Melhor custo-benefício e expansão dos serviços de delivery impulsionaram o melhor desempenho em mais de 30 anos
Inflação, aumento estratosférico do preço dos combustíveis, desvalorização do real perante ao dólar, diminuição do poder aquisitivo… O horizonte nebuloso gera um clima tempestuoso nas finanças, mas a crise não é igual para todos.
O impacto é heterogêneo, e para alguns segmentos, como o das motocicletas, o “céu é de brigadeiro”, azul e sem nuvens. Conforme dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), de janeiro a outubro de 2021, foram produzidas mais de um milhão de motocicletas.
A evolução representa crescimento de 28%, comparado ao mesmo período do ano anterior. O mercado permanece aquecido; só no primeiro trimestre de 2022 a venda de motos novas aumentou em 33,7%.
Transporte e meio de sobrevivência
A pandemia abalou o comércio global e gerou sequelas na economia; muitos setores deram marcha à ré e lutam para retomar a normalidade. Contrariando a tendência, o mercado brasileiro de motos se favoreceu com a situação adversa e está turbinado. O bom desempenho foi impulsionado pelo aumento do valor dos automóveis, expansão do delivery e alta da gasolina.
A explicação vem, também, da necessidade de adaptação. Em tempos de crise, para driblar as adversidades, é preciso criatividade e resiliência. A queda do poder de compra das famílias, o desemprego e a menor disponibilidade de crédito levou à substituição de produtos mais caros por outros mais acessíveis.
O malabarismo vai da decisão do cardápio alimentar ao meio de locomoção. Nesse cenário, a motocicleta desponta como alternativa de transporte mais barato e também como ferramenta de trabalho, por meio de atividades como mototáxi e delivery.
Recorde de vendas
As vendas de carros zero quilômetro registram queda, enquanto o emplacamento de veículos sob duas rodas superou, no mês de março, pela primeira vez em mais de 30 anos, o de automóveis. O crescimento foi de 76%, comparado ao mesmo mês do ano passado.
O cenário é tão favorável à indústria que quem procura uma moto precisa esperar na fila por, em média, 30 dias. Os modelos populares com motores de baixa cilindrada, até 160 cc, são os mais cobiçados e representam mais de 80% dos licenciamentos. A disparada nas vendas vem no rastro da dificuldade econômica. Além de ser um veículo mais barato, consome menos combustível.
Por menos de R$ 10 mil, é possível comprar uma moto, que pode ter o desempenho de até 30 quilômetros com um litro de gasolina. A performance não é alcançada nem de longe pelos modelos híbridos dos automóveis. Com o combustível subindo praticamente toda semana, ao levar em conta o custo-benefício, a moto sai na frente com ampla vantagem.
Expansão do delivery impulsiona as vendas
A pandemia acelerou mudanças que já estavam em curso no comportamento do consumidor. Com o distanciamento social, o mercado de delivery cresceu exponencialmente. O que no primeiro momento era uma necessidade, se tornou comodidade e otimização de tempo. Transformações que chegaram para ficar.
A atuação das empresas se expandiu do tradicional fast-food para a compra do mercado. Tudo feito por meio de aplicativos como o Americanas Delivery, com itens de farmácia, supermercados, presentes e petshops na mesma plataforma. Para que os produtos cheguem rapidamente, é preciso ter agilidade na entrega, e aí entra em cena o motoboy.
O mercado de delivery anda de braços dados com a venda de motocicletas. Com o desemprego crescente, muitos enxergaram no veículo uma fonte de renda, e os motofretistas cruzam as ruas das cidades, embalados pela popularização dos serviços de entrega.