Um dado impactante, segundo uma revisão sistemática publicada recentemente na revista Human Reproduction Update, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, revelou uma queda substancial a nível populacional na concentração espermática média de 104 para 49 milhões/ml de 1973 a 2018, e esse declínio se tornou mais acentuado desde o ano 2000. Dentre as possíveis explicações para isso, enfatizam o estilo de vida e a maior exposição a poluentes e produtos químicos no cotidiano da população atual.
Segundo o andrologista da Clínica Origen, Dr. Rodrigo Spínola,esses produtos químicos podem afetar a espermatogênese de várias maneiras. “Uma das teorias é que tais produtos atuem como desreguladores endócrinos, que imitam os hormônios do corpo e, portanto, enganam nossas células, interferindo no equilíbrio hormonal masculino com consequente efeito no estímulo para produção dos espermatozoides”, explica. Outra teoria é pelo aumento na formação de radicais livres de oxigênio, substâncias altamente reativas que, em última análise, lesam o DNA dos espermatozoides. Além disso, diversas substâncias atuam danificando de forma direta a membrana e o espermatozoide como todo.
O médico diz que o resultado dessa exposição em longo prazo pode ser uma redução do potencial fértil do homem, seja por uma desregulação hormonal e/ou alteração na produção dos espermatozoides. “Além do declínio na contagem dos espermatozoides, que por si só levaria ao quadro de infertilidade, um número crescente de espermatozoides pode alterar a sua morfologia e/ou reduzir o seu percentual de motilidade progressiva (aqueles que nadam para frente em busca de um óvulo)”, comenta. Tais alterações contribuem também para redução das chances de gestação, mesmo que a concentração esteja dentro de um valor ideal.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um em cada seis casais (15%), apresentam dificuldade de ter filhos. O fator masculino contribui com até 50% dos casos, daí a importância do homem ser avaliado em conjunto nos casos de infertilidade conjugal.
É importante ressaltar que nem toda exposição a produtos químicos leva necessariamente à infertilidade. “Aquelas exposições leves e por curto período tende a ter menos efeitos negativos, além disso a genética e outros fatores de estilo de vida também desempenham um papel crucial na saúde reprodutiva”, orienta.
“Se você estiver preocupado com a exposição a produtos químicos que tem atualmente ou teve no passado, e seus efeitos na fertilidade masculina, é importante consultar um especialista em reprodução humana para obter orientação personalizada, em relação as melhores medidas a serem tomadas”, recomenda o médico.
Medidas preventivas
Para evitar a exposição desnecessária a produtos químicos tóxicos, é fundamental para a saúde reprodutiva, como por exemplo:
- Evitar exposição ocupacional: Tome precauções adequadas, como usar equipamentos de proteção individual (EPI) apropriados.
- Evitar produtos domésticos tóxicos: Opte por alternativas mais naturais e menos tóxicas sempre que possível. Use luvas, máscaras e outros protetores que se façam necessário.
- Limitar a exposição a pesticidas: Seja consciente ao manusear pesticidas em áreas agrícolas ou durante atividades de jardinagem. Use luvas e roupas de proteção adequadas.
- Manter uma dieta saudável: Uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis pode ajudar a promover a saúde reprodutiva.
- Além de estilo de vida saudáveis, como exercícios físicos regulares, redução do estresse, evitar tabagismo, drogas e etilismo podem influenciar positivamente na saúde reprodutiva em geral e minimizar os efeitos deletérios dos produtos tóxicos.
Veja abaixo os principais produtos químicos que podem afetar a espermatogênese e a saúde reprodutiva masculina e onde são encontrados em nosso dia-dia:
- Ftalatos: Encontrados em plásticos, cosméticos, produtos de higiene pessoal e materiais de construção.
- Bisfenóis: Presentes em recipientes de plástico, revestimentos de latas de alimentos e recibos térmicos.
- Pesticidas: Presentes em defensivos agrícolas e até nos alimentos contaminados por estes.
Solventes industriais: Derivados principalmente do petróleo, podem ser encontrado em tintas, adesivos e produtos de uso mecânico e industrial. - Metais pesados: Como o chumbo, mercúrio, alumínio e arsênio. Podem estar presentes na fabricação de alimentos ultra processados e enlatados, por exemplo, pois servem como conservantes, corantes e aditivos químicos, podem também compor algumas embalagens. Além disso, até mesmo a água de procedência duvidosa e alimentos in natura podem ter metais pesados.
“Esses produtos químicos estão presentes de forma quase universal, como no cafezinho e água que tomamos em copos de plásticos, em produtos cosméticos como cremes, loções e perfumes; em materiais de limpeza doméstica e automotiva; e até mesmo em alimentos processados e in natura por contaminação. Além disso, a exposição ocupacional, que certos profissionais estão sujeitos, como mecânicos, pintores, trabalhadores agrícolas”, pondera o médico.