As queimadas têm se tornado um problema ambiental crescente em diversas partes do mundo, especialmente no Brasil. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), desde o início de 2024, já foram registrados cerca de 107 mil focos no país, um aumento de 75% em relação ao ano passado. Só em agosto deste ano, o estado de São Paulo contabilizou 3.482 queimadas. Esse número supera a soma total de focos registrados durante os anos de 2022 e 2023.
Para entender melhor os efeitos dessas queimadas no solo, é essencial considerar os fatores que influenciam sua saúde e funcionalidade. Segundo Fernando Carvalho Oliveira, engenheiro agrônomo e responsável técnico da Tera Ambiental, as consequências das queimadas são inúmeras, profundas e preocupantes, afetando a qualidade das áreas de cultivo de várias maneiras.
Uma das principais consequências das queimadas é a eliminação do repositório orgânico do solo dado pelos restos de culturas contribuindo diretamente para a redução ainda maior da matéria orgânica do solo. Desta forma, benefícios importantes da matéria orgânica ao solo são prejudicados como por exemplo a destruição da estrutura dos agregados do solo, interferindo na sua porosidade e comprometendo sua capacidade de absorção e retenção hídrica. O resultado é maior escoamento superficial e erosão.
Outro impacto significativo é a perda de nutrientes essenciais. O fogo elimina uma grande quantidade de matéria orgânica e nutrientes. O Nitrogênio, é volatilizado pelo calor intenso das queimadas. Essa perda pode levar a uma redução na fertilidade da área cultivável, tornando-a menos produtiva para atividades agrícolas.
As queimadas também afetam a chamada microbiota – comunidade de microrganismos que desempenha papel crucial na decomposição da matéria orgânica e no ciclo de nutrientes. O calor extremo das queimadas pode matar muitos dos microrganismos essenciais para o equilíbrio biológico do solo e para a disponibilidade de nutrientes às plantas. A alteração na microbiota pode levar a maiores dificuldades na recuperação das áreas de plantio.
Com a degradação estrutural e a perda de cobertura vegetal, a erosão torna-se uma preocupação crescente. A ausência de vegetação devido às queimadas aumenta a suscetibilidade à erosão. Sem a vegetação, o vento e a água podem facilmente desgastar a camada superficial do terreno, levando à perdas de nutrientes, entre eles fósforo e potássio, contribuindo para a inertização do solo. Esse processo de erosão não só reduz a qualidade, como compromete a capacidade do solo de sustentar a agricultura a longo prazo.
Várias práticas são sugeridas para mitigar os efeitos das queimadas. A recuperação pode incluir a aplicação de técnicas de cultivo sustentável, como a adubação verde, plantio direto e a adição de matéria orgânica. Fernando observa que o fertilizante orgânico derivado da compostagem de resíduos industriais e agroindustriais, especialmente o lodo de esgoto, é um grande aliado para a recuperação desses solos.
“Esse composto contribui muito para a melhoria das características químicas, físicas e biológicas do solo, possibilitando ganhos de produtividade. Além de ambientalmente sustentáveis e um exemplo de economia circular, o grande potencial desses produtos está em seu conteúdo de matéria orgânica, substâncias húmicas, microrganismos, macro e micronutrientes. Também melhoram a retenção de água e a capacidade de troca catiônica (CTC), que influencia na estabilidade, disponibilidade de nutrientes e no pH do solo”, explica. Além disso, o engenheiro agrônomo enfatiza a importância de políticas públicas e ações comunitárias para prevenir e controlar as queimadas.
O impacto das queimadas no contexto restrito às áreas cultivadas é profundo e multifacetado, afetando desde a estrutura física até a fertilidade e a microbiota do solo. “É primordial adotar medidas eficazes para mitigar esses impactos e promover práticas agrícolas sustentáveis. À medida que enfrentamos desafios ambientais cada vez maiores, é imperativo proteger e recuperar nossas áreas cultiváveis, garantindo sua capacidade de sustentar a agricultura e a vida em nosso planeta”, finaliza o engenheiro agrônomo.