Por Marcos Ferrari
Não é de hoje que se discute os sérios problemas estruturais experimentados em muitas cidades brasileiras. Há déficits evidentes em setores básicos como saneamento, segurança, educação e mobilidade urbana. O endereçamento de soluções passa necessariamente por uma gestão mais eficiente e moderna, com uso intenso dos benefícios oriundos da tecnologia. A chegada do 5G tem o potencial de ser uma grande aliada no processo de transformação digital do país e pode tornar as cidades cada vez mais inteligentes e conectadas.
A nova tecnologia vai potencializar, por exemplo, a implementação da Internet das Coisas (IoT) no dia a dia dos brasileiros. Segundo estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estima-se uma economia de US$ 1,6 trilhão em 2025 com a implementação do IoT nas cidades em todo o mundo. No Brasil, a previsão é de um ganho econômico potencial de US$ 27 bilhões. Já a consultoria McKinsey aponta que uma cidade de 5 milhões de habitantes que faça investimentos para se tornar mais conectada, pode diminuir a criminalidade em 40%, além de reduzir os gastos com saúde pública em 15%.
Todos esses benefícios ganham um grande impulso com a chegada do 5G, que irá ampliar a conectividade das cidades e incentivar maior adoção de recursos inovadores como semáforos inteligentes e plataformas de transporte conectadas para diminuir o trânsito nos grandes centros urbanos, postes com sensores que otimizam o consumo de energia elétrica, logística de coleta inteligente de lixo.
Embora o Brasil ainda tenha uma longa jornada pela frente, algumas cidades já estão fazendo o dever de casa: de acordo com o Ranking de Cidades Amigas do 5G elaborado pela Teleco para a Conexis Brasil Digital, a cidade de Ponta Grossa, no Paraná, e as capitais Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR) estão na liderança com medidas para incentivar a implantação de infraestrutura de telecomunicações e a expansão da conectividade. São José dos Campos (SP), Uberlândia (MG), Jacareí (SP), São Paulo (SP), Joinville (SC), João Pessoa (PB) e Chapecó (SC) completam a lista das 10 mais preparadas.
Em outros países, há boas referências. De acordo com o Índice IESE Cities in Motion, Londres e Nova York disputam há alguns anos liderança no ranking de cidades mais inteligentes do mundo. Outras grandes metrópoles vêm a seguir, como Paris, Tóquio e Hong Kong entre outras. Enquanto Singapura já tem uma frota de ônibus autônomos e São Francisco investiu em aplicativos de mobilidade para deficientes visuais e para ciclistas (apontando as melhores rotas da cidade).
O que caracteriza o sucesso de todas essas cidades na implementação de soluções tecnológicas inteligentes é o compromisso da gestão pública em criar as condições necessárias para a modernização dos espaços urbanos. O Brasil ainda precisa avançar muito em questões fundamentais, como a diminuição da carga tributária, atualização das leis municipais de antenas, entre tantas outras.
É preciso haver projetos sólidos de políticas públicas que fomentem a conectividade e estimulem o avanço tecnológico. O 5G pode ser visto como um aliado imprescindível para o desenvolvimento das cidades brasileiras e agora que essa tecnologia chegou ao país, é possível começar a planejar como disseminar essa tecnologia para os centros urbanos.
Marcos Ferrari é presidente-executivo da Conexis Brasil Digital.