A psicóloga Eva Illouz já disse: “As mulheres costumam desenvolver e manifestar suas emoções numa fase mais inicial e com maior paixão do que os homens.” Se a princípio então a entrega emocional feminina é superior à masculina, em um relacionamento entre mulheres, para onde vai tamanha intensidade?
Quando se fala sobre romance no mundo LGBTQIA+ a regra é clara: toda mulher passa por um frenesi na primeira relação com outra mulher. Enquanto o homem hétero costuma manter distância dos próprios sentimentos, para as mulheres sáficas ser “emocionada” é quase um pré-requisito.
Eu, sendo uma delas, costumo dizer que vivo todas as versões de um mesmo sentimento quando me relaciono com outra mulher. E quando acaba, vivo a dor tão profundamente quanto vivi o amor.
Percebo em minha bolha comportamentos semelhantes aos meus, e arrisco dizer que o fim em um relacionamento homoafetivo vem com maior sobrecarga emocional do que em uma relação hétero.
Há quem diga que mulheres que amam mulheres não sabem terminar. Concordo que não vivenciamos todas as etapas do luto. Não nos damos tempo suficiente para acabar e nossa intensidade muitas vezes gera resultados contraditórios. Eu mesma nunca sei quando deixo de amar.
Esse processo de luto na separação amorosa já é naturalmente um desafio doloroso. As emoções assumem uma proporção muito grande e quanto mais intenso for o vínculo com a pessoa amada, maior o sofrimento decorrente da ruptura desse laço.
Mas se sou mulher e sempre manifesto minha paixão excessivamente e de forma proporcionalmente recíproca quando me relaciono com outra mulher, como então lidar com esse luto sem me afundar no poço a cada fim?
Conheço o amor como conheço a vida, dividida de forma simplista em dois polos extremos – o do nascimento e o da morte. No início, há de deleitar-se com o amor. No final, há de se adaptar ao luto.
Retomar o controle de si após términos é como matar um amor para que nasça outro – o próprio. Não se supera a ausência de ninguém se não se ama a própria companhia.