A guerra na Ucrânia, que começou no dia 24 de fevereiro, já fez mais de 240 mil vítimas fatais: 100 mil soldados russos e 100 mil ucranianos, além de 40 mil civis, conforme declaração do presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley. Para além da preocupação humanitária, o conflito militar no leste europeu tem chamado a atenção do mundo para temas como a necessidade de obtenção de energia por métodos alternativos, em um cenário em que 40% do gás natural importado pela Europa vem da Rússia.
Nesse panorama, ganham destaque alternativas como o “xisto”, uma denominação ampla que é utilizada para classificar rochas auríferas. Segundo o engenheiro Daniel Martins de Melo – profissional com experiência na obtenção de energia por métodos alternativos -, o xisto pirobetuminoso é uma rocha sedimentar que contém uma matéria orgânica sólida, chamada querogênio.
“Esse tipo de material não pode ser recuperado pelo método de ‘fracking’. No entanto, o querogênio pode ser convertido em óleo e gás através de uma reação denominada pirólise”, afirma. “O óleo e gás produzidos passam por alguns estágios de processamento e refino e são convertidos aos mesmos derivados de petróleo convencional”, explica.
O preço médio global da commodity atingiu US$ 100 (R$ 538,29) por barril no terceiro trimestre, de acordo com o Bank of Nova Scotia. Nos Estados Unidos, as empresas de produção de petróleo de xisto desaceleram as atividades de extração e mantêm estável o ritmo de produção de petróleo, mesmo com a alta nos lucros, como mostra uma publicação do Estadão Conteúdo compartilhada pela InfoMoney.
Segundo a análise, a produção de petróleo ficou abaixo do esperado por conta de entraves como a alta dos custos relacionados à inflação anual dos Estados Unidos, que ficou em 8,2% em setembro, segundo dados do Bureau of Labor Statistics. No acumulado de 12 meses, a inflação se manteve acima de 8% desde março de 2022.
Como é realizado o processo de extração de óleo de xisto?
Segundo Melo, os processos de extração de óleo de xisto que se mostraram mais tecnologicamente viáveis são os de retortagem de superfície – no qual o xisto é extraído da mina, britado e submetido a temperaturas em torno de 500°C dentro de um reator (retorta) em ambiente anaeróbico.
“Nessas condições, o querogênio se decompõe para formar hidrocarbonetos e carbono residual. Os hidrocarbonetos são removidos da retorta e resfriados. Parte desses hidrocarbonetos se condensa para formar produtos líquidos e parte permanece como gás”, descreve Melo.
Em alguns casos, prossegue, o resíduo rochoso – xisto retortado – pode ser usado para produção de cimento, tijolos e fertilizantes. Apesar disso, normalmente esse resíduo é enviado de volta para a jazida para ser descartado.
Xisto “made in Brasil”
Ao contrário do que se pode pensar, o Brasil está em uma posição privilegiada no cenário mundial quando se trata da obtenção de energia a partir de óleo de xisto, afirma Melo.
Ele destaca que o Brasil possui algumas reservas conhecidas de xisto pirobetuminoso. “A mais importante delas é a reserva Irati, que se estende da região sul – principalmente no estado do Paraná – até partes da região Sudeste e Centro Oeste”, explica. O potencial de produção de óleo da reserva é estimado em bilhões de barris.
Ainda de acordo com o especialista, o Brasil tem um histórico de extração de óleo de xisto há décadas, ainda que em pequena escala. Ele explica que o país já tem uma malha de infraestrutura relativamente bem desenvolvida.
“Em comparação, outros países podem não ter reservas de xisto ou apenas depósitos de difícil acesso. Em outros casos, mesmo se o país tiver depósitos acessíveis, o teor de óleo pode ser baixo”, afirma Melo. “Ou falta infraestrutura local, ou a instabilidade geopolítica afasta o interesse, entre outros elementos”, articula.
“Para o futuro, a viabilidade da extração de óleo de xisto deve ser analisada caso a caso, pois depende de fatores como eficácia e custo da tecnologia empregada, teor de querogênio do xisto, escala do projeto, custo de mineração, preço de petróleo, estratégias de mercado e fatores geopolíticos, entre outros”, conclui.