Movimento Junho Violeta alerta sobre a importância de evitar coçar os olhos e consultar um oftalmologista anualmente
O mês de junho foi escolhido para aumentar o conhecimento da população a respeito do ceratocone, por meio do movimento Junho Violeta.
A prevalência do ceratocone pode variar muito de acordo com a população estudada. Uma meta-análise recente, que incluiu mais de 50 milhões de pessoas de 15 países, determinou que a prevalência global de ceratocone era de 138 casos a cada 100 mil pessoas.
Segundo Dra. Maria Beatriz Guerios, oftalmologista geral e especialista em glaucoma, o ceratocone atinge a córnea causando mudanças em seu formato.
“A doença leva a um afinamento progressivo da córnea que assume a forma de um cone. Costuma ocorrer nos dois olhos e pode causar perda significativa da visão. Também ocasiona distorção das imagens e sensibilidade à luz. Infelizmente, o ceratocone pode passar despercebido por muitos anos ou até mesmo ser classificado apenas como um astigmatismo irregular”.
“Por isto, é muito importante falarmos mais sobre o assunto para a população em geral. Normalmente, os primeiros sinais do ceratocone costumam ocorrer no final da adolescência ou início da vida adulta, por volta dos 20 anos. A progressão da doença se caracteriza pelo afinamento contínuo da córnea que culmina em sua deformação. Esta progressão ocorre até a terceira ou quarta década de vida”, explica a especialista.
Causas ainda não estão totalmente elucidadas
As causas exatas do ceratocone ainda não são totalmente conhecidas. Entretanto, alguns fatores de risco são comumente presentes em pessoas com ceratocone.
O uso de lentes de contato rígidas, o hábito de coçar os olhos com frequência, síndrome de Down e alergias em geral costumam estar associados ao ceratocone. Em 10% dos casos, há histórico familiar da doença.
Coçar os olhos com muita frequência é importante fator de risco
“A fricção persistente dos olhos pode causar ou agravar o ceratocone. Normalmente, o hábito de coçar os olhos está relacionado a quadros crônicos de alergia. Nestes casos, o processo alérgico libera substâncias inflamatórias que podem alterar o colágeno da córnea, algo que aumenta o risco de deformação. Já o uso de lentes de contato rígidas pode induzir um trauma mecânico na córnea levando à alteração do seu formato”, comenta Dra. Maria Beatriz.
Astigmatismo irregular
O astigmatismo é um erro refrativo extremamente comum na população em geral, sendo facilmente corrigido com óculos ou lentes de contato. A principal característica do astigmatismo é que a córnea é mais alongada e isso impacta na distorção da visão de perto e de longe.
“Já o astigmatismo irregular é aquele em que a deformidade da córnea ocorre em várias direções. Por este motivo, é muito difícil corrigir a visão com lentes comuns. Desta forma, um dos principais sinais de alerta para o ceratocone é quando a troca do grau dos óculos é constante e mesmo assim não é suficiente para melhorar a visão”, ressalta a médica.
Como é o diagnóstico
Infelizmente, o ceratocone é uma doença que se instala e evolui de forma lenta. E isto pode atrasar o diagnóstico. A troca frequente de óculos, como já falamos, é um sinal de alerta.
Quando a doença já progrediu, a pessoa pode sentir cansaço e desconforto ocular com muita frequência, além de coceira, irritação ocular e sensibilidade à luz. A visão também é afetada. A pessoa vai ter mais dificuldade para enxergar, seja de perto ou de longe”, aponta Dra. Maria Beatriz.
Atualmente, a topografia de córnea é a principal ferramenta de diagnóstico para detecção precoce do ceratocone. A paquimetria também é um exame importante que mede a espessura da córnea, sendo o afinamento algo a ser investigado. Ultimamente, o uso da tomografia de coerência óptica (OCT) de segmento anterior tem sido progressivamente utilizado no diagnóstico do ceratocone.
Pacientes com ceratocone podem precisar de transplante de córnea
O diagnóstico precoce do ceratocone pode prevenir a necessidade de um transplante de córnea. Entretanto, o tratamento da doença depende da gravidade e da progressão.
Nas fases iniciais são usados tratamentos mais conservadores, como prescrição de óculos e de lentes de contato especiais. Ao longo do tempo é possível usar recursos para estabilizar ou retardar a deformação da córnea.
Hoje, um dos tratamentos mais usados é o crosslink. Trata-se de um procedimento que consiste na aplicação de um dos tipos de vitamina B nos olhos em conjunto com uma luz ultravioleta. O principal objetivo é ligar esta vitamina ao colágeno da córnea para prevenir novas deformações.
“Outro procedimento que pode ser usado é o implante de anel corneano que corrige as alterações de espessura e formato da córnea. Por fim, o tratamento do ceratocone pode evoluir e necessitar de um transplante de córnea para a substituição parcial ou completa da córnea”, acrescenta a oftalmologista.
Prevenir é sempre melhor
“O hábito de coçar os olhos com frequência, condições genéticas, como a síndrome de Down, histórico familiar e necessidade constante de trocar os óculos são sinais importantes de que é preciso procurar o oftalmologista e realizar exames para confirmar ou descartar a presença do ceratocone”, finaliza Dra. Maria Beatriz.