Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicado em 2021, apontou que 63% dos cargos gerenciais são ocupados por homens. As mulheres atuavam somente em 37%. O índice baixo revela ainda um problema maior: o mesmo estudo, na edição de 2018, indicava a presença de 39% de mulheres em cargos gerenciais. Ou seja, o número, que já era baixo, ainda caiu 2% nos últimos anos. Além disso, apenas 3% dos CEOs são mulheres nas maiores empresas do país, conforme o levantamento do IBGE.
No entanto, em algumas empresas, as mulheres já conseguem se destacar na liderança. Na dbm Contact Center, elas ocupam 77 das 133 cadeiras gerenciais, mesmo em cargos de tecnologia – onde a presença dos homens é massiva. O estudo do IBGE demonstra que as mulheres representam somente 20% dos profissionais que atuam em Tecnologia da Informação (TI) no Brasil.
Especialmente nesta área, pesquisas indicam que as mulheres sofrem preconceitos. Conforme levantamento da Yoctoo, consultoria de recrutamento e seleção especializada no segmento de TI, 81% das mulheres já sofreram preconceito de gênero. E, de acordo com 63% das mulheres ouvidas pela pesquisa, é nas empresas onde o preconceito mais acontece. Para elas, o maior desafio é ter que provar sua própria competência técnica o tempo todo (82%).
Roberta Carla Machado, por exemplo, é coordenadora de projetos de TI na dbm Contact Center e divide a sala com nove homens. Ela conta que sua convivência com os pares masculinos é respeitosa. “Mas já tive experiências ruins em empregos anteriores, onde eu não tinha voz. Ninguém prestava atenção nos meus argumentos e sugestões e quando um homem fazia a mesma observação era levado a sério”, conta Roberta.
O fato é que a sociedade desconhece grandes feitos tecnológicos realizados por mulheres ao longo da história, inclusive na área de tecnologia. O primeiro algoritmo a ser processado em uma máquina foi escrito por uma mulher, Ada Lovelace, em meados do século 19. Grace Hopper liderou a equipe que criou o primeiro compilador para linguagem de programação chamado Cobol. Já Hedy Lamarr inventou o sistema que serviu de base para os telefones celulares, apenas para citar alguns exemplos.
Falta de oportunidades para mulheres é barreira para o progresso
Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa McKinsey destaca que a baixa presença feminina no mercado de trabalho de tecnologia é fator limitante ao crescimento econômico. Afinal, não se pode mudar o mundo com menos da metade da população. A conclusão da McKinsey é que escola, família e sociedade devem atuar em conjunto para estimular o interesse das mulheres nas exatas.
Aliás, essa é uma das urgências no mercado brasileiro. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), até o ano de 2024, o Brasil precisará de 420 mil profissionais de Tecnologia da Informação (TI). No entanto, são formados apenas 46 mil profissionais por ano. Como principais dificuldades, a Brasscom destaca, em primeiro lugar (49%), o preconceito de gênero dentro das empresas, seguido pela falta de representatividade feminina na área, como forma de inspirar mais mulheres a trilharem carreiras de tecnologia (48%), e a falta de oportunidades nos processos seletivos (39%).
Maternidade é mais um tabu
Uma pesquisa divulgada pela FGV (Fundação Getulio Vargas) em 2017, chamada “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, feita com 247 mil mulheres, mostrou que metade delas perderam seus empregos após a gravidez. O estudo também constatou que as trabalhadoras que saem de licença-maternidade são demitidas em até 24 meses após o nascimento da criança. Já um outro levantamento, este realizado pelo InfoJobs, revela que 51% das mulheres já sofreram algum tipo de preconceito dentro do ambiente corporativo.
Esse fenômeno é chamado por pesquisadores americanos de “glass ceiling” (na tradução para o português “teto de vidro”) e é definido como uma barreira invisível que dificulta que as mulheres sejam promovidas para cargos importantes.
Contudo, as próprias mulheres, que vivem a maternidade na prática, acreditam que esse preconceito é fruto de uma visão distorcida dos patrões, que focam apenas nos períodos de ausência das colaboradoras durante a licença ou nos momentos em que elas precisam sair mais cedo do trabalho para levar o filho a uma consulta médica por conta de uma febre inesperada.
Para Flavia Medina, gerente comercial da dbm Contact Center, a maternidade é uma lição inclusive para a carreira de gestora porque ensina as mulheres a enxergar a tarefa de liderar de outro ângulo. “Quando nos tornamos mães, muitas vivências do mundo corporativo começam a fazer sentido. A maternidade revela uma força sobrenatural e nos ensina a dosar a emoção e a razão. Nos tornamos mais pacientes e equilibradas, pensamos antes de dar uma resposta rude. Somos menos impulsivas e imprevisíveis. Somos treinadas para isso em casa, com nossos filhos. Por isso, as lideranças femininas estão mais aptas a equilibrar pessoas e processos”, avalia.
Melina Lass, sócia-diretora da dbm Contact Center, acredita que as responsabilidades das mulheres, com a tripla jornada, as ajuda a criar envergadura e as torna capazes de gerenciar, com destreza e facilidade, várias questões ao mesmo tempo. “Naturalmente, elas são dinâmicas e desenvolvem uma capacidade de adaptação. A inteligência emocional e a intuição mais intensa também fazem parte do perfil feminino, por isso elas têm uma facilidade maior para administrar conflitos. É claro que todas essas habilidades podem ser treinadas e os homens conseguem adquiri-las. Assim como as mulheres também podem desenvolver algumas características do perfil masculino para melhorar sua atuação no ambiente em que estão inseridas”, opina.