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Pirâmides financeiras: saiba identificar uma para não cair em golpes! 

Os golpes de pirâmides financeiras são muito frequentes, apesar de diversos criminosos serem presos e esquemas acabarem desmantelados frequentemente. Mas mesmo com os alertas de especialistas, muita gente ainda cai nesse tipo de golpe.

Segundo o professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib, o principal motivo de as vítimas caírem no golpe é vislumbrar ganhos altos, em pouco tempo e sem esforço.

“Se algo parece muito bom para ser verdade, provavelmente é uma fraude. Sempre faça suas pesquisas antes de investir. Se alguém, provavelmente um influencer, prometer ganhos acima do praticado pelo mercado, provavelmente você cairá numa cilada. Para evitar cair nesse tipo de golpe, a mais importante é manter o bom senso”, alerta o professor.

O QUE É UMA PIRÂMIDE FINANCEIRA?

Segundo o professor da FECAP, o esquema é baseado no recrutamento de participantes com a promessa de retornos elevados e relativamente fáceis. Noutras palavras: dinheiro fácil em pouco tempo.

Para que esses rendimentos sejam pagos, as pessoas que ingressam dependem da entrada de novos membros, que vão aportando dinheiro e chamando novos integrantes para o grupo. Não existe nenhum produto ou serviço real em contraprestação, o dinheiro simplesmente passa de um nível para o outro na pirâmide.

Esses golpes iludem as pessoas com promessas de lucros exorbitantes e ganhos rápidos, incentivando investimentos iniciais e recrutamento de novos membros, sobretudo, com grandes, insistentes e agressivas campanhas de marketing, especialmente nas redes sociais.

“No entanto, a estrutura se sustenta apenas enquanto houver entrada de novos investidores, levando ao colapso quando não há mais pessoas para sustentar os níveis superiores”, afirma El Khatib.

O esquema funciona da seguinte forma:

1) Alguém no topo da pirâmide cria o esquema e convence algumas pessoas a investirem;

2) Essas pessoas são incentivadas a recrutar mais investidores, que pagam uma taxa de entrada;

3) Uma parte desse dinheiro é usada para pagar “lucros” aos investidores mais antigos, para convencê-los de que o esquema está funcionando;

4) Mais pessoas são convencidas a entrar, criando uma estrutura em forma de pirâmide;

5) Eventualmente, não há mais novos investidores suficientes para pagar os anteriores. O esquema então desmorona, com a maioria perdendo seu dinheiro.

COMO IDENTIFICAR UMA PIRÂMIDE FINANCEIRA?

O professor da FECAP lista, abaixo, algumas dicas simples para evitar cair em pirâmides financeiras:

1) Desconfie de promessas de ganhos rápidos e fáceis: Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é uma fraude;

2) Verifique se a empresa é registrada e regulamentada: Empresas legítimas de investimento devem estar registradas em órgãos como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários);

3) Não se deixe levar por pressão para investir: esquemas de pirâmide contam com o entusiasmo das pessoas para atrair novos investidores;

4) Não invista em algo que você não entende: se você não consegue explicar como o investimento funciona, é melhor ficar longe;

5) Não invista dinheiro que você não pode perder: pirâmides financeiras sempre acabam desmoronando, fazendo com que os últimos investidores percam tudo.

POR QUE AS PESSOAS CAEM NO GOLPE?

Em termos psicológicos e de comportamento, várias razões podem levar uma pessoa a cair em golpes financeiros, como pirâmides ou fraudes.

Alguns dos principais fatores incluem:

1) Engenharia Social: golpistas utilizam técnicas de engenharia social para manipular emocionalmente as vítimas, explorando as vulnerabilidades das vítimas e criando narrativas convincentes que as seduzem e enganam. Normalmente, todo golpista cria uma narrativa de superação; que começou sem dinheiro e hoje é bilionário e que você pode ser igual a ele, sem esforço, sem trabalhar ou estudar. Esses gatilhos psicológicos fisgam até os mais emocionalmente preparados;

2) Promessas Irresistíveis: as promessas de ganhos extraordinários, oportunidades únicas e imperdíveis, combinadas com um senso de urgência, ativam respostas psicológicas nas pessoas, como o medo de perder uma grande chance, levando-as a agir impulsivamente;

3) Pressão e Rapidez: muitas vezes, os golpistas pressionam as vítimas para tomar decisões rápidas, sem dar tempo para uma reflexão cuidadosa. A pressão por transações urgentes pode levar as pessoas a agirem sem avaliar devidamente os riscos. Além disso, o efeito manada (“todos estão participando, você vai ficar de fora”?) tem um efeito negativo nestes casos;

Nesse tipo de golpe, é comum escutar frases como “Há 10 anos, tivemos uma oportunidade de ganhos que hoje se repete! Só você vai ficar de fora dessa?”. Outro fator psicológico associado a isso é o impulso. Agir de forma emocional e por impulso combinado com propostas extremamente sedutoras de ganhos fáceis e rápidos, pode ser muito perigoso.

4) Confiança Excessiva: em casos de golpes sentimentais, como o estelionato sentimental, a confiança excessiva nas palavras e ações do golpista, que muitas vezes se apresenta de forma carismática e convincente, pode levar as vítimas a ignorarem sinais de alerta e acreditar nas mentiras contadas. No caso das pirâmides, torna-se quase irresistível não participar e esse é o perigo;

5) Desejo de Ganho Rápido: a busca por lucros fáceis e rápidos pode levar as pessoas a ignorarem sinais de alerta e a se envolver em esquemas fraudulentos, na esperança de obter retornos financeiros significativos sem esforço.

Esses fatores psicológicos e comportamentais tornam as pessoas mais suscetíveis a cair em golpes financeiros, destacando a importância de estar atento, desconfiar de promessas mirabolantes e sempre verificar a legitimidade de investimentos e oportunidades financeiras.

ALÉM DO MATERIAL: GOLPES CAUSAM PERDAS PSICOLÓGICAS

Muitas vítimas se sentem envergonhadas por terem sido enganadas em um esquema que, em retrospectiva, parecia bom demais para ser verdade. A culpa de terem perdido dinheiro ou de terem recrutado amigos e familiares é uma carga pesada a carregar.

As perdas podem incluir também:

1) Depressão e Ansiedade: o impacto financeiro de perder economias significativas pode desencadear depressão e ansiedade. O estresse resultante de dívidas e da incerteza financeira pode ser esmagador;

2) Dificuldades nas Relações: perder dinheiro em uma pirâmide financeira pode causar tensões nas relações interpessoais, especialmente se familiares ou amigos também foram afetados. As relações podem se desgastar devido ao sentimento de traição ou culpa compartilhada;

3) Isolamento Social: muitas vítimas se isolam socialmente, evitando amigos e familiares para evitar discussões sobre o esquema e a perda financeira. Isso pode levar a uma sensação de isolamento e solidão;

4) Desconfiança e Ceticismo: após serem enganadas em uma pirâmide, as pessoas podem se tornar naturalmente mais desconfiadas e céticas em relação a oportunidades de investimento legítimas. Isso pode impedir seu crescimento financeiro futuro.

COMO SAIR DO GOLPE?

Para quem caiu em um golpe de pirâmide financeira, existem algumas ferramentas que podem ajudá-lo a sair dessa situação:

Identifique que entrou em um esquema fraudulento: alguns sinais de alerta são promessas de retornos irreais sem risco, pressão para investir rapidamente e atrair novos participantes, falta de transparência sobre o uso dos recursos e dificuldades para resgatar seu dinheiro;

Denuncie o esquema: você pode denunciar o golpe anonimamente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) através do site ou pelo telefone 0800-025-9666. A CVM apura casos relacionados a valores mobiliários;

Tente reaver seu dinheiro judicialmente: caso não seja possível reaver os recursos por meio da denúncia, você pode entrar com uma ação judicial na tentativa de reparar os danos causados pelo golpe;

Não caia novamente em esquemas semelhantes: estudos mostram que vítimas de pirâmides têm maior propensão a investir novamente em fraudes financeiras desse tipo e a convidar outras pessoas para participarem desses golpes. Portanto, é fundamental ficar atento e não se deixar levar por promessas de ganhos fáceis;

Busque alfabetização financeira: a falta de conhecimento sobre o funcionamento do mercado (sobre os ganhos que o mercado tem praticado, por exemplo) financeiro e parâmetros econômicos básicos torna os investidores mais vulneráveis a acreditar em retornos irreais. A solução é buscar educação financeira para desenvolver ferramentas de comparação que ajudem no julgamento de oportunidades de investimento.

“Embora seja muito tentador participar de um investimento que promete lucros altos em pouco tempo, é preciso redobrar a atenção para não cair na armadilha de uma pirâmide financeira. Fique atento a promessas de ganhos fáceis e consistentes, e sempre desconfie de oportunidades que parecem boas demais para ser verdade”, finaliza o especialista.

O especialista: Ahmed Sameer El Khatib é Doutor em Administração de Empresas, Doutor em Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC/SP e graduado em Ciências Contábeis pela USP. É pós-doutor em Contabilidade pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Administração pela UNICAMP. É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi chefe geral do orçamento da Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo entre os anos de 2016 e 2019.

Sobre a FECAP

A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) é referência nacional em Educação na área de negócios desde 1902. A Instituição proporciona formação de alta qualidade no Ensino Médio (técnico, pleno e bilíngue), Graduação, Pós-graduação, MBA, Mestrado, Extensão e cursos corporativos e livres. Diversos indicadores de desempenho comprovam a qualidade do ensino da FECAP: nota 5 (máxima) no ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e no Guia da Faculdade Estadão Quero Educação 2021, e o reconhecimento como melhor centro universitário do Estado de São Paulo segundo o Índice Geral de Cursos (IGC), do Ministério da Educação. Em âmbito nacional, considerando todos os tipos de Instituição de Ensino Superior do País, a FECAP está entre as 5,7% IES cadastradas no MEC com nota máxima.