Sucesso de brasileiros nos Jogos Olímpicos sempre aumenta o interesse das pessoas por práticas esportivas e pode dar luz às organizações que trabalham com esportes em regiões carentes
Com o início dos Jogos Olímpicos, surgem inúmeras histórias de atletas brasileiros que eram desconhecidos, se destacaram, conquistaram medalhas e viraram referências. Dentre eles, é possível identificar muitos nomes que começaram suas carreiras em projetos sociais que trabalham com esporte e que atuam em comunidades e/ou cidades pequenas que, por muitas vezes, não recebem verba o suficiente para atuarem como gostariam.
Segundo o Mapa das Organizações da Sociedade Civil, 40% das OSCs brasileiras estão distribuídas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Mas Gigi Favacho, gerente da Rede CT – Capacitação e Transformação – rede de desenvolvimento de empreendedores sociais esportivos para uso de leis de incentivo, faz um alerta importante: “Quando analisamos o fato de as três regiões juntas representaram apenas 14% de todo o recurso movimentado pela Lei Federal de Incentivo ao Esporte, vemos o quanto esses projetos fazem com o baixo investimento que recebem. Eles formam não apenas atletas, mas, principalmente, agentes de transformação”.
O trabalho além do esporte
“O esporte é ferramenta de inclusão e oferece novos rumos na vida de crianças e adolescentes. É um trabalho árduo para nós, que trabalhamos com isso, porque as instituições de base comunitária normalmente não têm acesso a essas informações, como formatar o projeto. Longe dos grandes centros e capitais recebemos menos olhares, mesmo”, desabafa Josué Barata, do Movimento Social Cultural Cores do Amanhã, de Pernambuco, participante da mentoria da Rede CT.
O programa organizado pela rede visa a descentralização de recursos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte do Sul e Sudeste para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por meio da capacitação e mentoria de OSCs para conseguirem ter seus projetos aprovados para captarem recursos e promoverem a transformação social em suas comunidades.
“Conseguimos, por meio de parceria, reformar a quadra da comunidade e, com isso, tivemos oficinas lotadas, break bombado sempre, com muitas crianças. O Cores nasceu do movimento Hip Hop. Como os fundadores são grafiteiros, sempre estivemos envolvidos com todos esses elementos e o break foi uma das oficinas que criamos e nunca quisemos deixar morrer”, diz Josué, sobre o trabalho da OSC e o breakdance, nova modalidade olímpica.
Influência dos Jogos Olímpicos
Conforme pesquisa realizada pela Rede CT com as mais de 300 OSCs das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, 54% estão localizadas no interior de seus estados e 68,3% nunca trabalharam com mecanismos de leis de incentivo fiscal. Uma das formas encontradas por parte dessas para chamar atenção é por meio do desempenho dos atletas brasileiros na competição.
Ismael Pinheiro, do Instituto Educa Surf Social, do Ceará, também participante da Rede CT, fala que “o sucesso dos brasileiros nas olimpíadas nas modalidades de skate e surfe aumentou significativamente o interesse por esses esportes. Esse aumento na visibilidade pode estimular a prática dessas modalidades, atrair investimentos e parcerias para o desenvolvimento do esporte e fomentar as esferas público e privada a trazer olhares e mudanças no cenário dos projetos sociais no Brasil”.
”Os Jogos Olímpicos atraem os olhares do mundo inteiro. Diversos atletas que chegam lá começaram em projetos sociais e em péssimas condições, mas o Brasil continua a produzir competidores de alto nível. Com o aumento de investimentos, maior visibilidade para organizações que realizam esse trabalho, imagine quantos exemplos podemos ver no futuro, quantas pessoas serão impactadas e quantos jovens terão suas vidas modificadas. Essa mudança tem que ser feita e já! ”, finaliza Gigi.
Sobre a Rede CT
A Rede CT – Capacitação e Transformação, é um projeto que, com apoio do Instituto Futebol de Rua, Nexo Investimento Social e Rede Igapó, e patrocínio do Itaú, capacita empreendedores sociais esportivos para uso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Com a expectativa de capacitar 300 OSCs e mentorear outras 120, a Rede CT visa capacitar representantes dessas organizações para auxiliar em programas de apoio à prática esportiva como agente de transformação social nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, com foco em cidades no interior dos estados e pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.