O último Índice de Liderança Reykjavik, pesquisa anual que avalia a percepção do mercado quanto às lideranças femininas e masculinas, trouxe um panorama desanimador para as mulheres. Menos da metade dos entrevistados nos países do G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) afirmaram estar muito confortáveis em ter uma mulher como CEO de uma empresa em seu país. A porcentagem ficou em 47%, o que destaca uma queda de 54% em relação aos dados de 2021. O relatório é promovido em parceria com a rede Women Political Leaders e a Kantar Public e entrevistou mais de 10 mil pessoas em 14 países.
No Brasil, o cenário também se equipara. De acordo com o relatório Women em Business 2022, promovido pela consultoria Grant Thornton, mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de liderança no país. Mesmo assim, quando comparado aos dados dos demais países da América Latina (35%), o Brasil se mantém à frente dos demais, ficando em quarto lugar no ranking global elaborado por esse levantamento.
Para Cristina Boner, fundadora e presidente da ONG Associação de Mulheres Empreendedoras (AME), o mundo está lidando com o surgimento de uma nova geração de mulheres líderes de grandes competências. “Existem pessoas que se sentem desconfortáveis com mulheres no poder de grandes empresas e, também, na política. A diversidade aqui se aplicaria também a todas as minorias que têm acesso limitado a estes espaços de poder”, comenta Cristina.
O mais recente Global Gender Gap Report, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), também constatou a baixa representatividade de minorias em cargos governamentais. No ranking “Empoderamento Político” o país se encontra na 104ª posição, o que reflete o baixo índice de mulheres ocupando cadeiras no parlamento nacional, que ficou em 14,8%. “É comum, para mulheres no início de qualquer carreira, ouvir conselhos como ‘para ter sucesso é preciso se portar e agir como um homem’. Por mais absurdo que isso possa soar, há um tempo atrás parecia fazer sentido, e ainda hoje este preconceito existe”, opina a especialista.
Existem meios para enfrentar o paradigma
A criação de políticas públicas e, também, privadas, podem ajudar a melhorar a equidade de gêneros entre as equipes de liderança. Em relação à diversidade e inclusão, ainda segundo informações do relatório Woman in Business 2022, existem dados com potencial de crescimento em aspectos como novas contratações femininas, promoção das mulheres, igualdade salarial e de gênero, criação de cultura inclusiva, entre outros.
Desenvolver a capacidade de liderança também é uma competência profissional, inclusive, destacada pelo último The Future of Jobs Report da WEF, usado como referência mundial para projeções do meio corporativo. Segundo o relatório, entre as soft skills que serão mais requisitadas até 2025, “Liderança e Influência Social” estão em sexto lugar do TOP 15.
“A mulher deve adquirir conhecimento técnico e capacitação, sempre. Mesmo assim, conhecer o seu íntimo não somente ajuda a instrumentalizar aquilo que se tem de melhor, como também aponta os caminhos para o aperfeiçoamento”, indica Cristina, que também atua com a capacitação de mulheres de baixa renda para ingresso no mercado de trabalho através da ONG AME.
Sobre o crescimento pessoal da mulher, a especialista traz uma recomendação: “A inspiração feminina vem de muitos lugares e, agora, elas estão cada vez mais presentes nas cadeiras de CEO, nas revistas de negócios e em histórias inspiradoras. Mesmo assim, a maior referência deve vir de dentro de si mesma”, finaliza Cristina.