A ausência de um espaço ‘livre’ com chão de terra não é empecilho para não inserir o verde em áreas residenciais e comerciais;
Presentes na CASACOR São Paulo, a dupla de paisagistas Catê Poli e João Jadão explica quais são os critérios a serem avaliados para realizar um ambiente com a presença da natureza cultivada em vasos e floreiras
Dentro do Conjunto Nacional, os profissionais Catê Poli e João Jadão provam que é possível sim vivenciar os prazeres de um jardim elaborado na área interna do espaço onde é realizada a 35ª edição da CASACOR São Paulo 2022. Com a escolha certa das espécies, a Praça Paulista Augusta foi concebida com vasos de diferentes alturas e diâmetros, bem como a disposição de floreiras | Foto: Renato Navarro
Ter um espaço verde dentro de casa é desfrutar daquele cantinho de tranquilidade e contato com a natureza que muitos sentem falta, principalmente quando se vive em grandes metrópoles como São Paulo. Com a cena imobiliária marcada por prédios, muitos se privam dessa proximidade com o argumento de não terem um espaço apropriado e com solo livre para o cultivo de espécies. Em vista disso, os paisagistas Catê Poli e João Jadão, dupla que se reuniu mais uma vez para mais uma edição da CASACOR São Paulo, comprovam que espaços sem terra e parcialmente iluminados podem sim se ganhar um jardim ‘para chamar de seu’.
Na mostra que acontece no prédio do Conjunto Nacional, em plena capital paulista, a Praça Augusta Paulista provê o contato com a natureza mesmo com a inviabilidade de plantar diretamente no chão. No paisagismo produzido por Catê Poli e João Jadão, vasos vietnamitas com diferentes alturas e diâmetros, bem como floreiras, são responsáveis por trazer o clima natural no prédio do Conjunto Nacional, onde é apresentado à mostra.
Ambos comprovam que criar um jardim vai muito além da prática de um hobby isolado ou um item a mais na decoração: o ato de cultivar faz bem e pode ser considerado uma forma de terapia. “Ter muitas plantas sempre melhora o clima de casas e apartamentos, pois as espécies promovem a troca de umidade e a purificação do ar que resulta na sensação de frescor. Pelos conceitos de biofilia e neuroarquitetura, a proximidade com o natural exerce um bem-estar neurológico no indivíduo, que passa a sentir paz e equilíbrio”, ressalta Catê.
Os primeiros passos para montar um jardim com vasos e floreiras
De acordo com profissionais, uma área verde pode ser composta em ambientes de todos os tipos e tamanhos. Para tanto, o primeiro passo elencado por eles é a observância do local para definir se o jardim será vertical ou horizontal. Em varandas de apartamentos, vasos e as floreiras, também conhecidas como jardineiras, desempenham muito bem o papel de suprir o espaço e as condições para o crescimento.
A próxima etapa consiste em pesquisar as espécies de acordo com as características do espaço. “O ambiente é bem ventilado? Conta com luz natural abundante ou parcial? Essas são questões básicas que nos auxiliam na definição das plantas que melhor se desenvolverão na área onde o jardim será elaborado”, relaciona Jadão.
No perímetro da Praça Paulista, um jardim orgânico e repleto de camadas de plantas convencionais como Samambaia, Fênix, Costela de Adão, Guaimbê | Foto: Renato Navarro
Vasos ou floreiras?
No que diz respeito ao recipiente que as abrigará, os paisagistas detalham que não há uma regra determinante, mas que a escolha acompanha as características de crescimento das plantas. As dimensões de um vaso devem comportar, por exemplo, o tipo de raiz. “As mais profundas demandam recipientes maiores”, enfatiza Catê, que exemplifica as palmeiras e arbustos do tipo limoeiro e jabuticaba como espécies com raízes mais profundas. Por outro lado, as floreiras são indicadas para folhagens como samambaias, cactos e peperômias, além de cercas vivas como azaléia, camélia e pingo-de-ouro.
Pensando nas características, o vaso é geralmente mais arredondado ou quadrado, apresentando largura e alturas proporcionais. O mercado de paisagismo também conta com as ‘bacias’, tipologia de vasos mais baixos. Outra alternativa é trabalhar com as floreiras, conhecidas por seu formato mais retangular, que se assemelha a um paralelepípedo. O paisagista João Jadão compartilha suas orientações sobre a peça ideal: “o vaso perfeito é aquele que comporta o formato, tamanho e dimensões das raízes da planta e que também caiba no bolso do morador, pois hoje em dia o mercado oferece uma ampla variedade de acabamentos e materiais que podem custar desde R$ 40 até 30 mil reais. A aparência depende do investimento que será feito”, explica.
Upcycling
Para inspirar quem deseja cultivar um jardim, Catê e João incentivam a ideia do reaproveitamento de materiais como estratégia para incentivar uma consciência sustentável. A tendência do upcycling se traduz como técnica que vem ganhando cada vez mais espaço no paisagismo e no décor, provendo um novo ciclo de vida para peças, a priori, descartadas e sem uso. “Com uma simples reforma e uma dose de criatividade, podemos ressignificar algo que foi deixado de lado em um novo objeto. Foi assim que produzimos as floreiras que trouxemos para a CASACOR”, relembra Catê.
Em uma proposta de reciclagem, o processo de upcycling criado pelos paisagistas se consistiu em pintar 25 floreiras que estavam desprezadas no depósito do fornecedor. Com os novos trajes, foram empregadas no ambiente e com certeza figurarão em outro espaço após o término da mostra.
Combinação de vasos e floreiras encantam os visitantes da Praça Paulista Augusta, que podem sentar-se nos sofás posicionados no centro para admirar as espécies e a luz do final da tarde que adentra os vitrôs do Conjunto Nacional | Foto: Renato Navarro
Hora de colocar a mão na terra
Para o plantio, antes da de inserir a terra é necessário fazer a drenagem com argila ou pedra brita. Na sequência, uma manta de bidim é posta ao fundo com a finalidade de drenar e atuar como uma espécie de filtro. Só então que o vaso ou floreira estará apto para receber uma camada de terra adubada, vegetal ou substrato até completar a altura.
Os paisagistas advertem sobre a importância de não ultrapassar o nível da terra em uma muda de planta, pois corre-se o risco de afogamento da espécie. Com essas recomendações principais, Catê e João estimulam a todos o cultivo de jardins nas residências, pois além de fazer o bem ao morador, o impacto também será percebido no âmbito macro de nossos bairros, cidades e o planeta.
Sobre Catê Poli
Arquiteta e urbanista de formação e paisagista desde seu primeiro estágio em 1990, Catê Poli atuou em diversos escritórios de São Paulo até se lançar em trabalho solo em 1998. No escritório Catê Poli Paisagismo, elabora projetos de paisagismo e arquitetura de exteriores – desde pequenas casas até grandes fazendas e haras. Esteve presente nas edições 2007, 2008, 2011, 2018 e 2021 da CASACOR São Paulo. Catê é atualmente colunista do site da revista Casa e Jardim e do portal Paisagismo em Foco.
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Sobre João Jadão
Paisagista especializado em arquitetura da paisagem, João Jadão criou em 1987 a empresa Planos e Plantas. Tem expertise tanto na área de projetos quanto em execução de jardins de pequenos a grandes portes. Além de trazer no currículo diversas premiações nacionais, o escritório, em 2015 e 2016, assinou projetos vencedores internacionalmente, em Portugal e Espanha. É a quinta vez que João Jadão participa da CASACOR São Paulo, e atualmente responde como vice-presidente da Associação Nacional de Paisagismo (ANP).
(11) 98115-3399 | www.joaojadao.com.br
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