Barretos tem seus 10 dias de glória no mês de agosto. Aproveitando o aniversário da cidade, como é costume em quase todas as cidades do interior de São Paulo, ocorre a maior festa do peão do Brasil, quiçá do mundo, já que alguns turrões endinheirados ainda preferem e veneram o modelo texano nos EUA. Fui nos tempos de colegial, e lembro bem como agradava a todos recinto adentro, independente do estilo musical ou alcoólico. E talvez foi o último suspiro do modelo até então.
Nos últimos 10 anos, o rodeio foi perdendo gradativamente seu espírito e conteúdo tradicional. Passou-se da cultura do caipira e do tropeiro para dar lugar à figura do cowboy, que inclusive contaminou o modo de vestir freqüentadores e competidores. As atrações alternativas como a queima do alho e o consórcio Culturando praticamente agonizam, por mais que seus idealizadores sejam de extrema competência. Milton Santos enquadraria bem essa modificação no Não-Lugar, quando um espaço perde a identidade em prol da demanda do mercado.
A explicação lógica para tal desprezo deve-se ao ‘divertimento imediatista’ dos telespectadores: A entrada, a compra e ingestão desenfreadas de cervejas e destilados, a garganta a mil na hora dos shows e a caça às fêmeas, de forma solitária ou em bandos. E isso está do lado oposto dos verbos ouvir, pensar e respeitar (em qualquer quesito) para apreciar o evento. Rodar nas estradas – a rede hoteleira praticamente se esgota em um perímetro de até 250km em torno da cidade – para tais atrações deve ser entediante, pensam boa parte dos viajantes.
Outro ponto constatado é a elitização da festa, principalmente nos finais de semana: se em 2004, último ano que freqüentei, o preço do ingresso era R$25 e lata R$2,50, os lotes de hoje – ultrapassando o esgotamento – por R$150, com lata a R$5. Se houve um aumento nos últimos 8 anos ( salário, impostos e cachês), como é possível a festa atrair algo em torno de 2 milhões de pessoas? E tome-lhes catracas para peneirar o povo, um aperto sufocante na arena e rezas para não dar vontade de ir ao banheiro.
Ouço de colegas e vejo nos jornais problemas de adequação ao público. Poderiam reverter o lucro em tais setores, contando o menos possível com os cofres públicos municipais. Para não mandar só pedrada, parabenizo os organizadores e artistas participantes pela arrecadação junto ao Hospital do Câncer no primeiro domingo.
Enfim, posso ser execrado, xingado e mal-interpretado pela opinião da festa. Não tenho nada contra rodeios, a exceção da tortura de bois e cavalos. Porém uma descontração envolvendo tumulto, demora e rombo no bolso não pode ser 100% agradável a ninguém. Boa festa e bebedeira moderada a todos.
[author] [author_image timthumb=’on’]http://www.guairanews.com/wp-content/uploads/2012/04/gabrielogata.jpg[/author_image] [author_info]Gabriel Carlos Ogata Nogueira é graduado em História pela Unimep (2008), pós-graduado em História do Brasil e da América no Cenário Geopolítico Contemporâneo pela Unifran (2011) e formando em Geografia pela Unifran (2012). Professor nas escolas Centro Educacional Ana Lelis Santana e Escola de Educação Básica e Educação Profissional Irum Curumim e professor do Cursinho CEAPp – Cursos Preparatórios. Autor do Blog http://autoparapessoas.