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Medicina reprodutiva: Congelamento de embriões cresce no Brasil e é alternativa para o futuro

por Marcos Sampaio

Image by freepik

Os jovens estão cada vez mais adiando a decisão de ter filhos, motivados por diversas razões. Muitos homens e mulheres optam por postergar a paternidade e maternidade até alcançarem estabilidade na carreira, adquirirem a casa própria ou explorarem outras experiências pessoais. Paralelamente a essa tendência, há também um aumento no número de pessoas que optam por não ter filhos.

No entanto, na prática clínica diária, assistimos a uma outra realidade: muitos casais já mais velhos querendo ter filhos. Fato é que mulheres das gerações Y ou Millennials (1981 – 1996) e da Z (1997 – 2010) , ou seja, com menos de 35 ou mais de 35 anos, estão demorando para ter filhos e optando, cada vez mais, por congelar óvulos.

Relatório mais recente do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de junho de 2024, mostra que entre 2020 e 2023 o número de congelamento de embriões cresceu cerca de 33%. Em 2020, foram congelados 86.833 embriões; no ano passado, 115.318. O número total de embriões congelados no Brasil atingiu o número de 417.811. Minas Gerais é o segundo estado onde há maior número de material congelado: 30.951 embriões, atrás de São Paulo, com 222.138. A região sudeste concentra 68,79% (287.432) de todos os embriões congelados no Brasil.

O SisEmbrio reúne informações de 201 centros de reprodução humana assistida (CRHAs) no Brasil – e Belo Horizonte está em segundo lugar com 12 centros, juntamente com Rio de Janeiro, atrás de São Paulo com 31 centros. Nosso estado, são 26 centros, no total.

Do total dos 417.811 embriões congelados, 260.964 são de mulheres acima de 35 anos; e 156.847, com menos de 35. O número de pacientes que congelaram óvulos, no ano de 2023, foi de 13.919, sendo que 4.347 mulheres possuíam menos de 35 anos e 9.572 mais de 35 anos. Um total de 111.413 óvulos foram congelados dessas pacientes. Houve um aumento, de quase 50%, no número de casos de congelamento de óvulos, em relação ao ano de 2020, no qual 7.872 pacientes criopreservaram seus gametas. A reserva segura – tanto de óvulos, espermatozoides quanto de embriões – dá às mulheres, homens e aos casais a possibilidade de planejar com segurança e tranquilidade quando desenvolver a gestação, levando em conta as circunstâncias individuais de cada um. As taxas de intercorrência no procedimento do congelamento são menores que 5%.

O óvulo é a célula mais nobre que existe para o ser humano e seu congelamento funciona como uma máquina do tempo. Um ovo congelado não é afetado pelo tempo e como útero não sofre ou sofre muito pouco com a idade, torna-se possível postergar essa decisão. Portanto quanto mais cedo a mulher congelar os óvulos, melhor.

Nos últimos dois anos, na clínica Origen BH, os procedimentos de congelamento tiveram aumento aproximado de 30%. E acredito que esta seja uma tendência global. Porque homens e mulheres mais jovens, além de estarem em busca de vivenciar experiências de vida e transitar pelas variadas oportunidades profissionais antes de ter filhos, ainda querem ter a certeza de que o(a) parceiro(a) escolhido(a) para procriar terá condições de compartilhar a jornada diária da educação.

Criado nos idos de 1980 e com ganho de maior visibilidade e melhoria de técnicas nas décadas seguintes, o congelamento de gametas femininos e masculinos abriu novas possibilidades para o adiamento da decisão de ter filhos. Ressalto que sobre este assunto sempre importante que mulheres e homens devem sempre se lembrar que diferentemente deles, que mantêm a carga de espermatozoides aptos à fecundação por muito mais tempo, elas nascem com um ‘estoque’ de óvulos predeterminado e, ao longo da vida, podem apresentar problemas nos ovários, como a menopausa precoce, a síndrome dos ovários policísticos ou a endometriose. Essas doenças podem dificultar a capacidade de engravidar.

No entanto, com os avanços e a inovação na medicina reprodutiva, as técnicas de criopreservação dos gametas estão muito eficazes – sendo a mais empregada atualmente a vitrificação (congelamento ultrarrápido). Após o congelamento de espermatozoides e óvulos, homem e mulher poderão decidir quando gostariam de descongelá-los para uma futura fertilização in vitro. Assim, mesmo ao envelhecer, ambos terão seus materiais preservados, com a ‘idade’ em que foram congelados.

E as pessoas sempre têm a curiosidade de saber se há idade ideal para congelar óvulos, espermatozoides e embriões. A resposta é: quanto mais jovem, melhor. Os espermatozoides também ‘envelhecem’ e merecem cuidado. Então, sempre digo que o ideal para o congelamento de gametas é até os 35 anos. A partir dessa idade, o congelamento pode ser feito, mas as taxas de gravidez começam a diminuir para as mulheres, e a qualidade dos seus óvulos também.

Como médico e especialista da reprodução humana, recomendo aos jovens e não tão jovens assim a refletir sobre seus sonhos e, caso tenham o desejo de ter filhos mais para frente, que procurem seus médicos de confiança para uma conversa e orientação e, depois, uma clínica de reprodução assistida, para compreenderem um pouco mais sobre todas as possibilidades que a medicina reprodutiva oferece hoje.

Sobre o autor:

Marcos Sampaio é médico ginecologista, especialista em reprodução assistida e diretor da clínica Origen BH