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É possível identificar sinais e evitar um suicídio?

Neste setembro amarelo, psiquiatra explica o que observar nas pessoas a sua volta para tentar evitar uma tragédia e ajudar quem está precisando de apoio

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho, o número de suicídios no Brasil cresceu 11,8% em 2022 na comparação com 2021. No ano passado, foram 16.262 registros, uma média de 44 por dia. Em 2021, foram 14.475 suicídios. Em termos proporcionais, o Brasil teve 8 suicídios por 100 mil habitantes em 2022, contra 7,2 em 2021. O suicídio é um fenômeno multifatorial, ou seja, são vários elementos envolvidos (psicológicos, biológicos, sociais e culturais) que levam à decisão de alguém tirar a própria vida.

Em 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e o mês ganha a cor amarela para chamar atenção para o problema. Quando um suicídio acontece, aqueles que conviviam com a vítima se questionam se não poderiam ter evitado a tragédia de alguma forma. A psiquiatra Elen Cristina de Oliveira, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, revela que quem está com pensamento suicida sempre dá sinais. “É possível detectar sinais precoces de comportamento suicida e evitar um desfecho fatal”.

A especialista destaca o que observar nas pessoas à sua volta:

– Isolamento e mudanças de comportamento, deixando de fazer as coisas que gosta;
– Mudanças e oscilações de humor;
– Pessoas que estão deprimidas, com baixa autoestima, com falta de esperança, desamparo e dificuldade de pedir ajuda;
– Pessoas que já fizeram alguma tentativa de suicídio;
– Quem faz automutilação, se cortar, queimar;
– Quem passa a dizer alguma dessas falas: “A vida não vale mais a pena, se eu morrer ninguém vai sentir falta”, “Tenho vontade de sumir”, “Nada mais parece fazer sentido, há apenas uma dor tão pesada que carrego e que não consigo mais suportar”, “Não aguento mais viver assim”, “Eu gostaria de viver, mas não assim…”, “Não há mais nada que eu possa fazer, seria melhor morrer…”, “Parece simplesmente não existir nenhuma luz no fim do túnel”.

Como ajudar
A psiquiatra Elen Cristina de Oliveira explica como ajudar ao perceber um desses sinais em alguém. “Acolher, não julgar e ouvir com atenção. Pedir ajuda e formar uma rede de apoio, além de orientar e acompanhar para tratamento. O CVV (188) também é uma rede de apoio para orientações e escuta. Em caso de risco iminente de suicídio, com ameaça clara ou se a pessoa estiver portando objeto de risco, permanecer em vigilância 24h e encaminhar ao Pronto Socorro Psiquiátrico mais próximo. Já em caso de uma tentativa de suicídio, o mais urgente é a preservação da vida. Neste caso o cuidado inicial são os primeiros socorros”.

Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre o suicídio está ligado à depressão, a médica também comenta esse aspecto. “Existe um estigma e uma crença de que o comportamento suicida é uma moeda de troca para ganhar atenção e cuidado. Na verdade é um pedido de socorro e uma comunicação não verbal de que a vida está por um fio”, afirma a especialista. “O comportamento suicida também pode acontecer em pessoas com traços impulsivos, uso abusivo ou dependências de substâncias (álcool e drogas ilícitas) e surtos psicóticos (com alucinações e delírios, como na esquizofrenia)”, completa.

Para Elen Cristina de Oliveira a campanha setembro amarelo é essencial para educar sobre o comportamento suicida. “É importante combater o estigma sobre algo que realmente acontece na nossa sociedade. Cada morte por suicídio abala a comunidade e tem um intenso impacto em pelo menos mais seis pessoas próximas. O impacto psicológico, social e financeiro do suicídio numa família e na comunidade que a acolhe é imensurável. É assustador pensar que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio e a cada 3 segundos alguém faz uma tentativa contra a própria vida. Precisamos conscientizar sobre este risco e o que fazer para cuidar de quem mais precisa”, alerta a psiquiatra.