Novo estudo revela que receber quimioterapia antes e depois da cirurgia pode ser mais eficaz do que apenas a quimioterapia pós-cirúrgica
Um estudo publicado no dia 19 de janeiro no Journal of Clinical Oncology mostrou que seis semanas de quimioterapia neoadjuvante, que é o tratamento administrado antes da cirurgia, além da quimioterapia adjuvante padrão – administrada após a cirurgia -, resultou em um declínio de 28% na recorrência da doença em pacientes com câncer colorretal avançado do que apenas quimioterapia pós-cirúrgica.
O câncer colorretal é o terceiro câncer mais comumente diagnosticado no mundo e casos recentes entre famosos, como as cantoras Preta Gil e Simony, Pelé e Roberto Dinamite indicam a relevância do tema. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimam que em 2023 serão 45.630 novos casos da doença no Brasil, sendo que 23.660 em mulheres e 21.970 em homens.
Os casos estão aumentando, com uma incidência cada vez maior desse tipo de câncer em pacientes mais jovens, com menos de 50 anos, e principalmente sedentários e acima do peso. Em mulheres, é o segundo colocado em incidência, só perdendo para o câncer de mama. Em homens, está deixando o terceiro lugar, pois até então perdia para câncer de próstata e pulmão, seguindo para a segunda posição.
Segundo a oncologista e oncogeneticista Isabella Tavares, a alimentação e estilo de vida saudável influenciam no diagnóstico. “Dietas pobres em fibras, excesso no consumo de alimentos ultraprocessados, excesso de peso corporal e falta de exercícios físicos contribuem para o surgimento da doença”, afirma.
O tratamento padrão para este tipo de câncer, quando localmente avançado – que invadiu o tecido local, mas não se espalhou para tecidos distantes – envolve cirurgia seguida de quimioterapia pós-operatória, também conhecida como quimioterapia adjuvante. “Apesar de seus benefícios, esse tratamento padrão está associado à recorrência da doença em 20 a 30% dos pacientes com câncer colorretal. O novo estudo sugere que antecipar a quimioterapia pode prevenir a recorrência do câncer, o que é animador. Mas é importante ponderar prós e contras do tratamento”, diz Isabella.
Segundo a médica, existem algumas preocupações associadas ao uso de quimioterapia neoadjuvante. “Uma delas são os efeitos colaterais tóxicos devidos que podem tornar o paciente inapto para a cirurgia. Outra possibilidade é causar progressão de tumores quimiorresistentes”, afirma. Apesar disso, o estudo mostra que a quimioterapia neoadjuvante pode ajudar a reduzir o tamanho e o estágio do tumor, facilitando a remoção cirúrgica, além de reduzir o risco de derramamento de células tumorais durante a cirurgia, o que pode ajudar a reduzir o risco de metástase após a cirurgia. “É importante que mais pesquisas sejam realizadas para determinar os resultados de longo prazo após a quimioterapia neoadjuvante”, conclui.
Metodologia do estudo
Para comparar a eficácia da quimioterapia neoadjuvante com a quimioterapia adjuvante padrão, os pesquisadores avaliaram a doença residual ou recorrente durante o período de acompanhamento de 2 anos após a cirurgia.
O estudo controlado randomizado de fase 3 consistiu em 699 pacientes com câncer colorretal localmente avançado cujos tumores não haviam se tornado metástase. Isso incluiu pacientes cujo câncer havia crescido dentro ou através da camada mais externa da parede do cólon ou reto, mas não havia se espalhado para tecidos distantes. Foram seis semanas de quimioterapia antes da cirurgia e outras 18 semanas de quimioterapia após a cirurgia. O grupo de tratamento padrão consistiu de 354 pacientes designados para receber 24 semanas de quimioterapia pós-operatória.
Como resultado, a quimioterapia antes da cirurgia ainda levou à regressão tumoral significativa e foi associada a efeitos colaterais semelhantes aos normalmente observados após a quimioterapia adjuvante.
O estudo constatou que essa abordagem (quimioterapia neoadjuvante) era segura e mais eficaz, reduzindo o tamanho ou a disseminação do tumor e prevenindo a recorrência da doença mais do que a quimioterapia adjuvante padrão.
Sobre Isabella Tavares
Médica Oncologista Clínica, Observership in Gastrointestinal Cancer pela Georgetown University, Washington, DC, EUA, Intensive Course in Cancer Genetic Risk Assessment pelo City of Hope, CA, especialização em Predisposição Hereditária ao Câncer pelo Hospital Israelita Albert Einstein. É doutoranda e mestre profissional pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Paranaense (UNIPAR). Atualmente, trabalha como oncologista clínica no Centro de Excelência em Oncologia em Maringá-PR, é vice-presidente da Associação Médica de Umuarama. É membro do Comitê de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Já publicou vários capítulos de livros, incluindo o Tratado de Predisposição Hereditária ao Câncer. É membro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e Sociedade Européia de Oncologia Clínica (ESMO), assim como dos Grupos de Tumores Gastrointestinais (GTG), de Tumores Ginecológicos (EVA) e de Tumores Hereditários (GETH).