Professor de Psicologia do UniCuritiba explica como o uso excessivo de aplicativos, jogos e redes sociais acentua casos de ansiedade e depressão
Mais da metade dos brasileiros não consegue ficar um dia inteiro longe do celular, aponta o IBGE. Segundo o levantamento, 16% dos brasileiros admitem que o uso de smartphones prejudica o trabalho e afeta relacionamentos familiares. Para 12%, a dependência da internet leva a distrações no trânsito e 9% dos entrevistados reconhecem que o uso excessivo da tecnologia causa problemas de saúde, influencia negativamente nos estudos (8%) e compromete a vida sexual (6%).
Um estudo da Hibou Pesquisa e Insights é ainda mais preocupante: 56% dos brasileiros não ficam longe do smartphone por mais de uma hora. Por isso, no mês dedicado à saúde mental e à prevenção ao suicídio, o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos alerta: a tecnologia é viciante e causa uma sensação imediata de bem-estar, mas o excesso tem efeitos negativos à saúde mental a médio e longo prazo.
“A internet, em especial as redes sociais, e os jogos eletrônicos são programados para oferecer conteúdo de interesse para o usuário e, assim, captar a atenção. Isso consome muito do nosso tempo e nos leva a negligenciar os cuidados com a saúde, com as emoções e com os relacionamentos”, diz o especialista.
Mestre em Análise do Comportamento e professor do curso de Psicologia do UniCuritiba, Guilherme diz que o primeiro passo para identificar o desequilíbrio no uso de tecnologias e da internet é avaliar as mudanças nos hábitos e comportamentos. “Uma criança que faz uso exagerado de celular, tablet ou computador deixa de brincar com outras crianças e de aperfeiçoar habilidades sociais. O efeito nos vínculos de amizade não demora a aparecer.”
A situação é tão preocupante que o vício em internet é considerado um transtorno de dependência. No caso específico dos jogos eletrônicos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) compara o problema à dependência química, com consequências físicas e mentais semelhantes.
O risco das tecnologias digitais
Estudos internacionais mostram os riscos da utilização exagerada das tecnologias na saúde mental. Pesquisadores da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, constataram que adolescentes excessivamente expostos a dispositivos eletrônicos manifestam com mais frequência sinais de insatisfação com a vida, infelicidade e problemas de autoestima.
O comportamento suicida entre usuários de tecnologia e internet também tem sido alvo de estudos. Na Universidade de Oxford, pesquisadores analisam a relação entre práticas de autolesão e atividades online, como navegação na internet, tempo gasto em redes sociais e visitação em sites sobre suicídio.
O desafio da Psicologia, aponta o professor Guilherme Alcântara Ramos, do UniCuritiba, está em dosar o uso das tecnologias, já que elas fazem parte das rotinas de trabalho,
estudo, lazer e interação. “O fato de a internet ser muito acessível facilita o uso irrestrito e dificulta o controle dos efeitos negativos no bem-estar ou na saúde mental e emocional.”
Frustração, ansiedade e depressão
A falsa impressão de vidas perfeitas passada pelas redes sociais está adoecendo as pessoas. A exposição constante a imagens de corpos perfeitos, padrões de vida elevados, luxo, viagens e sofisticação é um dos principais fatores para a redução da autoestima e o sentimento de inferioridade.
Associado a isso está a ansiedade e à depressão. Um estudo com dez mil jovens canadenses revelou que quem passa mais de cinco horas diárias em redes sociais tem mais de 50% de chances de sofrer de depressão.
Dicas para equilibrar o uso
Ter a mão um aparelho multitarefas, como o smartphone, pode ser vantajoso para quem sabe administrar o tempo e tem autocontrole. O problema é quando o uso das tecnologias priva as pessoas de encontros presenciais e impedem o fortalecimento dos laços sociais.
“Estamos permanentemente em contato com pessoas graças à internet, mas a intensidade do vínculo é superficial. A tecnologia pode ser benéfica ou prejudicial e tudo vai depender da forma como é utilizada”, diz o professor Guilherme.
Para alcançar o equilíbrio, o psicólogo sugere que o usuário reflita sobre o tempo gasto nas redes sociais e na internet. “O que eu proponho é uma reflexão sobre o uso da tecnologia e seus impactos nos projetos pessoais e profissionais, nas expectativas, sonhos e projetos. O exagero leva ao imediatismo, mas se o uso das tecnologias não estiver vinculado aos projetos de vida, não contribuirá para o sucesso e o bem-estar.”
Desintoxicação gradativa
A forma como as pessoas utilizam o celular e o tempo que passam conectadas à internet têm total influência na saúde mental, assim como a qualidade da informação consumida. Ainda que os aparelhos mais modernos tenham dispositivos para mensurar o bem-estar digital e bloquear o uso de aplicativos após determinado período, as pessoas enfrentam dificuldades para se desconectar.
Apesar da necessidade de equilibrar o uso de tecnologia em prol da saúde mental, o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos avisa: o processo de desintoxicação precisa ser gradual. “Quem tem o hábito de usar a tecnologia por horas e horas todo dia terá dificuldades de fazer reduções drásticas. A dica é diminuir gradativamente o tempo de conexão, substituindo o uso da internet por outras atividades prazerosas.”
O primeiro passo é avaliar a real necessidade do uso da tecnologia para o trabalho e o estudo. Estimar, de fato, quanto ela é essencial para o sucesso profissional, os relacionamentos sociais, a interação com amigos e familiares. “Não tem problema utilizar a tecnologia, desde que seja de forma adequada e coerente aos objetivos pessoais, sem interferência no bem-estar, na socialização e na qualidade de vida”, ensina o professor do UniCuritiba.
Importância de pedir ajuda
Se estabelecer limites para o uso diário de tecnologia, seja o acesso à internet, redes sociais ou jogos eletrônicos, for complicado, a dica é pedir ajuda. O cuidado deve começar na infância e os pais devem impor regras.
Segundo a Associação Pan-Americana da Saúde (Opas), 50% dos problemas relacionados à saúde mental têm origem adolescência, por volta dos 14 anos, levando à prevalência da depressão em adultos jovens.
O comportamento de crianças, adolescentes e jovens serve de alerta, em especial se ocorrerem alterações frequentes de humor. Tristeza e raiva súbitas são indicativos de que algo está errado, assim como o hábito de relembrar, com frequência, experiências ruins do passado.
Outros sinais envolvem a obsessão por problemas (quando a pessoa não consegue visualizar uma solução para resolver o que incomoda), insinuações verbais sobre a falta de expectativa no futuro, consumo abusivo de álcool e drogas, isolamento social e ideação suicida.
Nestes casos, segundo o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos, estudioso de educação e saúde mental, a melhor estratégia é recorrer a um especialista, que saberá orientar sobre as estratégias para vencer o vício em tecnologia e conduzir o tratamento contra a ansiedade ou a depressão.
Sobre o UniCuritiba
Com mais de 70 anos de tradição e excelência, o UniCuritiba é uma instituição de referência para os paranaenses e reconhecido pelo MEC como uma das melhores instituições de ensino superior de Curitiba (PR). Destaca-se por ter um dos melhores cursos de Direito do país, com selo de qualidade OAB Recomenda em todas as suas edições, além de ser referência na área de Relações Internacionais.
Integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil, o Ecossistema Ânima, o UniCuritiba conta com mais de 40 opções de cursos de graduação em todas as áreas do conhecimento, além de cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado.
Possui uma estrutura completa e diferenciada, com mais de 60 laboratórios e professores mestres e doutores com vivência prática e longa experiência profissional. O UniCuritiba tem seu ensino focado na conexão com o mundo do trabalho e com as práticas mais atuais das profissões, estimulando o networking e as vivências multidisciplinares.
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