos no Brasil. O acidente é uma séria questão de saúde pública que pode ser solucionada em 90% dos casos com ações de prevenção como a disseminação de informações sobre o tema, mudança de comportamento, políticas públicas que assegurem infraestrutura e ambientes seguros para o lazer, legislação e fiscalização adequadas.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 122.631 crianças foram hospitalizadas vítimas de acidentes e 4.685 morreram (2012). Ao sofrer um acidente grave, a criança pode ter sua vida interrompida ou seu desenvolvimento saudável totalmente comprometido. No mundo, 830 mil crianças morrem, anualmente, vítimas de acidentes, segundo o Relatório Mundial sobre Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes, da Organização Mundial da Saúde e UNICEF, que também relata que milhões de crianças vítimas de acidentes não fatais necessitam de tratamento hospitalar intenso e adquirem sequelas – físicas emocionais e sociais – por toda a vida.
A CRIANÇA SEGURA
A CRIANÇA SEGURA é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, dedicada à prevenção de acidentes com crianças e adolescentes de até 14 anos. A organização atua no Brasil desde 2001 e faz parte da rede internacional Safe Kids Worldwide, fundada em 1987, nos Estados Unidos, pelo cirurgião pediatra Martin Eichelberger.
Para cumprir sua missão, desenvolve ações de Políticas Públicas – incentivo ao debate e participação nas discussões sobre leis ligadas à criança, objetivando inserir a causa na agenda e orçamento público; Comunicação – geração de informação e desenvolvimento de campanhas de mídia para alertar e conscientizar a sociedade sobre a causa e Mobilização – cursos à distância, oficinas presenciais e sistematização de conteúdos para potenciais multiplicadores, como profissionais de educação, saúde, trânsito e outros ligados à infância, promovendo a adoção de comportamentos seguros.
A ONG conta com a contribuição de parceiros institucionais, como Johnson & Johnson e parceiros de programas, como Ministério da Saúde, FEDEX, Anglo American, Ace, Ariel, Downy e Portal Rede Social.