É preciso de mais estudos e uma padronização mais eficiente para a técnica, ressalta a neuropsicóloga Dra. Leninha Wagner
A cantora Anitta causou polêmica nas redes sociais durante a última semana após divulgar a sua mais recente tatuagem, que é formada por três silhuetas onde a figura central é destacada por um coração vermelho, cercado por um semicírculo de estrelas.
A cantora explicou que o símbolo representa a conexão familiar, representada pela “Constelação Familiar”, uma técnica controversa que, apesar de ser admitida no SUS e considerada por vários especialista como uma pseudociência.
“Nesse símbolo, como se fosse uma árvore genealógica, sou eu no meio, o bonequinho com o coraçãozinho que significa que eu tenho sempre a força do amor dentro de mim. E aí de um lado fica o pai, de outro lado a mãe e as estrelinhas significam a constelação familiar, os outros integrantes da minha família“, explicou Anitta nas redes sociais no último sábado (6).
O que é a Constelação Familiar?
A “Constelação Familiar”, desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger (1925-2019), é uma abordagem terapêutica que busca ajudar as pessoas a resolverem conflitos familiares em sessões que podem ser individuais ou em grupo, onde são recriadas situações familiares, algumas vezes usando atores, para que o paciente possa explorar seus sentimentos e percepções em relação aos membros da família.
Através dessas vivências simbólicas, espera-se que o paciente ganhe uma nova percepção sobre dinâmicas familiares ocultas e descubra como essas dinâmicas influenciam seus relacionamentos e sua própria vida.
Críticas à técnica. Ela é uma pseudociência?
A Constelação Familiar é admitida como método de mediação de conflitos na Justiça e autorizada pelo SUS – Sistema Único de Saúde – como uma prática complementar à psicoterapia.
No entanto, a técnica é fortemente criticada por especialistas,não sendo reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e nem pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que já se posicionou contra o uso do método no judiciário afirmando que não há um padrão para o uso da técnica.
Além disso, a Constelação Familiar é criticada por reforçar estigmas que podem prejudicar o bem-estar psicológico do paciente como reforço de bases patriarcais, colocando o pai/marido como superior necessário da família, relacionando a homossexualidade aos antepassados, apego a vínculos tradicionais de família e constragimento do paciente com as encenações.
Dentre as polêmicas relacionadas a Bert Hellinger, fundador da terapia, está a visão sobre vítimas de incesto, ensinando que elas devem aceitar o contato sexual.
“A solução para a criança é que a criança diga para a mãe: ‘Mamãe, por ti, eu o faço com prazer’, e para o pai: ‘Papai, pela mamãe, eu o faço com prazer’”, “explica” Hellinger.
O que falta à técnica?
De acordo com a neuropsicóloga Dra. Leninha Wagner, toda terapia utilizada para tratar doenças em centros médicos devem ter uma boa base científica e reconhecimento de eficácia.
“Todos são livres para buscar terapias alternativas ou religiosas nas quais acreditem, mas sempre de forma complementar, e evitando técnicas que possam, na verdade, prejudicar o tratamento central da condição”.
“Toda técnica usada em centros médicos para o tratamento de alguma condição psicológica precisa ter sólidas bases científicas e reconhecimento de sua eficácia dos órgãos responsáveis, é preciso sempre deixar muito bem delimitado o que é ciência e o que não é”.
“Eu particularmente não uso e nem indico a Constelação Familiar. A ciência em si, já deve ser sempre observada com olhos críticos, já as técnicas sem respaldo científico precisam de ainda mais cautela”, reforça a Dra. Leninha Wagner.
Sobre a Dra. Leninha Wagner
Dra. Leninha Wagner é PhD em neurociências, possui formação em neuropsicologia, é Doutora em psicologia, Mestre em psicanálise e Perita Judicial em Psicologia, fundadora da Substância Singular Psicologia Clínica, onde atende pacientes com necessidades psicológicas e emocionais, também atua na área de psicometria realizando testagem de QI, é palestrante e realiza consultorias particulares como mediadora de conflitos organizacionais