A perda auditiva vai muito além do fato de não ouvir bem, é uma deficiência que afeta tanto a saúde física quanto a mental
Até 2050, uma em cada quatro pessoas, o que equivale a mais de 2,5 bilhões de indivíduos, podem ser atingidas pela perda auditiva, segundo um levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, existem uma série de fatores que podem estar relacionados ao problema e que podem variar entre causas internas e externas ao organismo de cada paciente. Por isso, entre as cinco maiores prioridades da OMS, está presente a conscientização, o tratamento e a reabilitação para o problema em escala global.
No Brasil, um levantamento feito em 2019 pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda revelou que existem cerca de 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva no país, sendo que, desse total, 2,3 milhões têm deficiência severa. Uma das principais preocupações de especialistas é que, além da doença em si, a perda auditiva pode ser responsável por uma série de reflexos na saúde física e mental do paciente quando não tratada adequadamente.
A fonoaudióloga, especialista em Audiologia e diretora clínica da SONORITÀ Aparelhos Auditivos, Tatiana Guedes, conta que um dos maiores obstáculos atuais em relação à perda de audição está no preconceito e resistência ao uso. Além da piora dos sintomas que podem ocorrer sem o acompanhamento adequado, Tatiana ainda cita todos os reflexos que o problema pode causar.
“Um deles é o isolamento social que impede o paciente de acompanhar as conversas, participar das reuniões familiares, manter a atenção em tarefas cotidianas, falar ao telefone e realizar atividades que antes apreciava como ouvir música, escutar a televisão e frequentar missas ou cultos, entre outras atividades prazerosas”, destaca.
Além do cansaço e esforço para viver esses momentos, a falta de apoio de quem está por perto também causa bastante desânimo. “Às vezes, por não ter conhecimento do problema, os familiares e outros entes queridos podem não entender a dificuldade do paciente ou responder com impaciência quando ele pede para repetir a mesma frase muitas vezes. Isso acaba desestimulando ainda mais o indivíduo a se comunicar, acrescenta.
É exatamente a sucessão de situações como essa que podem servir de porta de entrada para casos de ansiedade, isolamento social e depressão. “O paciente passa a evitar qualquer situação que o faça se sentir excluído ou que dê a impressão de que está atrapalhando. Consequentemente, ele começa a apresentar uma fobia social e se exclui cada vez mais. Essa condição causa um isolamento social importante, o que, em muitos casos, tem como consequência, o surgimento dos quadros de depressão”, alerta Tatiana.
A perda auditiva é uma deficiência que afeta a vida do paciente em vários aspectos. “É muito mais do que o fato de ouvir ou não. Além disso, escutamos com os ouvidos, mas, na verdade, quem ouve é o cérebro. E, a partir do momento em que o cérebro deixa de receber estímulo sonoro de maneira adequada, essa privação faz com que ele comece a “adormecer”, iniciando um declínio cognitivo. Além da capacidade de compreensão de fala ser duramente afetada, estudos científicos comprovam a diminuição da atenção, memória e concentração. E, principalmente, a pessoa que tem a perda auditiva e não faz uso dos aparelhos auditivos, tem uma predisposição maior a desenvolver doenças como demência ou Alzheimer, já que o cérebro não está sendo estimulado da maneira que deveria”, aponta a especialista.
Portanto, “o tratamento adequado da perda auditiva é fundamental, assim como a conscientização e participação de toda a família”, ressalta.
Tecnologia a favor da autoestima
Tatiana frisa que, “atualmente, os aparelhos são muito discretos e apresentam tecnologia avançada. O preconceito em usar aparelhos por serem muito grandes é coisa do passado. Esse medo, comum a muitos pacientes, já pode ser deixado de lado.
Aparelho auditivo atualmente é sinônimo de qualidade de vida. Significa chegar ao final do dia mais relaxado e tranquilo porque não precisou ficar o tempo todo prestando atenção para tentar entender o que as pessoas estão dizendo. Isso acontecerá de maneira natural. O uso do aparelho auditivo é de fato um tratamento de saúde e não pode ser negligenciado”, diz.
Fonte: Tatiana Guedes Santólia Martini, Fonoaudióloga, CRFa 6-3289. Sócia e diretora clínica da SONORITÀ Aparelhos Auditivos. Especialista em Audiologia, com vasta experiência em Seleção, Indicação e Adaptação de Aparelhos Auditivos.