Apesar de ser um direito básico, a prática de alimentação saudável é negligenciada pelas pessoas. Nutricionistas falam dos ricos para a saúde ao se trocar o tradicional arroz com feijão pelo salgado, mas defendem que reeducação não é tão difícil quanto se imagina
Peixe morre pela boca já diz o ditado, e nós também. Mas é também a partir da boca, ou o que ingerimos por meio dela, que vivemos bem mais e melhor. A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo. Para chamar a atenção das pessoas para essa estreita ligação entre alimentação e saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu o 31 de março como o Dia Mundial da Saúde e Nutrição.
Mas apesar de ser um direito básico, a falta de tempo, a correria do dia a dia, o não interesse pelo assunto e até mesmo a falta de dinheiro da parte muita gente têm levado o mundo a uma pandemia crônica de doenças ligadas a maus hábitos alimentares, que hoje já é a principal causa de mortes em todo o planeta. Segundo uma pesquisa publicada na revista médica The Lancet, com dados de 2017, enquanto o tabagismo matou 8 milhões de pessoas naquele ano, 11 milhões foi o contingente de indivíduos que morreram de algum mal decorrente da má alimentação, com por exemplo, obesidade, diabetes, problemas cardíacos e de deficiências nutricionais que provocam outras doenças.
A nutricionista Karine Lima, especialista que atende no Órion Complex em Goiânia, ressalta que, mesmo com o dia a dia atribulado que a maioria das pessoas têm hoje, é possível equilibrar a alimentação e garantir uma qualidade de vida melhor. Segundo ela, planejamento da rotina é o segredo. “Fica muito mais fácil seguir uma dieta saudável, comprando com antecedência os alimentos, organizando marmitas e lanches práticos, assim é possível ter uma alimentação equilibrada e saborosa”, argumenta.
Mas ela lembra que essas boas práticas precisam começar desde cedo, com as crianças aprendendo a comer frutas, fibras e verduras, ao invés de comida industrializada, excesso de carboidrato e refrigerantes. “Em cada fase da vida (criança, adolescente, adulto ou idoso), o ser humano possui diferentes necessidades nutricionais que devem ser respeitadas e cuidadas, para promoção da saúde integral do corpo”, esclarece.
Neste mês de março foi divulgada uma pesquisa feita pela empresa de consultoria de dados Kantar, que revela que o brasileiro tem trocado o tradicional prato de arroz e feijão no almoço, por salgados, principalmente pelo preço mais em conta, pela praticidade e rapidez. Mas a nutricionista alerta que essa “praticidade” e “economia” cobra a médio e longo prazo um preço alto para a saúde. “A troca da tradicional comida brasileira (arroz, feijão, proteína, legumes e salada) por comidas rápidas gordurosas altamente palatáveis, vem refletindo em uma população cada vez mais doente, com um enorme números de pessoas acometidas por problemas como esteatose hepática, hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade (síndrome metabólica) e colesterol alto”, afirma a especialista.
A nutricionista Tályta Fortuna, outra especialista que atende no Órion Complex, ressalta que essa troca do prato de comida tradicional pelo salgado e outros lanches rápidos, além das doenças já citadas por sua colega Karine, pode contribuir para o surgimento de alguns tipos de câncer, devido à má absorção de nutrientes. Segundo ela, o prato balanceado composto por arroz, feijão, uma proteína e salada fornece aminoácidos essenciais para a nossa saúde e a falta deles traz malefícios para o organismo, além de ser arriscado. “Você pode até consumir o saldo, mas o recomendado é que isso ocorra no máximo uma vez por semana, mesmo assim em substituição a apenas uma das principais refeições do dia, que são o café da manhã, almoço e jantar..
Rotina saudável
Segundo Tályta, é possível sim ter prática de alimentação saudável com planejamento e reeducação. “Quanto mais colorido melhor é o prato. A base para nossa alimentação deve ser de verduras, legumes e grãos. Esse prato dá mais saciedade e sustentação por muito mais tempo”, explica. Ela também ressalta a necessidade de beber água para ajudar na absorção dos nutrientes. “Não troque a água por refrigerantes, seja de qual tipo for”, alerta.
Karine Lima lembra que bons hábitos alimentares não passam por uma dieta super restritiva e consumindo coisas que a pessoa não gosta, muito pelo contrário, segundo ela, dá para aliar sabor e nutrição tranquilamente. A nutricionista diz, inclusive, que as pessoas não precisam abrir mão de alguns prazeres da comida, mas sim prestar atenção aos excessos e não trocar todos os dias o que é saudável pelo o que não é.
Confira algumas dicas e atitudes sugeridas pelas duas especialistas que irão fazer toda a diferença à sua saúde:
– Evite o consumo de alimentos ricos em calorias e industrializados, gordurosos e salgados;
– Aumente o consumo de frutas, verduras e legumes, cereais integrais e feijões;
– Beba bastante água;
– Reduza ou evite o consumo de bebidas alcoólicas e o uso do cigarro;
– Faça exames preventivos e consulte sempre o seu médico;
– Faça exercícios físicos regulares, diariamente ou pelo menos três vezes por semana, após avaliação médica;
– Durma pelo menos 8h num período de 24h.