Com 17 casos confirmados de varíola do macaco em todo o Brasil, muita desinformação a respeito da doença e dúvidas começam a circular com a mesma intensidade em que surgem casos da doença
Para esclarecer as dúvidas, a A CASA – espaço de conexão entre agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate às endemias (ACE), elaborou uma lista – respondida pelo médico epidemiologista André Ribas – com os principais mitos e verdades sobre a doença. André Ribas, consultor científico da A CASA, é doutor em Epidemiologia pela Faculdade de Medicina da UNICAMP e professor de Epidemiologia e Bioestatística na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic de Campinas.
– A varíola de macaco é transmitida por meio de um mosquito
MITO. A primeira questão a ser esclarecida é que, apesar do nome, ela não é transmitida em geral do macaco para o ser humano. Acredita-se que o principal reservatório desse tipo de varíola sejam os roedores africanos. Chamam de “varíola dos macacos” pelo fato de o vírus ter sido identificado, pela primeira vez, em um surto numa gaiola de macaco, que era utilizado para pesquisa. Porém, os macacos não são provavelmente os principais reservatórios da natureza.
– O atual surto é uma mutação do vírus
MITO. O que motivou o atual surto ainda não está devidamente explicado. Existe uma possibilidade de ter sido um aumento na capacidade de transmissão. Outra hipótese é de ter sido consequência de um evento atípico de super espalhamento. Houve algumas festas na Europa, o que pode ter gerado um evento em que se espalhou muito o vírus. O que estamos vendo é consequência dessa onda de transmissão e agora cabe a nós observarmos se o surto irá ou não evoluir.
– As irritações ou lesões de pele decorrentes da doença desaparecem após a cura
VERDADE – A lesão em si, some. A pessoa para de transmitir a doença quando as últimas crostas caem e, desta forma, o que fica é a cicatriz. A lesão pode formar queloides (uma cicatriz que fica saliente). Depende muito da gravidade da forma clínica, mas existem alguns casos publicados na Europa em que as lesões não são tão graves. Em geral, são lesões pequenas e localizadas. A gravidade da sequela das feridas vai depender do grau de espalhamento das feridas durante a fase ativa da doença.
– A transmissão ocorre apenas por meio da interação humano e macaco
MITO – A transmissão não ocorre por meio da relação com o macaco. Na África, provavelmente houve uma interação entre alguns pequenos roedores vivos. Também não está descartada a hipótese da transmissão por meio de partículas respiratórias.
– As medidas de prevenção são as mesmas da varíola de macaco e da Covid-19?
MITO. As medidas de prevenção contra a monkeypox (varíola do macaco) envolvem diminuir o contato com as pessoas com as feridas ou na fase prodrômica, em que se começa a sentir os sintomas da doença, como febre e mialgia (dor muscular). A varíola não é transmitida tão facilmente quanto ocorre com a Covid-19. É importante diferenciar uma coisa da outra. Na Covid-19, a máscara é importante, pois a transmissão ocorre por meio de gotículas respiratórias de forma relativamente fácil. Já na monkeypox, a transmissão ocorre, principalmente, quando há um contato mais íntimo e prolongado.
– A transmissão do vírus é mais difícil e o risco aumenta quando há contato próximo prolongado
VERDADE. A transmissão ocorre por meio de contato mais prolongado, em especial nos contatos domiciliares, contatos sexuais e contatos mais íntimos. Existe sim transmissão respiratória na varíola, mas não é uma transmissão tão fácil quanto da Covid-19. Então, não está recomendado, por exemplo, o uso de máscara de maneira indiscriminada para controlar a doença. Agora, quem cuida de paciente com monkeypox, precisa sim usar máscara. A equipe de saúde precisa usar as mesmas proteções que são adotadas no cuidado ao paciente com Covid-19.
– A gestante pode transmitir varíola do macaco para o feto
VERDADE. Em gestante, a transmissão de monkeypox é perigosa. Há o risco de transmissão para o feto e isso pode resultar em aborto espontâneo ou então o bebê pode nascer com as lesões e, isso, resultar em morte prematura. Não tem sido descrito má formação congênita como o Zika Vírus, por exemplo, mas a criança sofre consequências.
– O período de incubação da doença é de 5 a 21 dias
MITO. O período de incubação pode ser de 5 a 21 dias, mas também existem casos em que ele é mais extenso, podendo chegar a 30 dias de incubação, o que dificulta bastante o rastreamento, pois a pessoa pode ter tido contato e desenvolver a doença bastante tempo depois.
– A varíola tem uma taxa de letalidade baixa
VERDADE. Segundo os dados da OMS, a letalidade na Nigéria é em torno de 3% – onde é registrada a mesma linhagem europeia, que está se espalhando em vários países. A linhagem da República centro-africana tem uma letalidade maior, chegando a 10%. No surto atual, ainda não houve morte na Europa, talvez por estar no começo. Porém, também não sabemos se a taxa de 3% de letalidade tem a ver também com a qualidade assistencial na Nigéria (sistema assistencial pior do que a Europa). A doença que sido diagnosticada com maior predominância entre adultos e, em particular, homens que declaram fazer sexo com outros homens. Acredita-se que pode haver uma interação íntima, não necessariamente sexual, que favoreça a transmissão.
– As complicações da doença envolvem infecções secundárias
MITO. As possíveis complicações da doença são encefalite (inflamação no cérebro). infecções respiratórias, infecções na pele, entre outras. Na África, existe um problema relevante com as infecções de pele em crianças pequenas que, se não tratadas adequadamente, podem matar, pois é uma porta de entrada de vários patógenos.
Sobre A CASA – Construída em 2022 para abrigar os profissionais que atuam como Agente Comunitário de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE), protagonistas da promoção da atenção primária à saúde no país. A CASA é uma realização do IPADS em parceria com o CONASEMS, CONACS e a Fundação Johnson & Johnson. Este espaço reúne uma série de conteúdos, em diferentes formatos, selecionado pela equipe do projeto A Casa, sobre questões relacionadas à atuação e à qualidade da formação dos agentes.
Sobre o IPADS – O IPADS é uma organização sem fins lucrativos, que atua na perspectiva de contribuir com o desenvolvimento social e com a melhoria da qualidade de vida da população, apoiando a formulação, implantação e avaliação de políticas, programas e projetos. O trabalho do Instituto é caracterizado pela interdisciplinaridade, principalmente pela atuação conjunta de seus associados que buscam uma abordagem integral das necessidades do cidadão.
Sobre o CONASEMS – O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) nasceu a partir do movimento social em prol da saúde pública e se legitimou como uma força política, que assumiu a missão de agregar e de representar as 5570 secretarias municipais de saúde do país. Desde 1988, promove e consolida um novo modelo de gestão pública de saúde baseado em conceitos como descentralização e municipalização.
Sobre o CONACS – A Confederação Nacional dos Agentes de Saúde (CONACS) foi uma entidade criada em 1996 pelos ACS e ACE com o objetivo de ser a representante máxima dessas categorias. Atua como importante força política em prol dos direitos associados ao trabalho dos agentes de saúde. É formada por sindicatos e associações desses profissionais e na década de 1990 sua atuação foi fundamental para consolidação de leis que criaram a profissão e regulamentaram o vínculo empregatício. A CONACS tem forte potencial de mobilização junto a ACS e ACE de todo o país.