Especialista em joelho e medicina esportiva explica os limites do procedimento e os diferentes medicamentos utilizados no procedimento
Férias, uma viagem em vista ou uma competição importante e, de repente, uma inflamação e muita dor. O que fazer? Algumas medidas rápidas podem parecer a solução para estes problemas. É o caso das infiltrações, tidas hoje como a solução de problemas crônicos, acidentes em treinos ou até mesmo para a recuperação rápida de atletas. Como num passe de mágica a dor e a inflamação vão embora e tudo volta a ser como era antes. Mas será que é isso mesmo?
Para explicar um pouco melhor o que são as infiltrações e como agem no organismo, o médico ortopedista e traumatologista Dr. Antonio Masseo de Castro, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e International Society of Arthroscopy, Knee Surgery and Sports Medicine (ISAKOS), aponta as principais indicações e os riscos da realização deste procedimento sem a correta indicação.
De acordo com o especialista, a infiltração é um procedimento simples, no qual a medicação é aplicada diretamente no local afetado, por meio de uma injeção, que pode ser feita em consultório, por um médico especialista neste tipo de procedimento. Devem ser tomados alguns cuidados importantes para que não haja risco de contaminação, de levar uma infecção para uma articulação que previamente não tem uma infecção, ou até mesmo de realizar um procedimento contraindicado para aquela situação ou paciente.
“As infiltrações musculoesqueléticas, em geral, podem ser feitas no ambiente ambulatorial, em consultório. Mas algumas articulações, como o quadril ou o ombro, são mais difíceis infiltrar e é importante que haja aparelho de ultrassom para guiar a agulha até o local correto. Já em regiões como o joelho, basta o conhecimento do especialista para que a infiltração chegue ao local desejado e seja obtido o melhor resultado possível”, explica o Dr. Antonio.
Principais tipos e indicações
Diferentes tipos de medicamentos podem ser injetados no organismo em um procedimento de infiltração, cada qual com uma ação diferente.
De acordo com o Dr. Antonio, as infiltrações articulares são realizadas sobretudo quando há inflamação ou desgaste na cartilagem, e há dois tipos mais utilizados atualmente no país.
“A infiltração de cortisona é feita em casos de inflamação, dentro da articulação, nas bursas, em caso de bursites, e em alguns tendões. No caso de tendões, como o de Aquiles ou o tendão patelar, que são os chamados tendões nobres, não costumamos fazer, pois há aumento do risco de ruptura. Em tendões menos vulneráveis, do trato do tibial no joelho ou tendão da musculatura glútea do quadril, podem ser feitas”, explica o especialista.
O segundo tipo de infiltração bastante utilizado no país é com ácido hialurônico.
“Mais recente na história da ortopedia, feito de 20 anos para cá e mais difundido na última década, é voltado a situações de desgaste da cartilagem, como nos casos de artrose, condromalácia e condropatias, e nas articulações.”
Há uma terceira infiltração, menos comum, realizada com um ácido hialurônico um pouquinho diferente, que oferece ação anti-inflamatória e regenerativa, para uso em tendões.
“Esta infiltração pode ser utilizada em cotovelos, ombros, pés, entre outros, e oferece bons resultados anti-inflamatórios e regenerativos, melhorando sintomas de tendinopatias”.
Além da cortisona e do ácido hialurônico, há a infiltração com plasma rico em plaquetas e outra, com aspirado de medula óssea, ambas ainda em aprovação para o uso no Brasil. Estas versões já estão disponíveis nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Por enquanto, revela o Dr. Antonio, especialistas no Brasil aguardam a autorização para ampliar a oferta a seus pacientes, pois oferecem grande ação regenerativa.
Paliativo ou tratamento?
As infiltrações, em geral, são paliativas, ou seja, em um primeiro momento a indicação é feita para resolver de maneira rápida uma inflamação, que causa dor, redução de mobilidade e, consequentemente, da qualidade de vida do paciente. Mas a infiltração pode ser resolutiva.
“No caso de uma bursite, em que é infiltrada a cortisona, pode acontecer de desinflamar e acabar com o problema. No entanto, de um modo geral, as infiltrações não são capazes de resolver as causas das inflamações, sejam elas bursite, tendinite, artrite, sinusite, entre outras, e elas podem voltar. Por este motivo, mesmo que haja a indicação da infiltração, não se deve deixar de investigar a causa da inflamação”, orienta o especialista.
Prós e contras das infiltrações
Assim como há diversas possibilidades para as infiltrações, é preciso que haja uma avaliação bastante criteriosa e uma indicação correta para cada caso. Seja na coluna, articulação temporomandibular da boca, ombro, quadril, joelho ou articulações em geral, o especialista alerta que é sempre importante avaliar prós e contras.
“Não podemos esquecer que é sempre uma agressão colocar uma agulha em um tendão. O ácido hialurônico tem um espectro grande de possibilidades, assim como a cortisona, mas há efeitos deletérios a curto e médio prazos. Tanto um, como outro, devem ser usados com parcimônia, observando todas as restrições existentes, inclusive condições pré-existentes de cada paciente”, alerta.
Um exemplo importante é o fato da cortisona ser um hiperglicemiante.
“No caso de paciente com diabetes, é preciso muito cuidado e, se mesmo assim houver a indicação, deve haver um controle rigoroso do diabetes nos dias subsequentes”, explica.
Uma importante contraindicação da infiltração com cortisona é em caso de suspeita de infecção bacteriana ou fúngica, porque pode agravar a situação. Por isso, antes de realizar a infiltração, é importante averiguar a existência de infecção.
Os limites das infiltrações
Assim como qualquer medicamento, também nas infiltrações é preciso observar os limites e dosagens para não haver exagero em sua utilização.
De maneira geral, não há regra, cada caso deve ser avaliado pelo especialista. Há casos de pacientes que não podem operar, algumas vezes por uma idade avançada, por exemplo. Para estes, a única solução podem ser as infiltrações. Para outros, de condromalácia, ou condropatia, o ácido hialurônico pode ser utilizado por décadas, apenas para preservar a articulação.
O ideal, no entanto, é que o ácido hialurônico seja realizado anualmente, a cada seis ou quatro meses no máximo. Ainda assim, quando a necessidade se torna muito frequente, é preciso reavaliar a indicação da infiltração.
“Se há a necessidade de realização tão frequente, talvez a efetividade não esteja sendo conforme o esperado para este tipo de tratamento. Nestes casos, o melhor pode ser buscar outra modalidade terapêutica, como a cirurgia”.
No caso da cortisona, há o efeito deletério que deve ser sempre considerado.
“Naquele caso em que o paciente sequer consegue fazer a fisioterapia, a infiltração permitirá a redução da dor, do desconforto, para que seja possível seguir com o tratamento.”