É importante escolher as mercadorias com critério e não deixar de complementar a dieta com outros itens além daqueles da cesta
A cesta básica – lista com sugestão de alimentos considerados essenciais para a sobrevivência segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) – é composta por itens como arroz, feijão, óleo, açúcar, leite, farinha de trigo e de mandioca, entre outros. Embora não seja a opção mais diversificada em termos de nutrientes, é possível ter uma alimentação saudável com esses produtos.
Para isso, órgãos de saúde e nutricionistas afirmam ser importante escolher as mercadorias com critério e não deixar de complementar a dieta com outros itens além daqueles da cesta.
Ao comparar o custo da cesta básica com o salário mínimo, é possível constatar que o trabalhador destina, em média, 57,18% de sua renda para adquirir os produtos alimentícios básicos. Dados de pesquisa do Procon-SP em convênio com o Dieese revelam alta de 0,13% no valor da cesta básica. No Nordeste, a cesta apresentou um aumento considerável em algumas cidades, como Recife (7,61%), João Pessoa (6,80%) e Aracaju (6,57%).
O Dieese considera que a alta se deu, em grande parte, devido ao aumento dos preços do tomate e da farinha de mandioca na região. Em São Paulo, a cesta básica continua sendo a mais cara do Brasil, custando R$ 790,57 em média. Em seguida, vêm o Rio de Janeiro (R$ 770,19), Florianópolis (R$ 760,65) e Porto Alegre (R$ 757,33).
Assim, para manter uma alimentação balanceada com base principalmente nos alimentos da cesta, é preciso criatividade, organização e pesquisa de preços, sem deixar de lado frutas, legumes e verduras. Essa é uma maneira de melhor administrar o vale alimentação, por exemplo.
Dicas para uma alimentação balanceada
Fontes como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde abordam a importância de manter uma alimentação saudável e equilibrada mesmo com o orçamento limitado.
A lista de itens da cesta básica, apesar de ser uma opção mais acessível e contar com fontes de carboidratos e proteínas, precisa ser complementada com outros alimentos que não constam da indicação da cesta. A sugestão é optar por itens saudáveis, como alimentos in natura ou minimamente processados. Alguns exemplos são frutas, legumes e verduras.
Também é recomendado evitar produtos industrializados e ultraprocessados, como refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados e macarrão instantâneo. Além disso, é importante planejar as refeições e fazer compras com consciência, evitando desperdícios e aproveitando ao máximo os alimentos disponíveis na cesta básica. Dicas de receitas simples e nutritivas são sugeridas, como saladas coloridas, omeletes com legumes e arroz com feijão e vegetais.
Ainda há o que melhorar
O professor Eliseu Verly Junior, do Núcleo de Epidemiologia e Biologia da Nutrição (Nebin) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), realizou um estudo sobre a má alimentação, um dos principais fatores de risco para mortalidade em todo o mundo, com variações substanciais entre os países.
Com base nesse estudo, o profissional propõe o projeto Cesta Básica de Alimentos Brasileira, que tem como objetivo monitorar o custo de uma cesta básica saudável para o brasileiro.
O projeto considera não só os impactos da alimentação na saúde e no meio ambiente, mas também a acessibilidade de dietas alternativas, especialmente para grupos de baixa renda. A dimensão econômica é particularmente importante em países de baixa e média renda, onde uma alta porcentagem da renda total é destinada à compra de alimentos, como destaca o professor.
A ideia é também estabelecer referências quantitativas e qualitativas de alimentos para os brasileiros, uma vez que a atual cesta de alimentos oficial do país é dos anos de 1930 e não leva em conta as necessidades e recomendações nutricionais para uma alimentação saudável.
Proposta de monitoramento da segurança alimentar
A pesquisa do professor Eliseu utiliza modelos de otimização de dados para elaborar cestas de alimentos para diferentes estratos da população, ao menor custo possível. São levadas em consideração as quantidades mínimas e máximas de cada alimento que compõem a cesta e as quantidades mínimas de nutrientes e grupos de alimentos necessários para manutenção da saúde e prevenção de doenças.
As cestas foram definidas para cada região do país, considerando a variação nos hábitos alimentares. O conjunto de alimentos proposto pelo estudo utiliza, majoritariamente, itens in natura e minimamente processados, uma vez que a maioria dos produtos ultraprocessados não tem papel nutricional ou contribui para preparos culinários mais elaborados.
Essa cesta pode ser utilizada para monitoramento da segurança alimentar e nutricional no país, nas regiões e nos estratos de renda, além de fornecer subsídios importantes para políticas de acesso e promoção da alimentação saudável na população. A proposta da UERJ ainda não foi implementada, mas é uma iniciativa importante para promover a alimentação saudável e combater as doenças relacionadas à dieta.