por Renata de Lima Bossi
Já faz algum tempo que os homens deixaram a timidez de lado e têm procurado as clínicas de reprodução assistida em busca de informações sobre sua fertilidade – principalmente pela vontade de se tornarem pais. Existem diversos fatores que podem influenciar na saúde masculina, levando à infertilidade. A boa nova é que a inteligência artificial, que vem sendo usada em todo o mundo mais fortemente na área de tecnologia, vem se mostrando uma grande aliada na medicina reprodutiva.
Que a inteligência artificial veio para mudar paradigmas em inúmeras áreas da sociedade, é inegável. E na medicina, não é diferente – as novas tecnologias podem auxiliar no acesso do paciente aos cuidados, prevenção de doenças, no diagnóstico e no tratamento. Esse processo não tem mais volta.
Muitos homens, que querem deixar a paternidade para mais tarde, pós 40 anos, ou casais homoafetivos e pessoas trans, têm buscado cada vez mais informações sobre os tipos de procedimentos da fertilização in vitro (FIV) e há um aumento real, em torno de 20%, nessa procura. A mudança ocorre no mundo todo e indica para nós, especialistas em medicina reprodutiva, um avanço também das sociedades quando o assunto é bem-estar, busca pela construção familiar e pela felicidade dos indivíduos.
Um dos exames mais comuns e comumente solicitados para verificar a fertilidade masculina é o espermograma, que permite ao(à) médico(a) avaliar os parâmetros seminais do homem. São necessárias duas amostras com intervalo entre 30 e 60 dias. Os principais critérios observados e avaliados por meio do exame são o volume de sêmen; a concentração (número de espermatozoides); a movimentação (motilidade) dos espermatozoides; a forma (morfologia) dos espermatozoides e também se há algum tipo de inflamação.
Atualmente, há vários equipamentos que podem auxiliar o embriologista no exame de espermograma, fazendo análises minuciosas e em maiores quantidades de espermatozoides, que utilizam inteligência artificial (IA). Em minutos, eles fazem uma análise da morfologia, fragmentação de DNA espermático, vitalidade, motilidade, células redondas, dentre outros aspectos importantes para avaliar a qualidade do material. Dessa forma, é possível para embriologista e médico traçarem um diagnóstico e um tratamento para o paciente.
Os laudos se tornam muito mais completos e se precisar de um foco maior na análise de um certo tipo morfológico, por exemplo, você consegue acessar pelo equipamento. Existem também os softwares com IA que auxiliam na escolha do melhor espermatozoide para ICSI. Ele avalia a motilidade e morfologia, e dá um sinal verde, indicando que aquele espermatozoide segue os parâmetros de qualidade estabelecidos pela medicina internacional.
Na Austrália foi desenvolvida uma ferramenta que utiliza IA, o SpermSearch, que auxilia o embriologista a localizar espermatozoides em amostra de biópsia testicular. Essa tecnologia é especialmente útil, pois ajudaria reduzir o tempo da busca de espermatozoides viáveis para realização de uma ICSI, em causas de infertilidade masculina grave.
Mais recentemente, foi anunciado o nascimento dos primeiros bebês gerados pela ICSIa (ICSI automatizada) em que softwares e robôs conduzem grande parte das manipulações envolvendo os gametas (óvulos e espermatozoides). Essa tecnologia utiliza automação associada à inteligência artificial para realizar o processo de ICSI, mas ainda sem utilizar a seleção automatizada de espermatozoides. A tecnologia ainda depende bastante da acurácia dos operadores e, num futuro próximo, poderá auxiliar na repetição de resultados, diminuindo as variações entre operadores e melhorando resultados.
Os fornecedores também estão investindo em testes individuais, que os homens podem fazer em casa, mais elaborados para análise hormonal e seminal, com utilização de aplicativos em celulares.
Apesar de a IA apresentar agilidade e mais precisão, na prática ainda temos usado o espermograma comum para testar a fertilidade masculina, não abrindo mão também de outros exames importantes, como o doppler dos testículos e a dosagem dos hormônios: FSH, LH, TSH, T4 livre, prolactina, SDHEA, DHEA, SHBG, testosterona total e livre. Tudo isso vai depender do paciente, seu histórico de vida, hábitos etc. Na Origen, levantamos todo esse histórico de cada pessoa que nos procura para tentarmos propor um tratamento médico que permita a realização do sonho de cada um.
Renata de Lima Bossi é doutora em Patologia Ginecológica e Reprodução pelo programa de Saúde da Mulher da Faculdade de Medicina da UFMG; embriologista chefe do Centro de Medicina Reprodutiva – Clínica Origen BH e certificada pela Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE, 2021).