Há milênios, os tratamentos medicinais com ervas fazem parte da cultura no cuidado com doenças, hoje coexistindo com os mais avançados recursos científicos e tecnológicos. Será que a validade desse antigo método de cura vale para tratar as crises renais?
Quem já passou perto de uma crise renal sabe que nessas horas vale qualquer indicação para fazer a dor passar e a vida voltar ao normal. Listada entre as piores dores existentes, o tema crise renal é, então, inundado de receitas caseiras, dicas, crendices e tratamentos naturais, como as infusões de ervas. A essa altura você já se lembrou do chá que é praticamente tradição para esses casos, ele mesmo, o chá de quebra-pedra.
Hoje, a Dra. Tamara Cunha, médica Nefrologista na UFRJ e especialista em prevenção de cálculos renais na Clínica ERA Nefrologia, coloca na mesa explicações que nos fazem entender se o chá produzido a partir da erva Phyllanthus niruri vale ou não ser ingerido em situações de crises renais.
“Não”. É a resposta da especialista, de bate-pronto. E ela explica sua coerência médica: “Muitas pessoas consomem o chá durante uma crise, na expectativa de que o cálculo desça, ou que até se dissolva, resolvendo a crise. O fator preocupante é que o uso durante a crise pode retardar o tratamento médico necessário e acabar piorando a situação”.
Dra. Tamara pontua que esse atraso na busca por atendimento médico durante uma crise renal pode levar a um agravamento do quadro e até ao surgimento de complicações, como, por exemplo, uma forte infecção de urina associada à descida do cálculo renal. “Esse comportamento pode tornar o problema ainda mais complexo de contornar”, enfatiza a nefrologista.
Considerando que o surgimento de cálculos renais pode alcançar 1 a cada 10 brasileiros, é de se entender a relevância desse tipo de esclarecimento, no sentido de educar a população e acelerar a busca por tratamentos oficiais nessas situações.
Por isso, na visão da Dra. Tamara, cabe destacar que o uso desse chá mesmo em períodos fora de crise, com intenções profiláticas, já foi estudado cientificamente. “Experimentos mostraram uma discreta inibição ‘in vitro’ da produção de cristais, mas, isso não foi reproduzido de forma impactante entre humanos, de tal forma que nenhuma diretriz internacional de tratamento de cálculos renais recomenda o uso do chá de quebra-pedra como linha oficial de tratamento de prevenção”, assegura a especialista no assunto.