Especialista afirma que uma mentalidade empreendedora desde a infância pode ajudar a mudar o perfil de quem pensa em ter um negócio próprio

Por muito tempo, o sistema educacional brasileiro orientou-se a formar profissionais para ocupar cargos tradicionais no mercado de trabalho: engenheiros, médicos, professores, funcionários públicos. Empreender, nesse contexto, raramente fazia parte dos planos escolares. No entanto, com as transformações do mundo do trabalho e o aumento do número de pessoas que empreendem por necessidade no Brasil, surge uma nova abordagem pedagógica: desenvolver a mentalidade empreendedora ainda na escola.
A mudança de paradigma é motivada por diversos fatores. Segundo dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2023, realizada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) com apoio do Sebrae, 48% dos empreendedores brasileiros começaram um negócio por necessidade, e não por oportunidade. Nesse cenário, fomentar competências empreendedoras desde a infância se torna estratégico para preparar os futuros profissionais a enfrentar os desafios do mercado.
“Empreender exige muito mais do que uma boa ideia. Envolve planejamento, gestão de recursos, adaptação constante e, principalmente, resiliência. Quando essa preparação começa na escola, conseguimos reduzir o improviso e ampliar o impacto positivo dos negócios no país”, afirma Marlon Freitas, CMO e cofundador da Agilize, startup brasileira do setor contábil. Segundo ele, fomentar uma cultura empreendedora desde cedo pode contribuir para que mais pessoas iniciem negócios de forma estruturada, conscientes dos riscos e preparados para inovar.
A inserção da educação empreendedora nas escolas já é uma realidade em diferentes estados brasileiros. Um dos exemplos é o programa “Educação Empreendedora” do Sebrae, que atua em parceria com redes públicas e privadas de ensino, capacitando professores e gestores escolares. A metodologia busca integrar a cultura do empreendedorismo ao cotidiano escolar, por meio de atividades práticas, desafios e projetos interdisciplinares.
A iniciativa faz parte do programa Cidade Empreendedora, e seu impacto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente ao ODS 4 (educação de qualidade) e ao ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico). Além disso, a abordagem está em sintonia com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê o desenvolvimento de competências como pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas e protagonismo.
Nas universidades, o movimento também vem ganhando força. Além da criação de disciplinas específicas sobre empreendedorismo nos cursos de graduação, instituições de ensino superior em todo o país incentivam iniciativas como a formação de empresas juniores — organizações estudantis sem fins lucrativos que simulam a gestão de uma empresa real —, e a realização de hackathons, maratonas de inovação que conectam estudantes e profissionais na busca por soluções tecnológicas. Essas experiências contribuem diretamente para o desenvolvimento de competências como liderança, trabalho em equipe, resolução de problemas e visão estratégica.
“Empreendedorismo, quando trabalhado em sala de aula, não se resume à criação de empresas. Trata-se de um processo de formação integral, que estimula os estudantes a identificarem problemas reais, proporem soluções inovadoras e desenvolverem habilidades essenciais para qualquer trajetória profissional, incluindo autogestão, comunicação e cooperação”, reforça Freitas.
Incentivo que veio da sala de aula
O próprio Marlon Freitas é um exemplo de como a educação empreendedora pode ser transformadora. Durante a graduação em Computação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ele cursou uma disciplina sobre empreendedorismo. A partir dessa experiência, ingressou em uma empresa júnior da universidade, onde conheceu os colegas que, anos mais tarde, se tornariam seus sócios.
“Minha história é prova de que a educação empreendedora pode abrir caminhos concretos. Foi na sala de aula que tive o primeiro contato com o conceito de empreender de forma consciente. E foi na vivência da empresa júnior que encontrei pessoas que acreditavam nos mesmos valores e objetivos. Do ambiente acadêmico surgiu a parceria que deu origem à Agilize”, conta.
Hoje, mais de uma década depois, Marlon e seus antigos colegas de faculdade comandam uma empresa de contabilidade digital com atuação nacional.
5 dicas para educadores promoverem o empreendedorismo na escola
- Relacionar o empreendedorismo ao cotidiano –Incentivar os alunos a identificarem problemas em seu entorno e sugerirem soluções. A prática pode começar com desafios simples, conectados à realidade local da escola ou da comunidade.
- Explorar as competências da BNCC-Trabalhar conteúdos que estimulem o pensamento crítico, a argumentação e o protagonismo dos estudantes, articulando com temas como sustentabilidade, cidadania e inovação.
3.Criar projetos interdisciplinares-Promover atividades que integrem diferentes disciplinas para resolução de problemas reais, como feiras de soluções, exposições e simulações de negócios.
4.Convidar empreendedores para compartilhar experiências –A presença de profissionais que atuam no mercado pode aproximar os alunos da realidade do empreendedorismo e inspirar novas possibilidades de carreira.
- Utilizar materiais e programas de apoio –Aproveitar conteúdos disponibilizados por instituições como o Sebrae, que oferece formações gratuitas, materiais pedagógicos e premiações que valorizam iniciativas escolares.
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