As pacientes que tentam engravidar pela fertilização in vitro, têm se deparado com uma lista crescente de “novas opções” de testes que prometem aumentar a eficácia do resultado, mas algumas evidências vão na contramão.
Um deles é uma análise de receptividade endometrial, que faz uma biópsia do revestimento interno do útero. Em seguida é feita análise do tecido em busca de mais de 200 genes para prever o melhor momento para colocar o embrião no útero.
Mas recentes estudos – liderados por pesquisadores da Shady Grove Fertility, que possui mais de 40 clínicas nos Estados Unidos, e que foram publicados em setembro, mostraram que não houve diferença nas taxas de sucesso. Foram comparadas as taxas de nascidos vivos, entre pacientes que fizeram fertilização in vitro pela primeira vez, usando o exame e sem a utilização dele, e não foi encontrada diferença entre os dois grupos.
Para realizar o estudo, foram oferecidos testes gratuitos a 767 pacientes antes da realização da FIV pela primeira vez. Metade das pacientes receberam placebo, e o resultado mostrou que não houve diferença entre os dois grupos.
O resultado apontou que o teste não melhorou as chances de se conseguir uma gravidez. Este resultado é extremamente preocupante para a população de casais tentantes, que chegam a investir até US$ 1000 no teste – o equivalente a R$ 5200.
Antes disso, em 2018, um estudo independente com pacientes com duas ou menos transferências descobriu que o teste não melhorou o resultado nas taxas de gravidez, mas esta avaliação utilizou apenas uma pequena amostra de participantes.
O teste foi disponibilizado em 2011, e somente nos EUA foi utilizado por milhares de pacientes. No Brasil ele é amplamente oferecido em muitas clínicas de reprodução assistida, como opcional aos tratamentos de fertilização in vitro, algumas vezes para todas as pacientes, outras apenas para pacientes com falhas nos tratamentos.
“infelizmente é frequente vermos exames e intervenções ainda não completamente comprovados serem disponibilizados no mercado. Existe uma caminhada longa entre a invenção e a comercialização, e todas as etapas deveriam ser respeitadas (inclusive grandes estudos de efetividade). Os casais tentantes comumente estão muito fragilizados, o que pode induzir a submeterem-se a inovações ainda não completamente estudadas. A chance de sucesso na fertilização in vitro depende de muitos fatores, e muitos deles ainda não são completamente compreendidos. A probabilidade de sucesso por tratamento pode chegar a 50% em casos específicos, mas decai com a idade. Muitas pacientes se submetem a testes não validados, e muito provavelmente engravidariam com ou sem eles”
A fertilização in vitro requer um investimento, e a chance de sucesso é observada nas estatíscas. A taxa de gravidez depende da idade da mulher. Aos 30 anos ela é ao redor de 50% por tentativa, já aos 40 anos decai para aproximadamente 40%. Pacientes com mais idade enfrentarão chances menores de sucesso.
“É preciso muito cuidado com essa indicação de novos complementos para fertilização in vitro que não são cientificamente comprovados. O desgaste psicológico, sem contar no desgaste financeiro do tratamento pode ser significativo, por isso precisamos focar naquilo que comprovadamente pode ajudar estes casais tão fragilizados”, alerta o especialista em reprodução assistida, João Guilherme Grassi.
Hoje a indústria busca possibilidades para a falha da fertilização in vitro. Os pacientes buscam respostas para uma infertilidade que por vezes, é inexplicável.
Neste contexto a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) formulou um documento com 42 recomendações sobre complementos de FIV. O estudo reprovou a maior parte dos complementos analisados e indica que o teste em questão é pouco compreendido e que os estudos apontam que não há diferença entre quem usa e quem não usa.
Outro exemplo de complemento não recomendado para uso rotineiro é a biópsia dos embriões para análise genética. A técnica promete escolher o embrião mais “saudável” para a transferência, diminuindo riscos de alterações cromossômicas como síndrome de Down. Porém evidências atuais demonstraram que há a possibilidade de resultados falsos positivos, além dos embriões denominados “mosaicos”, formados por células normais e também alteradas.
Nesses casos, dependendo do grau de alteração existem chances importantes de o bebê nascer completamente normal. “Outro ponto importante é que o teste analisa apenas as alterações cromossômicas, mas não as outras alterações genéticas multifatoriais como as responsáveis pela imensa maioria das malformações humanas. O risco geral de um casal ter um bebê com algum tipo de alteração na natureza é ao redor de 1%, o teste não reduz este risco.
Mesmo na idade de 40 anos o risco real de uma mulher ter um bebê com Síndrome de Down é de aproximadamente 1%” relata o Dr João Guilherme Grassi. É importante falar sobre o assunto para evitar desinformação e que casais não optem por intervenção ineficazes ou com baixo potencial de benefício, e que acabem gastando muito mais que o necessário para realizar um sonho.