Nem sempre as diferenças entre os transtornos mentais são claras para os pacientes e pessoas em geral; psiquiatra e diretor da SIG Residência Terapêutica, Ariel Lipman, explica que as doenças podem compartilhar sintomas, mas necessitam de tratamentos especializados e distintos
Você sabe a diferença entre depressão, transtorno bipolar e personalidade borderline? Se a resposta for não, saiba que você não é o único. Por apresentarem sintomas similares, esses três transtornos mentais são confundidos com frequência, o que pode inclusive dificultar o diagnóstico inicial.
E parte dessa confusão deve-se ao fato de o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ter catalogado, atualmente, mais de 300 tipos de transtornos. “Existem centenas de tipos de transtornos mentais, embora alguns sejam mais frequentes, como os três citados. Mas é muito importante diferenciar cada um, para que o paciente tenha conhecimento do que o afeta e receba tratamento adequado”, comenta o dr. Ariel Lipman, psiquiatra e diretor da SIG Residência Terapêutica.
O transtorno de personalidade borderline, por exemplo, é uma condição na qual as variações de humor acontecem repentinamente, podem ser segundos, minutos, ou no máximo, horas. “É um comportamento bem diferente do transtorno bipolar, em que o humor varia por dias, semanas ou até mesmo meses”, esclarece o médico.
Além disso, a instabilidade emocional no caso do transtorno de personalidade borderline, mistura rapidamente depressão profunda e euforia, comportamentos impulsivos e autodestrutivos, ansiedade, raiva e descontrole emocional. “As características da personalidade são exacerbadas e trazem disfunções, que podem trazer complicações para quem convive, por conta da intensidade na vida desse paciente”, acrescenta Lipman.
Já no transtorno afetivo bipolar, o pólo depressivo possui características similares à depressão – como perda de interesse nas atividades que a pessoa realizava anteriormente. “Por outro lado, no pólo da mania, o paciente passa a demonstrar euforia, hiperatividade e autoconfiança, e também pode manifestar sintomas psicóticos como delírios de grandeza, aumento da libido e atividade sexual exacerbada, além da falta de avaliação em situações de risco”, explica o psiquiatra.
Números indicam que o transtorno afetivo bipolar atinja aproximadamente 2% da população mundial e o transtorno de personalidade borderline alcance cerca de 6% das pessoas no mundo. Já no caso da depressão, ela afeta cerca de 4% de pessoas de todas as idades em todo o mundo.
No entanto, vale ressaltar que os casos podem ser subnotificados, devido à recusa das pessoas e familiares em aceitarem que precisam de ajuda, de acordo com Lipman. “Diversos pacientes demoram para receber um diagnóstico, por não acreditarem que algo esteja errado. Eles se sentem bem no período de euforia”, explica o psiquiatra.
E durante a fase da depressão, que pode durar meses, é possível que o paciente seja diagnosticado “somente” com depressão, o que é preocupante pois os tratamentos são diferentes. E ao ser tratado somente com antidepressivos, os episódios de euforia podem se intensificar.
Para ajudar a esclarecer as dúvidas acerca dos transtornos, Lipman listou os principais sintomas de cada um deles:
Personalidade Borderline:
- Autoimagem distorcida;
- Baixa autoestima;
- Relações instáveis e turbulentas;
- Emoções intensas;
- Descontrole emocional;
- Impulsividade;
- Imprudência;
- Agressividade;
- Tendências compulsivas;
- Alterações de humor;
- Automutilação;
- Comportamento suicida;
- Sentimento de abandono;
- Solidão.
Transtorno bipolar
- Raiva;
- Ansiedade;
- Apatia;
- Angústia;
- Euforia;
- Descontentamento geral;
- Culpa;
- Perda de interesse e prazer em atividades;
- Tristeza;
- Mudanças súbitas de humor de acordo com o ciclo circadiano do humor: acordar sem energia e triste, mas ir melhorando ao longo do dia.
“No comportamento, o paciente bipolar pode experimentar também: agressividade, agitação, choro excessivo, hiperatividade, impulsividade, irritabilidade, autolesão. Já a cognição do paciente bipolar também pode ser afetada com: falta de concentração, pensamento e fala acelerados, lentidão em atividades e falsa imagem de superioridade”, lista o psiquiatra da SIG.
Depressão
Para o Dr. Ariel Lipman, a depressão, assim como outros transtornos psiquiátricos, tem origem multifatorial, e mais recentemente a Pandemia da Covid-19 contribuiu para um aumento de casos. “Sem dúvida, essa pandemia foi um dos fatores mais estressantes que as últimas gerações já vivenciaram”, explica ele.
Segundo o especialista,a doença é totalmente controlada, mas o paciente precisa procurar ajuda. “É importante saber exatamente a causa do problema para que o tratamento seja certeiro e eficaz”.
Tratamentos
“A melhor forma de entender o momento em que precisamos de tratamento é saber o quanto os sintomas afetam nossa vida. Se me incapacita de falar, me paralisa, afetando minha rotina, é um quadro patológico que requer tratamento. Se os sintomas trazem disfuncionalidade para minha vida, vale avaliação”, explica.
No caso do transtorno bipolar e da depressão, o uso de medicamentos pode ajudar muito o paciente. “Já para os que sofrem de transtorno de personalidade borderline, fármacos causam efeitos positivos, porém a psicoterapia é um tratamento mais eficaz e gera respostas melhores. Nos três tipos de transtornos, a associação do tratamento com medicamentos com sessões de psicoterapia colaboram para o controle do quadro e costumam trazer resultados positivos e qualidade de vida”, finaliza o especialista.