Por Dra. Tainah de Almeida, médica dermatologista especialista em rejuvenescimento

Crianças e adolescentes estão cada vez mais imersos no mundo do skincare. Com influência direta das redes sociais, impulsionada por tendências e pelo marketing da indústria de cosméticos, muitos adotam rotinas complexas de cuidados com a pele, recheadas de itens que, na maioria dos casos, sequer são indicados ou até mesmos liberados para a idade. O problema começa quando produtos destinados para a pele adulta entram na rotina de crianças , que possuem a pele mais fina e sensível e a barreira cutânea mais permeável. O uso precoce de certos ativos pode causar irritações, queimaduras, manchas e interferências hormonais, o que é bastante preocupante. Apesar disso, cada vez mais pré-adolescentes, adolescentes e até crianças incluem esses produtos no dia a dia sem qualquer orientação profissional.
A popularização do chamado “Sephora Kids” – termo que define o aumento do consumo de cosméticos por crianças – reflete como o skincare deixou de ser apenas um cuidado com a pele para se tornar uma tendência preocupante nessa idade. Influenciadores mirins mostram suas rotinas de beleza para milhões de seguidores, reforçando precocemente a ideia de que uma pele bonita precisa de inúmeros passos e produtos. Esse comportamento não apenas gera gastos desnecessários, como também pode causar danos à saúde física e impacto na saúde mental. A pressão estética, que já afeta adultos há décadas, agora passa a a afetas crianças e adolescentes com força total. O acesso constante a conteúdos sobre beleza cria a ilusão de que qualquer imperfeição precisa ser corrigida, transformando a relação com a própria imagem em algo desgastante desde cedo, e o uso excessivo de cosméticos e maquiagem vira uma solução compulsória.
Enquanto a indústria da beleza fatura alto com essa nova geração de consumidores, alguns países começam a reagir. Nos Estados Unidos, a Califórnia propôs uma lei para proibir a venda de produtos anti-idade para menores de 18 anos. A medida visa evitar que crianças e adolescentes sejam expostos a ingredientes inapropriados e a pressões desnecessárias. No Brasil, uma pesquisa revelou que 42% dos consumidores começaram a usar produtos de skincare antes dos 18 anos, refletindo uma tendência global. O mercado de cosméticos voltado para o público jovem movimentou US$ 1,8 bilhão em 2021 e deve alcançar US$ 2,9 bilhões até 2027. Além disso, 76% dos entrevistados afirmam utilizar algum produto de cuidado com a pele, sendo que os mais comuns entre os jovens são cremes de limpeza facial (44%), perfumes, batons e gel para cabelos. As redes sociais, por sua vez, são grandes catalisadoras desse fenômeno. Aplicativos de vídeo transformaram rotinas de skincare em entretenimento, muitas vezes sem qualquer embasamento médico. Além disso, filtros e edições de imagem criam padrões irreais, levando jovens a acreditarem que precisam modificar a própria aparência para se encaixar nesses ideais.
Não entendamos da forma errada: o cuidado com a pele é extremamente importante e bons hábitos, como a proteção solar, se constroem desde cedo. Porém, essa rotina de pele deve ser sempre orientada por um profissional e, muito importante, adequada de acordo com a idade. Na infância, o cuidado deve ser simples: limpeza suave, hidratação leve e proteção solar são suficientes para garantir a saúde da pele. Já na adolescência, mais ativos são permitidos e a abordagem de problemas como espinhas e oleosidade pode ser feita com alguns cosméticos e medicamentos de forma segura. Mesmo assim, a rotina ainda deve ser básica e prática, e a maquiagem, ainda que liberada, deve ser evitada.
Dra. Tainah de Almeida é especialista em Dermatologia na Clínica Inovaderm, com vasta experiência na área. Sua formação inclui graduação em Medicina pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Residência Médica em Dermatologia no HRAN – SES/DF e Pós-graduação em Dermatologia Oncológica no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Detentora do título de especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), também realizou Fellowship em Dermatoscopia e Oncologia Cutânea na Skin Cancer Unit do Arcispedale Santa Maria Nuova, na Itália, e capacitação na unidade de Melanoma e Lesões Pigmentadas do Hospital Clínic da Universidade de Barcelona, na Espanha. Ela é reconhecida por sua atuação em dermatologia geral, com foco em estética facial, rejuvenescimento natural e oncologia cutânea.