Por Jaqueline Falcão para o Hospital Santa Mônica
Alguns antidepressivos podem afetar o desejo sexual de pessoas em tratamento da depressão. Por outro lado, alguns transtornos psiquiátricos, como o transtorno bipolar, podem levar à desinibição e até vício por sexo
Os antidepressivos são amplamente utilizados, mas podem ter efeitos colaterais significativos na libido dos pacientes em tratamento da depressão. Entre os medicamentos mais comuns estão os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) e os inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina (IRSN). Esses medicamentos podem afetar a libido, mas é importante entender que a depressão por si só já pode causar apatia, desinteresse e alterações do sono, prejudicando a atividade sexual, explica a psiquiatra Dra. Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.
“Embora muitos pacientes experimentem disfunção sexual induzida por antidepressivos, a melhora da depressão pode levar a uma recuperação do desejo e da satisfação sexuais”, afirma a psiquiatra.
A disfunção sexual causada por antidepressivos ocorre devido a vários mecanismos que alteram o equilíbrio dos neurotransmissores e dos hormônios sexuais. A sedação, o aumento da prolactina que reduz a testosterona e a alteração nos níveis de serotonina e dopamina são alguns dos processos envolvidos. Medicamentos que aumentam a serotonina tendem a diminuir o desejo sexual, enquanto aqueles que aumentam a dopamina podem melhorar a função sexual. As diferenças entre os antidepressivos quanto aos efeitos sexuais adversos se devem aos distintos mecanismos de ação sobre os neurotransmissores.
“O desejo sexual, a ejaculação e o orgasmo são prejudicados por maior concentração de serotonina. A dopamina, por outro lado, é um neurotransmissor que favorece a função sexual. A noradrenalina intervém na manutenção da atividade sexual, por sua ação na ereção (no homem) e na lubrificação (na mulher)”, explica a Dra. Carmita.
Exarcebação do comportamento sexual
Além da disfunção sexual, alguns transtornos psiquiátricos, como o transtorno bipolar, podem levar à exacerbação do comportamento sexual. Episódios de mania ou hipomania podem causar desinibição sexual e aumento do desejo, expondo os pacientes a riscos como violência sexual, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e gravidez não planejada. A dependência sexual, embora menos comum, também é uma condição grave que interfere significativamente na vida do indivíduo, tornando difícil o controle das atividades sexuais.
“Além dessas condições, há casos de “dependência, vício por sexo”: a pessoa não consegue se controlar, necessitando de várias atividades sexuais num curto espaço de tempo, atividades essas que desgastam e ocupam a maior parte da vida, impedindo que essa pessoa possa trabalhar, dormir, comer, pois privilegia o sexo mais que tudo. É importante que os familiares e o médico levem em conta a maior vulnerabilidade e o grande impacto dos quadros psiquiátricos graves sobre a vida sexual dos pacientes, e que o tratamento psiquiátrico seja instituído, recomendando-se também a utilização de métodos contraceptivos e vacinas (em especial hepatite B e HPV) , além da profilaxia pré e pós-exposição ao vírus HIV”, alerta a médica.
Mas quais são as opções para pacientes que experimentam redução da libido devido aos medicamentos antidepressivos? Dra Carmita esclarece que antidepressivos estão associados à disfunção sexual, resultando em atitude negativa em relação ao tratamento e não adesão. No entanto, a medicação pode melhorar o funcionamento sexual (melhora a frequência dos pensamentos sexuais e do desejo sexual), assim que a depressão começa a regredir.
“Para pacientes que experimentam redução da libido devido aos antidepressivos, existem algumas opções. Pode-se considerar a troca do medicamento por outro com menor impacto na libido ou a adição de um fármaco que neutralize os efeitos adversos. No entanto, é crucial que o tratamento da depressão não seja comprometido. Intervenções psicossociais, como psicoterapia e educação sexual, também desempenham um papel importante na restauração da função sexual. Estilo de vida saudável, apoio psicológico e comunicação aberta com os parceiros são fundamentais para gerenciar as mudanças na libido e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, pontua ela.
Várias causas podem estar por trás das queixas de disfunção sexual, incluindo doenças físicas e psiquiátricas, alterações metabólicas, problemas nos relacionamentos e efeitos adversos de medicamentos e substâncias. Além disso, contextos de vida específicos, como dificuldades financeiras, podem levar a problemas sexuais mesmo sem uma condição patológica subjacente. Outra possibilidade é que a dificuldade sexual possa resultar de uma discrepância no desejo sexual entre os parceiros, mesmo que nenhum deles tenha uma disfunção. Sem uma delimitação clara do problema, as intervenções podem ser precipitadas e potencialmente prejudiciais.
Como reverter
Primeiro, é importante avaliar se a função sexual já estava comprometida antes do uso de medicamentos. Essa avaliação ajuda a identificar casos de disfunção sexual prévia, que são independentes da medicação. O paciente deve estar atento a esse aspecto e tratar a causa subjacente.
Ao receber a prescrição para tratar a depressão, o paciente deve estar ciente de que o tratamento não pode ser interrompido irregularmente e que a prioridade deve ser a recuperação da saúde mental, não a preservação da atividade sexual. Com essa orientação, a adesão ao tratamento tende a ser maior.
Segundo a psiquiatra, intervenções psicossociais, como aconselhamento, terapia de casal ou de família, psicoterapia e educação sexual podem ser complementares às farmacológicas e também desempenham papel importante para a restauração da função sexual. Além disso, um estilo de vida saudável (alimentação balanceada, sono suficiente, exercícios físicos regulares, administração do estresse diário, uso moderado de bebidas alcoólicas) , empenhar-se no bem-estar e manter a saúde geral também são estratégias que podem ajudar.
No caso de disfunção sexual induzida pelo uso de antidepressivos, as abordagens são: trocar o medicamento por outro que seja menos prejudicial à libido ou adicionar outro fármaco que neutralize o efeito adverso do vigente sobre a função sexual. “No entanto, não se deve comprometer o tratamento da condição psiquiátrica em função dessas estratégias. Quanto antes o paciente superar a doença, mais cedo se recuperará da dificuldade sexual”, afirma a Dra. Carmita. As intervenções psicossociais – ou seja, psicoeducação, psicoterapia de apoio e reabilitação psiquiátrica – também desempenham papel importante para a restauração da função sexual.
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