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Cirurgia inédita para tratamento contra o câncer foi realizada no Paraná

Pela primeira vez, procedimento foi realizado em alguma cidade do interior do Brasil

Na última semana (09), Cascavel, localizada no oeste do Paraná, foi palco de um procedimento inédito no Estado – o primeiro realizado em cidade do interior no Brasil. Trata-se da quimioterapia intraperitoneal por aerossol (PIPAC), que utiliza técnicas avançadas no controle de câncer em pacientes metastáticos. O caso em questão foi de um paciente do sexo masculino, de 64 anos, morador de Santa Tereza do Oeste, diagnosticado com câncer colorretal, que avançou para o peritônio, uma espécie de membrana serosa que reveste as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos.

O procedimento foi realizado no Hospital Policlínica, por uma equipe do CEONC Hospital do Câncer que atuou em parceria com a equipe técnica da Bhio Supply (empresa desenvolvedora de equipamentos avançados para cirurgias que utilizam videolaparoscopia).

“O câncer de peritônio é bastante agressivo e, por isso, afeta muito a qualidade de vida do paciente. Neste caso em específico, conversamos com vários médicos, avaliamos repetidamente o quadro clínico e, depois de muito estudo, entendemos que a PIPAC poderia ser muito efetiva”, indica o médico cirurgião oncológico do CEONC Hospital do Câncer e responsável pelo procedimento, doutor Bruno Kunz Bereza.

Nesse sentido, após variadas etapas de tratamento, a PIPAC oportunizou uma nova frente de combate à doença. Para isso, uma equipe da Bhio Supply (empresa desenvolvedora da tecnologia no País) e o médico Eduardo Dipp, da PIPAC Brasil, acompanharam o procedimento, dando instruções específicas sobre a técnica e, principalmente, orientando os médicos de Cascavel, que seguirão realizando o tratamento posteriormente.

Na prática, após a limpeza da área a ser tratada, por meio de duas incisões minimamente invasivas e que mediam menos de 1 cm cada, foi inserida a cânula e o restante do equipamento que transforma o medicamento quimioterápico em micropartículas de aerossol.

“Essa transformação permite a ação direta na parede abdominal doente, área que não é atingida pela quimioterapia convencional. Com o equipamento corretamente inserido e todas as checagens feitas, nós acionamos, em curta distância, o disparo do medicamento, que depois de cerca de meia hora, decanta e forma uma espécie de película no tumor, agindo diretamente no local”, explica o médico.

Sobre a técnica

A PIPAC foi realizada pela primeira vez no Brasil em 2017, em Porto Alegre. Desde então, foram realizados mais de 50 procedimentos no País, sendo que este realizado nesta sexta-feira (09), em Cascavel, foi o primeiro do Paraná – e, também, o primeiro a ser realizado em uma cidade do interior.

A cirurgia é baseada em técnicas minimamente invasivas que aplica a quimioterapia em formato de spray, com o objetivo de promover uma penetração mais profunda do medicamento nos tecidos tumorosos. O spray aerossolizado potencializa os efeitos da quimioterapia, oferecendo baixa morbidade, recuperação rápida e possibilidade de procedimentos repetidos, além de apresentar uma boa resposta para a regressão da neoplasia.

Segurança ambiental e do paciente

Antes do procedimento ser realizado, foram tomados vários cuidados que dizem respeito tanto a segurança da equipe envolvida, como também do paciente e do ambiente cirúrgico. Isso porque, quando transformado em spray aerossolizado, o medicamento quimioterápico pode ficar suspenso no ar – caso haja algum vazamento. Portanto, a equipe tomou diversas precauções.

“Ficamos planejando esse procedimento durante algumas semanas. Alinhamos tudo com o Hospital Policlínica, combinamos os detalhes com a equipe e estávamos todos preparados para o passo a passo”, observa a médica cirurgiã oncológica do CEONC Hospital do Câncer, doutora Tariane Foiato.

Para isso, durante a realização do procedimento, foi realizado um “isolamento” da sala onde foi realizada a cirurgia e a porta ficou selada por cerca de trinta minutos (tempo em que o medicamento agia enquanto partículas aerossolizadas). Na área externa da sala, os monitores estavam disponíveis para acompanhamento dos médicos e havia, também, telas que transmitiam, em tempo real, as imagens do paciente.

“Tudo feito para que não houvesse nenhum erro. E caso houvesse, tínhamos também um plano em que os médicos cirurgião e anestesista entrariam na sala de forma segura para atender qualquer possível intercorrência”, detalhou a médica.

Recuperação

Com o primeiro procedimento feito, estão programadas a realização de, pelo menos, mais duas operações como essa, com o objetivo de promover um cronograma completo de tratamento no paciente. Após cada uma dessas sessões, o paciente tem recuperação relativamente rápida e sem muitos efeitos colaterais.

“Não é nada muito misterioso: o paciente veio para o centro cirúrgico e recebeu a quimioterapia normalmente, mas de uma forma mais avançada e efetiva. Foi tudo muito bem executado e fiquei bastante admirado por ver a precisão da equipe. O Hospital estava bem preparado, os médicos e enfermeiros estavam muito serenos e tudo correu muito bem. Agora, esperamos que o paciente possa ter uma melhora na qualidade de vida e que, aos poucos, a PIPAC passe a se tornar rotina nos tratamentos em que ela se faz necessária”, enfatiza o médico cirurgião especialista em aparelho digestivo e fundador da PIPAC Brasil, doutor Eduardo Dipp de Barros.

Equipe

O primeiro procedimento da PIPAC no Paraná foi realizado no Hospital Policlínica, em Cascavel, com o envolvimento dos seguintes profissionais: doutor Bruno Kunz Bereza, cirurgião oncológico do CEONC; doutora Tariane Foiato, cirurgiã oncológica do CEONC; doutor Eduardo Dipp de Barros, cirurgião especialista em cirurgia do aparelho digestivo, da equipe PIPAC Brasil; doutor Julio Saruhashi Junior, médico anestesista; Neide Bianchezzi, instrumentadora cirúrgica; Karen Klein, farmacêutica do CEONC, além de enfermeiros e técnicos.