Terapia canábica tem sido aliada no combate aos efeitos colaterais do tratamento
De acordo com informações da publicação “Estimativa 2023 — Incidência de Câncer no Brasil”, lançada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados 704 mil novos casos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025. Ao todo foram estimadas ocorrências para 21 tipos de câncer mais incidentes no País, dois a mais que na publicação anterior. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é a segunda doença que mais mata no mundo. Com números cada vez mais crescentes, tem aumentado também a procura por alternativas que atenuem os efeitos colaterais provenientes do tratamento. Nesse sentido, a cannabis medicinal tem sido uma importante aliada dos pacientes oncológicos.
A dor costuma ser uma das principais queixas das pessoas em tratamento do câncer, que também sofrem com outros efeitos colaterais causados pela quimioterapia e radioterapia. Náuseas, vômitos, perda de apetite, ansiedade e depressão costumam acometer pacientes oncológicos, que têm sua qualidade de vida bastante comprometida por conta desses sintomas. De acordo com a médica Amanda Medeiros, da Clínica Gravital, a cannabis pode ser utilizada como um tratamento sintomático, ou seja, para diminuir os sintomas dos pacientes com câncer. “Ela pode trazer analgesia, que é a melhora da dor, e também funciona como um antiemético, pois melhora a náusea, principalmente após a quimioterapia. Além disso, ajuda no sono e trabalha como uma aliada no relaxamento muscular”, diz. Há ainda vários estudos que apoiam o potencial anticancerígeno da cannabis, com evidências de que o CBD diminui o crescimento de tumores de pulmão e próstata, provoca a morte de células cancerígenas de cólon, pulmão e cérebro, além de reduzir a metástase do câncer de mama.
Sistema endocanabinoide
Segundo a médica, os benefícios no alívio de sintomas relacionados ao câncer são alcançados pelo fato de a cannabis trazer o equilíbrio do sistema endocanabinoide, que possibilita melhorias para a qualidade de vida do paciente. Os receptores canabinoides presentes no organismo, quando ativados, atuam na interrupção da condução da dor e na inibição de substâncias inflamatórias, causando um efeito analgésico. É o caso de Giselle Goldoni Tiso, paciente oncológica que faz tratamento com cannabis medicinal para atenuar os efeitos do tratamento da doença. Ela, que em 2019 descobriu um câncer no pulmão, desde então tem lutado contra a doença e os efeitos colaterais do tratamento. “Eu tinha muitas dores por conta de uma série de efeitos colaterais do tratamento oncológico, principalmente na musculatura e nas articulações. Fiz todos os tratamentos com milhões de anti-inflamatórios, além de alguns paralelos para dar apoio, mas as dores não passavam”, conta ela. Em fevereiro do ano passado, ao descobrir um novo câncer, precisou começar um tratamento oral, que trouxe ainda mais efeitos colaterais. Segundo ela, por conta disso, foi orientada pelo seu médico a iniciar o tratamento com cannabis. “Fez a minha qualidade de vida mudar 100%. Na primeira semana, com uma dosagem mínima, eu já não tinha quase nenhuma dor”, afirma.
Mais qualidade de vida
De acordo com a médica Amanda, as dosagens do medicamento e os resultados são muito individuais. “A partir da terceira semana já conseguimos apresentar resultados, principalmente para a sintomatologia. Para o paciente que está com câncer, não podemos prometer a cura, mas podemos melhorar a qualidade de vida, fazendo com que esse período em que ele está em tratamento seja o mais tranquilo possível, para ele continuar tendo uma qualidade de vida e fazendo as coisas com normalidade, pois isso é importante”, diz. No caso de Giselle, os resultados do tratamento com cannabis medicinal começaram a ser notados rapidamente, o que fez com que ela voltasse a ter qualidade de vida. “O canabidiol é um apoio importantíssimo para esse tipo de tratamento. Eu comecei a sentir melhora logo nos primeiros dias e foi impressionante, porque no primeiro mês eu já estava absolutamente sem dor. Eu recomendo, não tenho mais nenhuma dor, isso é o mais importante”, relata. Para quem deseja iniciar um tratamento com cannabis medicinal, é indicado procurar um profissional habilitado para avaliação e prescrição do medicamento. Por se tratar de uma terapia complementar, o acompanhamento deverá ser feito paralelamente ao tratamento oncológico.