Estudo de 2021 associou o uso de dispositivos eletrônicos ao aumento de casos de olho seco em crianças e adolescentes
O olho seco, também chamado de síndrome do olho seco ou ceratoconjuntivite seca, é uma doença que afeta a superfície ocular e pode causar sintomas bastante desconfortáveis. A maioria dos casos afeta adultos, mas atualmente é cada vez maior o número de crianças e adolescentes com sintomas sugestivos de olho seco.
Os especialistas acreditam que a prevalência do olho seco em crianças é subestimada, porque a condição é frequentemente atribuída a outras causas de irritação ocular, incluindo alergias, algo muito comum no público infantojuvenil.
Porém, um estudo recente, realizado em 2021, associou o uso prolongado e excessivo de tablets e celulares ao aumento da prevalência do olho seco em crianças e adolescentes. Segundo os pesquisadores, quando as crianças ficam com os olhos abertos para manter o foco na tela ocorre uma redução na taxa de intermitência (piscadas) em até 5 a 6 vezes/minuto.
Redução da frequência de piscar é o principal fator de risco
Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra especialista em estrabismo, durante o uso de dispositivos eletrônicos piscamos menos e isso causa problemas no filme lacrimal (lágrima), responsável pela nutrição e saúde da superfície ocular. “O ato de piscar, ou seja, abrir e fechar as pálpebras, é essencial para que o filme lacrimal se distribua uniformemente pela superfície ocular”.
“Essa distribuição é essencial para assegurar que a superfície ocular, que inclui a córnea, esteja lubrificada, hidratada, limpa e protegida. Quando piscamos menos, o risco de desenvolver o olho seco aumenta. As crianças podem apresentar sintomas como sensibilidade à luz, secura ocular, vermelhidão, desconforto visual, coceira e dor de cabeça”, aponta Dra. Marcela.
Nas crianças, há outras causas do olho seco como a artrite reumatoide juvenil, diabetes juvenil e síndrome de Sjögren. O tempo mais seco, alergias e infecções também podem causar sintomas como a secura ocular, mas a diferença é que nesses casos é uma manifestação temporária.
Diagnóstico do olho seco em crianças
Atualmente, é possível realizar um exame para avaliar a superfície ocular e determinar se há alterações sugestivas do olho seco, tanto em crianças como em adultos. O exame se chama Tearcheck. O teste é realizado em 10 minutos e permite ao oftalmologista avaliar as condições do filme lacrimal e da superfície ocular por meio de duas câmeras de alta resolução.
Prevenção e tratamento do olho seco em crianças
A melhor forma de prevenir o olho seco em crianças e adolescentes é limitar o tempo de uso de celulares, tablets e computadores. Além disso, os pais precisam estar atentos ao fato de que crianças menores de 2 anos não devem ser expostas aos dispositivos eletrônicos.
“Outra atitude é incentivar que as crianças e adolescentes façam pausas a cada 20 minutos em frente às telas. Se possível, explique a importância de piscar mais frequentemente para garantir que o filme lacrimal lubrifique a superfície ocular com mais eficácia”, reforça Dra. Marcela.
“Por fim, o ideal é reduzir o tempo nas telas e aumentar o tempo das atividades ao ar livre e dos esportes. Isso vai ajudar na prevenção do olho seco, assim como previne o surgimento da miopia ou sua progressão, algo também ligado ao uso excessivo das telas”, finaliza a especialista.