Presidente do Ciesp, Rafael Cervone, destacou preocupação com possível aumento da alíquota do IVA devido à exceções na Reforma Tributária
Cerca de 130 empresários participaram na manhã desta quinta (29) do evento CNN Talks “O Futuro da Indústria na Visão do Setor Privado”, organizado em conjunto pelas entidades representativas da indústria: Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI. O encontro que aconteceu no Solar Fábio Prado em São Paulo, foi mediado pelo analista de economia da rede CNN Brasil Fernando Nakagawa e faz parte de uma série de seis eventos para discutir a indústria no país, com a meta de fomentar um debate verdadeiro, profundo e eclético entre o setor e a sociedade.
O evento colocou em pauta temas como “Potencialidades da Indústria Brasileira”, “Políticas Públicas para o Setor Industrial” e o recém-lançado “Plano Nova Indústria Brasil”. Durante a abertura do evento, o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, defendeu uma “educação transformadora” para o país e ressaltou a importância de o Brasil ter um projeto de longo prazo para o setor industrial. Ele avalia que o país tem perdido “janelas de oportunidade” ao não trabalhar esta pauta com o engajamento necessário. “Estamos perdendo janelas de oportunidade e precisamos mudar o nosso mindset, precisamos ser mais ousados. Não podemos nos contentar com a ideia de que o ‘ótimo é inimigo do bom’. Olha a nossa reforma tributária, que devido aos ‘puxadinhos’, agora já tem previsão de uma alíquota beirando os 30%”, disse Cervone. Cálculos baseados nas alterações propostas pela Câmara dos Deputados durante a regulamentação da reforma apontam para um aumento no Imposto Sobre Valor Agregado (IVA), que poderá chegar a 27,97%, tornando o Brasil o país com o imposto sobre consumo mais alto do mundo numa lista de 170 países que usam taxação parecida. O texto original da reforma previa uma alíquota de 26,5%. “A indústria tem feito muito, mas isso já não é o suficiente”, afirmou.
No mesmo sentido, o diretor de desenvolvimento industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Rafael Lucchesi, disse que a falta de discussão sobre a indústria no país representa uma inércia que aumenta o empobrecimento da população e o processo de desindustrialização. “Temos que pensar com mais ousadia, mas sempre fazendo a lição de casa, que é a de refletir sobre a taxa de juros e sobre a alta carga tributária para, sobretudo pela indústria”, disse Lucchesi.
O representante da CNI ainda destacou que o Brasil tem spread bancário de 31%, sendo que há estudos apontando que este indicador poderia estar em 8%. Ele ainda comparou o Brasil com o Peru, país vizinho que tem spread de 7%. O spread bancário é a diferença entre a taxa de juros que um banco paga aos seus clientes pelos recursos que capta, como em poupanças ou investimentos, e a taxa de juros que ele cobra dos mesmos clientes ao emprestar dinheiro em linhas de financiamento, por exemplo.
Evento foi organizado pela Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI para discutir a pauta da indústria no país | imagem: assessoria de imprensa do Ciesp
Perenidade e combustível verde
Já o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Marco Saltini, evidenciou o fato de o Brasil ter um potencial grande de desenvolvimento na área de biocombustíveis. De acordo com ela, é inevitável lembrar da perenidade do Plano Safra, que funciona bem para o agro desde 2003. “Concordo com o Cervone, quando falamos na necessidade de previsibilidade e continuidade nas políticas. É fundamental que o setor industrial seja ouvido para que a gente possa fazer uma transformação de longo prazo”, disse Saltini.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes, usou dados levantados pelo setor de economia para dizer que o Brasil “não terá futuro”, se valer mais a pena viver de renda do que produzir. Ele também destacou o tema da educação e do potencial para a transição energética que o país tem. “O Brasil pode ser a maior potência de produção de energia verde do planeta. Nós temos hoje uma matriz energética com 200 gigabytes, das quais cerca de 50 gigabytes vêm da energia eólica e solar e nós mal começamos a arranhar o potencial de solar e eólica que temos no país”, disse Gomes.