Estudo aponta que 84% da população acima dos 60 anos possui uma verdadeira infestação de ácaros Demodex
A blefarite por infestação de ácaros Demodex é foco de diversos estudos científicos. A incidência da infestação por Demodex aumenta com a idade, atingindo cerca de 84% da população aos 60 anos, segundo um estudo recente, publicado no periódico Clinical Ophthalmology.
Infelizmente, os ácaros Demodex estão envolvidos no desenvolvimento de inúmeras doenças oculares, como a blefarite (inflamação crônica das pálpebras); inflamação conjuntival e disfunção da glândula meibomiana (DGM).
Segundo Dra. Tatiana Nahas, oftalmologista especialista em cirurgia periocular, há mais de 1.600 espécies de ácaros conhecidos como Demodex. “Contudo, os que causam problemas oftalmológicos são os Demodex folliculorum e Demodex brevis. O D. folliculorum coloniza os folículos dos cílios e o D. brevis é encontrado nas glândulas sebáceas das pálpebras, chamadas de glândulas de Meibômio”.
Demodex nem sempre causam doenças
Hoje, numerosos estudos destacam o envolvimento de D. folliculorum e D. brevis, como patógenos em diversas síndromes clínicas, classificadas como demodicose palpebral e demodicose facial.
“A maioria das pessoas apresenta ácaros Demodex na face, sem progredir para sintomas clínicos. Entretanto, de acordo com alguns fatores de risco, como genética, baixa imunidade, presença de doenças como rosácea, dermatite seborreica e uso de hormônios, o risco de desenvolver a blefarite aumenta”, explica Dra. Tatiana.
Demodex estão presentes em 7 a cada 10 casos de blefarite
Ambas as espécies de Demodex contribuem para a inflamação das pálpebras, sendo potencialmente responsáveis por até 70% de todos os casos de blefarite.
“Os ácaros D. folliculorum se alimentam de células epiteliais e glandulares, depositando seus ovos nas raízes dos cílios. A infestação, ou seja, a quantidade desses micro-organismos acima do esperado, desencadeia um processo inflamatório que se torna crônico”, aponta a especialista.
Já os ácaros D. brevis costumam se alojar nas glândulas de Meibômio, levando à blefarite devido ao bloqueio dos ductos glandulares. “Essa obstrução afeta também o filme lacrimal, já que o sebo secretado pelas glândulas meibomianas compõe uma das camadas da lágrima. A parte oleosa do filme lacrimal é crucial para manter a superfície ocular lubrificada, para nutri-la e protegê-la contra a ação de micro-organismos e de outros agentes que podem causar lesões na córnea”, diz Dra. Tatiana.
Outra consequência da infestação por ácaros Demodex é que esses patógenos transportam bactérias que também estão envolvidas na blefarite e podem evoluir para casos de terçol de repetição, por exemplo.
Blefarite por infestação de ácaros Demodex pode afetar a córnea
A blefarite também pode prejudicar a córnea, levando a condições como opacidades superficiais, lesões, cicatrizes e, em casos mais graves, perfurações. Outra doença associada à infestação de ácaros Demodex é o olho seco.
De acordo com descobertas recentes, a blefarite por infestação de Demodex foi observada em 60% a 70% dos pacientes diagnosticados com olho seco. Os sintomas da blefarite causada pelos ácaros Demodex muitas vezes se sobrepõem, significativamente, aos do olho seco. Uma das hipóteses é que o comprometimento do filme lacrimal no olho seco poderia criar um ambiente mais favorável para o crescimento desordenado destes micro-organismos.
Novo tratamento para a blefarite por infestação de ácaros Demodex
Apesar de todo o conhecimento sobre os problemas causados pela infestação de ácaros Demodex, o tratamento clínico ainda é um desafio. Isto porque cremes, medicamentos e colírios não atuam diretamente no processo inflamatório. Em outras palavras, é preciso adotar uma abordagem para interromper o “ciclo vicioso” inflamatório que se instala nestes quadros.
“Atualmente, o uso da Luz Intensa Pulsada (IPL) em pacientes com blefarite por infestação de ácaros Demodex tem se mostrado um tratamento eficaz. Os resultados são provenientes do mecanismo de ação da IPL, como redução dos fatores inflamatórios, desobstrução das glândulas de Meibômio e, principalmente, eliminação da infestação dos ácaros Demodex”, ressalta Dra. Tatiana.
A tratamento envolve de 3 a 4 sessões da IPL, com intervalo de 15 dias. Recomenda-se realizar uma sessão anual para manutenção dos resultados.
“O mais importante é que o paciente já sente a melhora dos sintomas logo nas primeiras sessões. Para além disto, os sintomas entram em remissão em longo prazo. A IPL também melhora os sintomas das outras doenças relacionadas à disfunção das glândulas meibomianas, como o olho seco, a meibomite, terçol e calázio de repetição”, finaliza Dra. Tatiana.