Por Alex Tabor
A cada ano, o comércio eletrônico consolida-se como uma das principais rotas de crescimento para negócios dos mais diversos setores. No entanto, essa expansão também chama a atenção de fraudadores, que encontram nas transações digitais uma oportunidade para aplicar golpes cada vez mais sofisticados.
Entre os principais tipos de fraudes no e-commerce, o mais comum é o uso de cartões de crédito roubados. Em muitos casos, fraudadores adquirem listas de dados de cartão por meio de brechas de segurança em sites que não seguem as normas de proteção de dados da indústria, ou até por vazamentos físicos, como o armazenamento indevido de informações em estabelecimentos que imprimem informações confidenciais.
Outro tipo de golpe muito recorrente é a chamada “fraude amigável”, em que o próprio titular do cartão ou um familiar realiza uma compra, mas, posteriormente, contesta o valor. Embora essa situação seja, muitas vezes, fruto de um erro genuíno, ela pode causar prejuízos significativos para o comerciante, que acaba perdendo a receita e, em alguns casos, ainda arca com taxas de estorno.
A questão é complexa e o impacto financeiro das fraudes no e-commerce é amplo. Para o lojista, além do prejuízo direto da transação fraudulenta, existem taxas adicionais cobradas pelas bandeiras de cartão e, em situações de alta incidência, o risco de ser descredenciado pelas operadoras de pagamento. Fora isso, há ainda a possibilidade de que o alto índice de transações contestadas possam prejudicar a imagem da empresa. Isso gera um aumento nos custos operacionais e reduz a margem de lucro do negócio, tornando a prevenção de golpes um investimento essencial para qualquer e-commerce. Mais do que perdas financeiras, as fraudes afetam também a reputação da loja e a experiência do cliente.
Diante de um cenário tão desafiador, contar com uma solução antifraude eficiente é fundamental. Historicamente, os sistemas de prevenção no Brasil dependem muito do uso de bases de dados e algoritmos de análise de risco. Empresas especializadas como ClearSale e CyberSource oferecem soluções robustas que usam inteligência artificial para identificar comportamentos suspeitos e analisar padrões de compra, contribuindo, significativamente, para a redução de fraudes. No entanto, é importante lembrar que a personalização desses sistemas pode ser um diferencial crucial. Cada e-commerce possui um perfil de cliente e uma dinâmica de vendas única. Assim, um sistema personalizável permite ajustar parâmetros como regras de verificação e integração de dados históricos para atender a essas particularidades.
A flexibilidade de uma solução antifraude personalizável facilita, por exemplo, identificar riscos com mais precisão em compras de alto valor ou em cenários de risco elevado, como a compra de ingressos para shows próximo à data do evento. No Peixe Urbano, uma plataforma de ofertas e ingressos, adaptamos as regras que evitam golpes para serem mais rigorosas em dias que antecediam shows e eventos. Isso foi essencial para impedir a ação de cambistas que tentavam revender ingressos comprados com cartões clonados. Já para a Baw Clothing, uma marca de vestuário, a personalização do sistema antifraude aumentou a taxa de aprovação em 19% e, no caso da rede Super Nosso, foi possível reduzir os custos com a prevenção de fraudes pela metade.
A utilização de inteligência artificial, aliada à capacidade de personalização, permite que esses sistemas se adaptem, rapidamente, a novos comportamentos dos fraudadores, que, constantemente, mudam suas táticas para evitar a detecção. A revisão manual de transações suspeitas, realizada por especialistas, também contribui para identificar sinais de fraude que um algoritmo pode não captar. Porém, essa camada adicional de segurança, se não for bem ajustada, pode comprometer a experiência do cliente. Um equilíbrio cuidadoso entre segurança e usabilidade é essencial. Medidas de verificação que aumentam a fricção, como contato telefônico para confirmação de dados, são necessárias em alguns casos, mas podem ser ajustadas para minimizar o impacto na jornada do cliente.
No contexto regulatório, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) traz novos desafios para o tratamento de dados pessoais, mas também concede exceções que permitem o uso responsável desses dados em situações de prevenção de fraudes. Essa flexibilidade é essencial para garantir que a segurança não comprometa a operação do e-commerce.
Ao olharmos para o futuro, a tendência é que as tecnologias de prevenção evoluam para incluir o uso de biometria e autenticação por meio de dispositivos móveis, como Apple Pay e Google Pay, que exigem a validação do cartão pelo aplicativo do banco emissor. Essa camada adicional de segurança dificulta o uso de cartões roubados e agrega uma nova dimensão de proteção que pode transformar a maneira como prevenimos fraudes no ambiente digital.
Para o setor de e-commerce, uma solução antifraude personalizável não é apenas uma resposta à crescente complexidade das fraudes digitais. Ela representa um compromisso com a proteção do negócio e a confiança dos consumidores. Quando cada detalhe da experiência de compra é pensado para oferecer segurança sem comprometer a conveniência, o resultado é um ambiente de compras online mais confiável e eficiente, essencial para a sustentabilidade e o crescimento do setor.
Sobre o autor
Alexander Tabor é CEO e co-fundador da Tuna, empresa de orquestração de pagamentos que nasceu da necessidade de processar pagamentos online de forma personalizável e com a melhor eficiência possível no mercado brasileiro. Em 2010, fundou o Peixe Urbano onde atuou, inicialmente, como CTO e depois como CEO, quando a companhia foi adquirida pela gigante chinesa Baidu e depois fez fusão com o Groupon Latam. Antes de fundar a Tuna, o executivo também co-fundou e foi CTO da healthtech Alice.