Por Paulo Watanave
Dois cientistas pediram a um assistente para aprimorar três de seus artigos. Com uma velocidade de revisão de cinco minutos para cada texto, o assistente sugeriu alterações em segundos e até detectou um erro na referência a uma equação em um artigo de biologia. Os manuscritos ficaram mais fáceis de ler e os honorários foram modestos, menos de US$ 0,50 por documento, segundo publicação da revista Nature.
Porém, não foi uma pessoa que fez esse trabalho, mas um algoritmo chamado GPT-3 (recentemente atualizado para a versão GPT-4), que é o centro da Inteligência Artificial generativa ChatGPT.
De uns tempos para cá, a ferramenta ganhou muita visibilidade e está causando furor. Há razão para isso? Em termos. De fato, como (quase) todo mundo já sabe, o ChatGPT produz texto fluente, natural e convincente em formato de prosa, poesia, artigos científicos e até código de computador. Para fazer isso, o GPT-3 utiliza 175 bilhões de parâmetros e 570 GB de bancos de dados da internet, como livros, textos da Wikipédia, artigos e outros. Conhecido como uma AI conversacional, é um chatbot ou agente virtual.
Desenvolvido há quase quatro anos pela OpenAI, empresa cofundada por Elon Musk e o investidor Sam Altman, estima-se que tenha atingido 100 milhões de usuários ativos mensais em janeiro, tornando-se o aplicativo de crescimento mais rápido da história. Para efeito de comparação, o Instagram levou dois anos e meio e o TikTok nove meses para chegar a esse número de usuários.
Por isso, as big techs correm para aproveitar essa onda. A Microsoft já anunciou investimentos multimilionários na OpenAI e quer não só aprimorar seu motor de busca como pesquisar aplicações em robótica. O objetivo é verificar se o ChatGPT pode executar tarefas mais operacionais, não apenas centradas em linguagem, facilitando a interação entre humanos e robôs e eliminando a complexidade de programação.
Sabemos que as AIs conversacionais podem trazer muitos benefícios, mas ainda são limitados. A próxima fronteira será descobrir o que mais podem fazer, já que não são muitas as possibilidades de uso comercial da tecnologia.
Vejamos algumas delas:
Atendimento ao cliente: podem ajudar uma empresa a aumentar sua presença on-line e a interação com o cliente, auxiliando no atendimento do consumidor nas mídias sociais ou iniciando a conversa em um blog ou fórum. A ideia é criar uma experiência altamente personalizada e oferecer suporte a qualquer momento, independentemente da necessidade de compra do cliente. O ChatGPT pode reduzir a fricção no comércio, melhorando o tempo de resposta sem comprometer a qualidade.
Descrição aprimorada de produtos: é capaz de escrever descrições cativantes para atrair os clientes no comércio eletrônico;
Nutrição de leads com sucesso: transforma leads em clientes de maneira rápida e eficaz, lembrando aos profissionais de marketing comentários anteriores do usuário e fornecendo sugestões de correções de acompanhamento.
Criação de conteúdo: gera conteúdo envolvente e pertinente em resposta a uma pergunta ou interesse do usuário, levando ao aumento de tráfego do site de uma empresa ou de canais de mídia social.
Pesquisa e curadoria de conteúdo: desenvolve um plano de marketing de conteúdo coerente e eficaz.
Comunicação de vendas: automatiza o processo de venda em larga escala, simplificando a documentação e liberando o profissional de vendas para se concentrar nas necessidades individuais dos clientes em vez de nas tarefas administrativas.
Programação: fornece instruções passo a passo para tarefas de codificação e desenvolvimento, o que é realmente útil no aprendizado de programação ou na criação de resumos. É possível também criar documentação, corrigir, depurar ou até mesmo reescrever um código, tornando-o mais fácil de seguir. O ChatGPT também explica em linguagem o código lido, ajudando os entender seu funcionamento, e cria testes que auxiliam na identificação de bugs não tão óbvios. Embora seja uma ferramenta muito poderosa, atualmente não é capaz de escrever aplicativos complexos e pode cometer erros.
Educação e treinamento: os tutores podem ensinar apenas os fundamentos de um tema e usar o ChatGPT para oferecer aos alunos uma plataforma para tirar dúvidas e aprender com exemplos.
Porém, na lista de preocupações com seu uso está principalmente a disseminação de fake news. Segundo um artigo publicado no VentureBeat, a tecnologia de AI já está sendo usada para produzir campanhas de influência nas plataformas de mídia social e não é impossível prever um cenário em que a tecnologia geraria e difundiria falsidades e preconceitos.
Infelizmente, esse tipo de abordagem é extremamente perigosa e tem causado danos reais à sociedade, polarizando comunidades, propagando informações falsas e reduzindo a confiança nas instituições legítimas.
No entanto, isso ainda parecerá um processo lento e ineficiente quando a próxima geração de métodos de influência baseados em AI for lançada. Esses sistemas serão projetados para envolver usuários-alvo em interações em tempo real e buscar habilmente metas de influência com precisão.
É importante ressaltar que esses sistemas de AI serão muito mais sofisticados do que os atuais e terão a capacidade de manipular conversas de forma sutil, levando as pessoas a agir ou pensar de certas maneiras sem que percebam.
É preciso estar atento aos riscos dessas novas ferramentas de influência, pois podem ser usadas para fins mal-intencionados, manipulando eleições ou prejudicando a reputação de pessoas ou empresas. Portanto, é crucial que a sociedade comece a discutir e desenvolver uma regulamentação para garantir que essas tecnologias sejam usadas de maneira responsável e ética.
*Paulo Watanave é head of Data & Analytics na NAVA Technology for Business
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